quinta-feira, 3 de julho de 2025

LIVRO DE DITIRAMBUS

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amar nunca é perfeito :: de nosso peito sofrido, pela falta do amor, sobem umas emanações que nos
permitem um ser em estado fluídico, ou gasoso :: são nossos fantasmas, e a leveza da morte que os
espalha, como sal, torna o céu da cidade a abóboda de uma catedral celeste :: amar nunca é leve :: para amar
de verdade, livrando-se dos espojos da morte, é precisa aceitar o estar doente, sem carinho :: cuido
sozinho de um livro guardado só meu, um livro de cavaleiros, que, somados, seriam capazes de revelar
o escondido :: eu rezo sozinho e guardo, todos os dias, uma espécie de roca que fia uma peneira com as ramas
da palmeira :: ela me tece, essa roca, e vou ficando cheio de meandros :: eu desço a rua infinita, ladeira íngrime,
e os choferes de táxi que nela deslizam vão me entremeando de suas passagens :: duas para a morte,
e um palito para espalitar os dentes :: revelam o quanto somos pedágio, alguém que cobra um preço ::
a passagem de uma cobra :: ninguém cruza por minha alma, e aqui está o meu cruzeiro de revelações, algo bem encravado e justo ::
a minha língua arranca elogios e não cuspo, jamais :: no meu cruzeiro para a morte, algumas vozes
imitam janis joplin :: outras, jimi hendrix :: no meu crucifixo pregado ao vento, um berimbau :: e assim
eu me entreteço, refazendo linhas ocultas, interrompidas, buscando ao céu qualquer migalha de pão,
num toque que me leve por esse oceano atlântico das nove :: na casa, a comida :: no chão, a telenovela ::
no mictório, um padrão :: nos fundos, o mato cresce :: no escritório, um deleite :: na copa de um sutiã,
uma viração, um fantasma, um lobisomem :: lá vai o marcos, escrevendo que nem homem, entrave
homérico da situação, damas para minha morte, um tempo mágico do que eu significo, e o verso bíblico
a balançar, como em uma esteira de circo, como uma onda no mar, que a brisa do brasil beija e cura
pela dança :: sou um estandarte, sou um paladar, sou um jantar servido com requinte :: estou no marco zero, sobre o tombadilho, e os espaços,
antes tensos, ficaram calmos :: estou na música urbana de meus filhos e de seus olhos prazenteiros :: estou bem quieto
e longínquo, estou agachado e sonho um despacho, que me leva, com velas amarelas e olhos brancos,
dois charutos, um torcida grande no bater de palmas que aliviam, uma torsão provocada pelo toque
inquieto do berimbau, balas de coco :: estou amarrado e vim com o troco :: vinte e cinco centavos,
sete moedas de cada lado, pela volta de minha profissão, jornalisTa :: na rua segregada e íntima do asfalto,
recebo todos os tiros do morro :: eu sou o cara amigo, a cara da amizadE :: pode deixar que eu te liGo,
e eu vou te reveLar todos os segRedos da danÇa brasiLeira, o moDo de amarrAr com deDos de bruxA
a bronCa do sapo :: e te demonstrar outroS quitutes e queTais, da noVa, e baiAna e gaúcha, e prazenteiRa choça ::


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fugi do controle dos grandes autores, para agora reencontrá-los, no plano da suavização do meu desejo,

o desejo de um cavalo de hérculEs, pleno de músculos e potente :: a rua encantada me levou,

eu poderia dizer, ou a loucura, ela mesma, ingrata, maldita e rival do plano de abstinência, rígido

auto-controle, que a sociedade exige :: não tenho uma noção de loucura, fixa, ou hermética :: tenho

o meu ser em estado enlouquecente, na medida em que desço a lombada infinita, fascinado com seus

pequenos ladrilhos que me dão o status único, de ser mitológico, acolhido por todas as visões

do mundo :: meu dEus, tenho orgulho de não ter lido uma única página completa desses autores

grandões - freuD, foucault, nietzsche etc. :: são cavalos perfeitos, e puxaram e puxam a humanidade ::

eis a sina do ociDente :: e eu, repleto de desejos púrpura pela sabedoria sagrada, me ordeno

agora pároco do acidente desumano que insufla em mim uma visão completa do regimento sobrehumano

e alegórico presente no mito :: estou padre e pároco, virei santo, e como bem, e vivo o vinho,

na eternidade daqueles que fiam o tecido inteiro da sociedade, do brinquedo inteiro em que nos vamos

transformando, como reflexo das ondas de desejo daqueles que nos pensam :: eu não existo

em um único banco acadêmico, ou em qualquer congresso-livraria-banco de ideias :: eu levanto

a bunda da cadeira e perco o emprego e formulo a ideia, bem brasileiro :: e com bastante fome de bola ::

e vou driblando e definindo em meu olho a cor dos infinitos ladrilhos, que são o crescente medo

e o estado de poesia pura, e troco tudo o que os pequenos professores e ladrões de ideias alheias gostam, por essa adrenalina viosionária, essa vertigem, essa vidência,

apenas intimamente recalcada, para que eu não mais enlouqueça :: eu tomei posse de um sangue

homérico, e minha sorte já está toda bem delineada por aqueles que me projetaram nesse desalinho

anti-consumista, anti-moralismo, anti-hipocrisia :: eu cresci e meus olhos gordos de paciência

e poesia vão engordurar o recalque, transformá-lo em beijos e abraços, em satisfação pura, bem na

cara da torcida


++++ de 2016


quarta-feira, 2 de julho de 2025

a vida no trabalho é cheia de janelas, portas, para as quais podemos nos virar de costas :: no entanto, elas nos

convidam, e se aceitamos seu convite, nos juntamos a uma atividade mais reflexiva ::  são passagens para o

pensar sobre o que estamos fazendo, a opinião - vejam só - de um espírito benfazejo a querer nos trazer uma novidade,

uma benfeitoria :: são anjos culturais, convidando ao problema, à transformação, à mudança de

rumo :: não raramente, ao sofrimento da recriação :: pensar relaciona-se, por isso, a criar e recriar a vida :: porque, muitas vezes, estamos mortos, e não sabemos ::

nosso curso de vida em sociedade eternamente e, portanto, normalmente, de maneira contínua

e cotidiana, é permeado por tais portas e janelas que, se nos confundem de início, a cada dia podem

ir se tornando avisos claros sobre a insuficiência daquilo que estamos sendo e fazendo :: parei de praticar

o jornalismo para pensar sobre :: abri uma janela para o ar novo penetrar, através do ofício do cientista social ::

me detive, no entanto, na forma como a ciência é praticada :: parei novamente, abri nova janela ::

nada, efetivamente, é tão arriscado atualmente quanto parar a nave da ciência, pois corresponde

ao mesmo que parar o planeta :: assim como, 500 anos atrás, era arriscado pedir uma pausa para a reflexão

em torno dos mitos religiosos que nos governavam enquanto humanidade do oCidente :: vamos compor

agora sonatas, ou poemas, ilustrações novas para uma bailarina, leve, reflexiva, pungente, que precisa

nos guiar :: estou atado a sua coleção de novidades, a seu colar de contas ::