domingo, 29 de março de 2015

))) mc brinquedo, criOlo e o ódio n())a discussão sobre cotas na usP ++






há uma irreverÊncia perdida no ar, uma força de esquerda que não consegue exprimir seus pensamentos,

porque sequer talvez ainda nem os possua efetivamente formulados :: quando a juventude, mesmo ingênua, foi às ruas em 68, aquilo

que se chama "caldo cultural" emprestava ares de inteligência e sofisticação a seu gesto de inconsequência,

à delicadeza da sua inocência de vidro, seu sonho fatalmente condenado a transformar-se em desilusão ::

do temor que causa um visível avanço do reacionarismo em solo brasileiro, tem anos já, o episódio
da discussão entre alunos sobre cotas raciais na usP me pareceu trazer à tona justamenTe, não a falta

de um sonho infantil, ligeiro e utópico como deve ser, mas o problema da sua falta enquanto
discurso e, principalmente gesto, efetivamente libertário ::

não fico indignado como o jovem "branco" acadÊmico da USP, "coxinha" :: fico, isso sim, é sem saber direito o que pensar sobre a qualidade reduzida

da intervenção contestatória dos jovens negros :: nesse episódio, ao contrário de 68, o "caldo cultural"
creio que acirra uma espécie de tensionamento estéril, violento e inútil :: "meça suas palavras, parça",

alfinetou certa hora uma das jovens negras :: o tempo de mc brinquedo, autor da expressão, que viralizou recentemente pela internet,

é o tempo infantil de uma legítima criança favelada no bRasil de 2015 :: o caso de mc brinquedo realmente nos representa, e demonstra

o espírito de nossa época, de uma internet que imita a estrutura favelada de muitos de nossos
lares e escolas, onde crescem, ou melhor, onde vegetam as crianças, em vaga esperança de um ócio

criativo mas indeciso e, infelizmente, até já indecoroso :: pela ótica de brinquedo, não se segura uma flor para se ofertar a uma garota, sendo

essa flor uma proposta sexual escondida e, portanto, sublimada por intermédio da simbolização,
da fala poética, como sempre acontece em qualquer intenção de música popular ou folclórica ::

quem conhece, sabe :: brinquedo oferece o próprio "peru" em seu repertório, sem metáfora
alguma :: simplesmente dispensou a poesia que cobre a inegável nudez humana, e isso, para mim,

pode

estar representando um sinal de alerta, para pais e educadores :: leva-se anos para forjar uma juventude culta,

para que a força inevitavelmente contestatória do jovem se torne bela, letrada e irreverente :: irreverÊncia

brinquedo tem de sobra - e isso é intensamente útil para a perspectiva revolucionária :: porém,
o morticínio de nossas crianças não é somente físico, mas, principalmente, intelectual, e vemos o

talento

desse jovem plantador de formas inusitadas, brincantes e corajosas ser perversamente desviado :: os jovens

dos anos 60, mesmo sem saber, eram resultado de uma cisão poética cometida na década anterior
pelos beatniks, que haviam implodido a felicidade vazia do lar consumista norte-americano ao se

entregarem

a um conturbado rito de recriação de suas próprias consciências :: no caso atual, o tempo livre, aquele
que deverá propiciar uma aura poética aos gestos de contestação da juventude, encontra-se, por assim
dizer, no vácuo ::
nada sopra em seus ouvidos que possa ajudar em sua marcha, o que certamente favorece o inimigo a

ser batido :: não há internet

que ajude, creio, depois da ruptura fundamental que a direita produziu ao soterrar a cultura brasileira,

tão lindamente formada com a ajuda da própria rede globo ao longo da década de 70 :: hoje somos um

país sem alma, e por isso nossos jovens de esquerda ficam sem palavras na hora do embate, carecem
de repertório :: que maldição é essa? :: foi a maldição da troca da cuca pelo goku, da troca do sítio

(do pica-pau amarelo)
pela xuxa :: em outras palavras, da extirpação - com consequências gravíssimas - da raiz folclórica

brasileira

do âmbito da cultura midiatizada, do âmbito da língua geral, que governa um sem mundo de relações
no cotidiano da nação :: "meça suas palavras, parça" :: isso a jovem contestadora ainda conseguiu
dizer,
e foi espirituoso, pois mc brinquedo não deixa de ser "muuuuuito boooom", a par de seu desgoverno

e alienação :: porém, mandar alguém calar a boca, como acaba
acontecendo, em determinado momento do vídeo que reporta o clima tenso lá na USP, está longe de

representar uma atitude de esquerda ::

gandhi, pai da contracultura a seu modo, pelo exemplo pacificista que inspirou o gesto hippie,

ficaria constrangido e talvez se recolhesse em jejum, como fez algumas vezes, depois de reconhecer

que não basta a vontade de querer mudar, pois mesmo essa santa e poderosa energia pode resultar em

imensas explosões de violência ::

glauber roCha ironizou sutilmente essa situação ao longo de toda sua carreiRa, transcendendo o aspecto meramente

messiânica das esquerdas que então lutavam contrA a ditaduRa :: precisamos de um pouco mais - e aí se

encontra todo o conteúdo da vida e obra glauberianas :: precisamos de uma seiVA profunda, aquelA mesma que os jovens norte-americanos

sugaram, À época da contracultura, pois conectaram-se com a vivacidade organizadora de seu país, localizada precisamente

junto ao templo de união das três raças que constituem a verdadeira américA :: jimi henDrix como emblemA

dessa localizaÇão produZiu as dÉcadas vindouRas de atituDe rebElde, e foi mágico, esperto, surpreendente ::

quando gandhi levantou-se contra o império britânico, fez o mesmo, no sentido de que cobriu-se do mito de sua terra e sua gente :: no atual momento, após o colapso

da cultura brasileira por força de um poder enbranquecedor que acentuou o cinismo de  tudo e de todos, o que pode

mudar o bRasil é a retomada de seu espírito caboclo, interpretado conforme as novas linguagens
da tecnologia :: umA retomaDa da favEla, via intençõEs artístiCas, promoVe o alcanCe inusiTado

de nossa penúriA, sua extensão como miTo, precisamente como agoRa consegue fazer o sambista
rapper criOlo :: na verdaDe, criolo já não comporTa rótulos :: sonhAndo com sua redenção como
represenTante

"maloqueiRo" da brAsilidade, cozinhou lentamenTe uma expressÃo noVa e inusiTada, dando prosseguimento

à dinastiA dos reis caetano e chico buarQue :: não se faz uma revolução sem beleZa e corduRa ::

a dor e a fúria incontidas da jovem negra que apareCe no vídeO, se bem trabalhAda ao pé de uma

cultura

bem desenvolVida, consegue extirpaR as tendências fundamentalisTas que também assolAm o
PT, o movimento negRo etc., pois a famosa "ilusão do podeR" não é priviléGio da diReita ::

"oremos",
reza criOUlo, em seu último disco (("convoque seu buda))), "pois iremos suar veneno" :: o inimigo

é o cão feroz dos reacionários do bRasil, mas também se insinua matreiro por nossos coraÇões ::
em últimos casos, como sempre ensinou a própria faveLa, e a condição geral dos escraVos irrestritos

do bRasil, mais vale morrEr canTando (eis toda a cordura do gestO ancestral negro, indígena e
cristão) do que entreguar-sE ao ódio que, de tão sutilmentE contagioso, perverte e confunde toda a cidAde ::





sábado, 28 de março de 2015

clarA




lentamente
a escuridão se desfaz
ao redor dela e,
aprendendo
o rumor de cada um na casa,
germina com
felicidade, graça e fantasia ::
pode ser
que sonhemos todos
por uma vida que não será
a tua, enquanto
cada um te pega no colo ::
pode ser
que cada minuto
passado
nesse novo planeta
te desafie
 ::
pode ser que agrades,
ou que incomodes,
menos a uns, mais aos outros ::
mas, anna clara,
minha neta -
amamos todos juntos
esse teu sincero amanhecer ::

terça-feira, 24 de março de 2015

uM

sempre há uma máscara, oculta, nascida de deNtro, a nos inserir na realiDade :: meus ardores
mai

s violentos, como os de um anjo anunciador de novidades, é no sal que se projetam, inscrevendo o real sonho de um pacífico

 incentivador da sagacidade, um benfazejo rei hom
érico, pleno de incêndios, que excitam e exercem 
a governabilidade do reto
rno ao passado mítico :: há asas em meu sonho :: eu sou hoje esse pai, qual filho, fiando

e ex
ercendo a soberana escolha pelo amor :: eu sou a sanha do pássaro, o casamento, o cavador
ritmado :: livre, leve, profundo :: eu sou um beijo, bem encostado, que aflorou pela força atômica
++++  ((
de repúdio ao infinito gesto de amor :: nessa másca((ra, me mascaro, profundo :: porque a tenho
a pleno, é que voejo, e, por voejar, amplio minha face limpa, soterrada pelas entranhas do 

esquecimen&&to
de mim mesmo, no mundo :: estou engajado
 :: estou bem socialista :: estou míti@@co, escravo, com tudo
e todos ao meu redo
r, eles em seus plenos poderes, me agredindo :: sou bem humano, eu sou um
pássaro, e calço all star :: esquartejado, na inteireza do am@or mundano :: evadido, por pior que seja
o exercício 
eterno da solidão :: implícito, em todos os homens vagos, sem clareza de si, que querem                                                                                                                                                                                                   
ser igual a mim :: estou ardendo, qual vagina :: estou calmo, marinheiro manso, escrito na pele
com                                                                             
 espinhos e o suor das tartarugas :: chocando ovos, explícito, com calma,                                         enquanto escrevo ::                                                  
pelado, enquanto penso :: entronizado, com o suor da cabra e do antílope, v                          eloz, quadrado, mediano,
imbatível, domado em um rito pleno de carinho, humor, gentileza e ferocidade ::


++++            +++
((((((((((((((((((9::dE trIunfu'Sd i t i r a m b u s