existe de fato um coração puro brasileiro, bondoso acima de todas as coisas, crescido nas agruras que fundam o ser essencial desse país ::
é um coração que se ergue, ou vegeta como erva daninha, crescendo sem que lhe permitam a presença :: um coração bom de menino, atualizando-se
na vida cotidiana das cidades, e gerando consolos, sossegos, anjo que aprendeu a ser mais rápido que o próprio demônio ((sempre solto, o demônio, no meio da rua, como
diz Guimarães roSa :: não acreditar nesse coração puro, inclusive, é fundamental para sua própria preservação ::
ele é como a própria presença negra ou indígena, que se esvaiu
do imaginário cotidiano, até se transformar em pura lenda, marcada pela ausência :: ele mora no esquecimento, e justamente aí se fortalece
enquanto mito :: carece de não existir para que exista mais firmemente :: é esse coração que gera todas as nossas visões de sociedade
normal, conjunto de corpos mestiçados que se moldam ao conjunto das pressões internacionais, e que veio a se transformar,
na atualidade, em um arremedo explícito dos americanos do norte :: é esse coração que se assemelha ao peito de uma prostituta,
pronto para receber toda a ferocidade das gentes obtusas, que somente se assessogam mediante raiva e rancor, e vingança ::
esse coração é mesmo um salto, e uma evolução do sentido de ser cRisto :: é a ressureição mesmo desse homem exageradamente humano,
que aqui se aperfeiçoou pela força de uma nova crucificação, incrustada na escravização do negro autônomo e do índio autônomo ::
esse coração aberto sou eu, acostumado às pedras do cais, das estradas, dos mercados, das ruas vazias e abandonadas :: ninguém imita jeSus sem
ser incompreendido, e é esse o motivo de nosso total equecimento em torno de nós mesmos :: o brAsil é um menino duplamente sacrificado,
uma união de dores, um jeito novo e adocicado de ser cristo :: uma forma real, nova e lendária de salvação >>
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