
há um mundo de vida espiritual anônima e encantadora, que zela pela habitação discreta das casas
e das cozinhas :: são manchas maternas e poderosas, de ar que purifica, que
dá sombra, produz frutos,
e anima grandes brincadeiras :: está na canela de um menino que joga bola :: é
uma atividade pictórica ::
de uma bica eterna, escorre uma água :: há o tempo de uma branquidão, de uma
láctea pintura ::
esse tempo é sério e faceiro :: usa óculos, aprumado pela leitura natural das ribeiras, dos
lençóis brancos
em varais infinitos, das gamelas de doce e da carne temperada :: um brasil agrário ::
nesse brAsil que nos aguarDa,
não há pressa :: ele permanece, desde o início da formação de nossa poesia
melhor e doce, cristalizada com as
primeiras plantações de açúcar :: aonde não há pressa, o amor é uma visão longa,
mineralizada, indestrutível ::
há um trem de ferro, que nos corrói, pelas torturas do comércio de escravos,
destilando a pureza, apurando as glÂndulas mamárias de nossa
inteligência :: os escravos aprimoram suas piruetas :: os selvagens indígenas aprimoram
seus cocares,
em que brandamente abrigam o espírito da floresta :: as leis corretas, as palmas, as
saias impuras
das moças brejeiras e beatas :: esse bRasil requer silênCio para ser escuTado ::
não é possível acessá-lo
se nossa paz perturba-se com inveja ou vaidade desmedida :: anda no mistério
das pisadas agrestes da
sociedade inteira, em bibocas ou furnas, e nas nas hortas das escolas, onde nos
amou pauLo freiRe ::
a cada dia, o vejo mais completo, e no que ele se deixa placidamente transfigurar
pelo comércio,
pela prostituição, pela mídia, beijando a todos, sem pedir nada de volTa :: é lírico
e amoroso ::
é maior expansão de um pensamento, um andor, uma andorinha ::