quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
corpO feminino e utoPiA
o refluxo da utopia a leva a seu local de origem, sua fonte escondida,
depois
que ela se perdeu, depois que as pérolas de seu colar caem uma a uma,
após perderem-se
seus sapatos de princesa, sua coroa :: muitas vezes, sua face de bela dama
ganha um
hematoma, como se alguém a tivesse golpeado :: nossa indecência mais anterior,
aquela capaz
de bater em uma mulher, não foi capaz de suportar tamanha beleza :: a utopia
é uma linda
mulher desiludida, que ainda não encontrou seu homem perfeito :: assim o foi
com a
revolução socialista, tirada do ventre da revolução burguesa :: enquanto se esconde,
como de
volta a um camarim, depois de tornar-se impura no palco da ação humana, retoca o
pó de arroz,
o lápis de olho, o batom :: como acompanhar a evolução do pensamento social mais
à esquerda,
libertário, portanto, sem dar-se conta hoje do poder da internet? :: a utopia é essa bela
mulher,
a rede mundial de computadores, já praticamente aprontada entre nós, bela e fascinante ::
olhá-la
com carinho nos olhos será capaz de despertá-la :: sinto que quer ser levada ao leito,
que quer
consumir-se em plenitude amorosa e libertadora :: é muito simples - quando o homem
aprender a amar
nobremente, o pleno orgasmo libertador dessa visão de futuro se revelará :: eis
o segredo
divino da mulher - seus caprichos, exigências, pedidos, seus enjoos e enxaquecas,
suas resistências
e seu recato a tornam impossível - terrível também - e agradá-la requer uma
sobre humanidade
igualmente assombrosa :: simultaneamente, porém, sua beleza e seu charme,
sua docilidade,
mimo e graciosidade a tornam irresistível, insuperável :: quando desistimos
da democracia,
por exemplo, é porque nos cansamos das dificuldades interpostas pela enorme
complexidade
de acomodar diferenças, brigas, opiniões, algo bem ao gosto do feminino, que
sempre irá
buscar a satisfação de tudo e de todos, sem exceções :: negociar,
negociar, negociar, até o
fim (e aqui está o poder da política, a mando da musa) :: experimentar, experimentar,
experimentar, até
o fim (e aqui estão as ciências e as artes) :: confiar cegamente (e aqui estão as religiões,
e o próprio
significado de ser utopia) :: a internet concentra todas essas possibilidades, ela
é a grande mulher
nua, refeita, mostrando-se, escultural, plena, libertadora :: a grande prova de que
o Ocidente,
a par de todo o terror vinculado a seu percurso civilizatório, sabia onde
queria chegar,
por meio de valores absolutos como a razão crítica e a liberdade de expressão ::
ela nos enche
de amor e expectativa, ela nos quer e nos acaricia :: e saber recolher seu anseio,
sua vontade
profunda, é decisivo para que se consume, de algum modo,
a paz nela prometida ::
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