domingo, 10 de novembro de 2013

um coração puro bRasileiro



existe de fato um coração puro brasileiro, bondoso acima de todas as coisas, crescido nas agruras que fundam o ser essencial desse país ::

é um coração que se ergue, ou vegeta como erva daninha, crescendo sem que lhe permitam a presença :: um coração bom de menino, atualizando-se

na vida cotidiana das cidades, e gerando consolos, sossegos, anjo que aprendeu a ser mais rápido que o próprio demônio ((sempre solto, o demônio, no meio da rua, como

diz Guimarães roSa :: não acreditar nesse coração puro, inclusive, é fundamental para sua própria preservação ::

ele é como a própria presença negra ou indígena, que se esvaiu

do imaginário cotidiano, até se transformar em pura lenda, marcada pela ausência :: ele mora no esquecimento, e justamente aí se fortalece

enquanto mito :: carece de não existir para que exista mais firmemente :: é esse coração que gera todas as nossas visões de sociedade

normal, conjunto de corpos mestiçados que se moldam ao conjunto das pressões internacionais, e que veio a se transformar,

na atualidade, em um arremedo explícito dos americanos do norte :: é esse coração que se assemelha ao peito de uma prostituta,

pronto para receber toda a ferocidade das gentes obtusas, que somente se assessogam mediante raiva e rancor, e vingança ::

esse coração é mesmo um salto, e uma evolução do sentido de ser cRisto :: é a ressureição mesmo desse homem exageradamente humano,

que aqui se aperfeiçoou pela força de uma nova crucificação, incrustada na escravização do negro autônomo e do índio autônomo ::

esse coração aberto sou eu, acostumado às pedras do cais, das estradas, dos mercados, das ruas vazias e abandonadas :: ninguém imita jeSus sem

ser incompreendido, e é esse o motivo de nosso total equecimento em torno de nós mesmos :: o brAsil é um menino duplamente sacrificado,

uma união de dores, um jeito novo e adocicado de ser cristo :: uma forma real, nova e lendária de salvação >>


domingo, 3 de novembro de 2013

a visiTa de yAgo saleS



a metáfora do boi é de difícil compreensão para muita gente, e, por certo, misteriosa :: sou, assinando como artista, o "boi arteiro",

que na ritualização de um significado profundo de vida, persegue a felicidade ao lado de sua esposa, beatificada, "Dona Deusa" :::

sem querer, por vontade própria imediata, mas como resultado de uma vocação espiritual longínqua, somos a bondade que se personifica ::

não há como ser "Boi", Yago, sem repetir o pensamento do próprio Cristo, que guarda para si uma divinização esperada enquanto fim do medo de amar, em um verdadeiro poema épico de salvação humana ::

não há como ser o que vocÊ tanto busca sem a bondade agreste e  sertânica desses signos...

o trabalho no Terra Santa evolui na produção de um pai gentil, e de uma mãe benigna, acostumados já no processo da dor geral brasileira ::

como foi com Cora, de certo modo, é conosco :: há uma seriedaDe de menino eterno nisso tudo :: e uma dor benigna de mãe :: e um respiro suave de moça :: e uma evolução

Sílvia e eu agradecemos gentilmente sua visita e seu tempo dispensado a nós, sua coragem e sua labuta ::: aqui, o trabalho é de mover montanhas e de abrir o mar, e por isso se trata d

e um verdadeiro empreendimento da alma :: não existem grandes almas e, por consequência, grandes artistas, sem que uma coragem, como a tua, se manifeste ::

há uma porção de pinturas que, de certo modo, te anunciam :: obrigado pelo seu gesto de carinho ::  por você, talvez, ainda sem saber, pensar e perceber o mundo na posição exata,

colocando-se em gestos de humildade, como simplesmente lavar a louça e loucamente buscar a noção de um espaço de proteção, nessa laboriosa brasilidade

que, ao exigir muito, dos que amam o perigo da aventura do crescimento da alma, pinta sonhos de céu e de terra, a cada dia mais límpidos, para todos nós ::

abraços,
Marcus e Sílvia



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- ((texto amorosamente publicado por Yago no faCebook, após a visita, dia 28 out. 2013 ::


LOUCAS LOUÇAS - VISITA E TRABALHO NO TERRA SANTA 
Cinco da manhã, eu deveria ter chegado. E cheguei por volta das 10 horas. Logo coloquei uma toca branca e fui espremer laranja. Deu certo. Uma jarra loura. Uma manhã louca. Então, fui eu lá no Terra Santa. Ei, lavei louças, viu? La-ve-i a impaciência que me batia por dentro do peitoril magricela. Eta! É do sertão do cerne mesmo falar com o professor Doutor Marcus Minuzzi - é bom afirmar a "doutorice", pra dizer da simplicidade, é bom falar que o rei come no prato dos pobres. Olha: Sou de me encaixar. É que o professor Marcus Minuzzi e sua esposa - ah, como sabe coser - Silvia, não têm horas a receber visitas e falar tanto. Afinal, na rotina diária, cozinhar é o primordial. Entendo. Não resisti e fui lá ser auxiliar de cozinha no restaurante deles hoje mesmo. Entremeio a correria, falamos de alma, de existência, de arroz, de literatura, de clientela que come a melhor salada, de música popular. A vida se repete pra quem não quer se enveredar pela vida alheia, e a minha vida não se repete não. Pense só: Cada dia é pra ser alguma coisa palpável. Gosto de palpar. Depois de vender (mos) pratos e marmitex, eu eu o professor Marcus Minuzzi, olho com olho, fala mansa com fala de menino, discutimos motivos, resultados, vida, cultura, vida de novo, vida, Damasio, sociedade, amor, ih, amor é com ele e sua família. Era uma vez um professor que me deu a mão e falou: "A dor aí dentro vai acabar não". Ri por dentro. Já sabia. Um adotado mocinho de barba que cresce. Se leu até aqui, uma dica: Visite amigos, todos, lave louças, pegue na mão, diga que é bom tê-lo como amigo, diga mais: Olha, olha só o que sou: Um curioso de amizade. E sou. Sou.