quinta-feira, 12 de junho de 2014

++ dois textos sobre a copa ((primeiro




as copas do mundo são como o possível efeito de uma invasão extraterrestre,
a chegada dos marcianos

à terra, ou algo assim, conforme uma imaginação que nunca nos abandonou ((
seriam os deuses,

astronautas? :: a imaginação futebolística atual desenha nossos ídolos como
verdadeiras figuras

míticas, guerreiros que sinuosamente furam a defesa inimiga :: nossos heróis
épicos, como foram

aquiles, ou uLisses, na tradição européia :: o brAsil brinca ainda mais com
essA possibilidade,

gerando, a partiR de garrinCha, mais especificamente, a docilidade do
desconcerto driblador ::

pequenas sinuosidades na condução do passo confundem completamente o
adversário :: as matreirices

de garrinchA nitidamente evocam o saber indígena-africano ((caboclo, para
dizer em uma só palavra))

tão fortemente ritualizado na arte da capoeiRa :: dizendo de outra forma - nossa
suprema malandragem

está em vencer sem destruir, o que em nada se relaciona com
corrupção :: mas o bRasil é mesmo um

enigma, e sua suprema realização como pátria da boLa - ainda o é - repercute
todo um imenso acúmulo

de conhecimento mundial em busca da paz :: as funções da bola são
as mesmas das antigas correrias

e invasões, de quando a cobiça sobre as posses do inimigo não se continha, e se
praticava com maiores limites a luta,

a guerra, a discórdia, a pilhagem, a escravização :: ainda somos os velhos
homens humanos, precisando acertar contas em torno

dos modos de produzir beleza e satisfação no dia-a-dia, cada nação para
seu povo - e por isso a guerra :: no mais íntimo

de todo esse imaginário, está a conquista dos olhares femininos, pomo maior
da discórdia entre

os próprios deuses, como narram as lendas de hOMero :: vamos roubar heLena,
querem dizer os

soldados (minto, os jogadores), quando adentram a área adversária :: o pavor
de nossa masculinidade,

hoje, no bRasil, é o bretão (fantasiado de portuguÊs) cristiAno ronAldo :: seu charme
e sua inteligência

futebolística são capazes de conduzir nossos garotos à imitação do grande guerreiRo ::
por isso, nessa

forma pacifista de se manter o ardor das conquistas, é o bRasil que se destaca,
país cordial e bonito

por artes da produção cabocla, ou, diga-se, miscigenada :: mulheres gostam da inocência
infantil

de meninos, porque sabem que encontram ali a garantia de uma boa guerra :: sabem
que, no decorrer

das batalhas, seus homens apenas terão cumprido a missão de marcar a
diferença, a dignidade e a honra, em nome dos valores

imperiais de nossa terra, sem desmontar a casa do adversário, queimar suas
plantações, envenenar

seus depósitos de água e, especialmente ((eis, novamente, o pomo da
discórdia), sem encantarem-se

pelas mulheres estrangeiras :: ou melhor, sabem que esse encantamento será inevitável ::
mas, enquanto esperam

pela volta de seus soldados, tramam mil feitiços para recuperá-los enquanto inocentes,
como se fossem lindos

e mimados bebezinhos, as crianças puras e delicadas, que na verdade são, de volta
ao colo de suas

amadas e mães :: todo o horror e a beleza dessas emanações míticas, que crescem
como vegetação,

espalhando culturas e nacionalidades, a partir do coração do mundo oCidental, bíblico
e homérico,

nos obriga a confraternizar, a carnavalizar





:: é a eUropa perseguindo seu curso civilizador, impondo

suas matrizes ao mundo, porém já de modo amistoso, dionisíaco, como também no
caso do cinema hollywoodiano, ou da cultura pop ::

hoje, quando iniciarem-se os festejos da maior folia mundial que a humanidade já
foi capaz de produzir, em uníssono, tudo isso estará querendo

dizer que os ecos do antigo mito do ocidente se ampliam e encontram sua
linguagem contemporânea ::

por isso, o futebol é na atualidade a língua comum da humanidade, um exemplo, um
espetáculo sobre

como forjar a comunicação das diferenças, da maneira mais popular possível ::  é uma
pílula contra

o nazismo e outras possibilidades totalitárias ::  e, dentro dissO, deve-se sempre
salientar, o bRasil é mestre ::

que vença o futebol mais menino, em nome da paz universal :: nem buda nem jesus
a trouxeram ::

nem maomé, nem os ícones anímicos guerreiros das nações xamânicas espalhadas
pelo planeta inteiro

(aborígenes negros, indígenas etc.) :: quem a traz é um campo de disputas, em torno
do qual se multiplicam

sonhos de amor, beleza e amizade ((de rivalidade amiga, como se poderia dizer)) ::
é, no íntimo,

um amor sagrado da mãe por suas crianças indefesas frente aos múltiplos perigos da
vida :: quero

crer que a metáfora da invasão alienígena - único fato hipoteticamente capaz de captar
a atenção mundial irrestrita - é inteiramente

válida como metáfora para a audiência conquistada pelo campeonato mundial de
futebol, viabilizada especialmente por

meio da tecnologia de comunicação, cada vez mais incrivelmente integradora de
todas as sensibilidades humanas ::

no caso da coPa, todas as cultuRas querem saber de quem será a fama da vitória,
todos querem conquistar essa

vitóriA :: lembremo-nos  da nova alegria que o futebol nos proporciona, mesmo
que seja a de uma paz efêmera, mesmo

que seja em meio a tantas cruezas do cotidiano mundo globalizado :: essa alegria é
desproporcional aos nossos problemas ::

a vida real do mundo capitalista, nesse início de século, nos diz que caminhamos
para uma catástrofe ecológica planetária ::

as chances de novas disputas territoriais se acentuam :: e o ser humano é uma máquina
de odiar e matar, caso não tenha

suas necessidades essenciais bem atendidas :: em razão disso mesmo, venho me
perguntando seguidamente

que energia é essa, a do futebol, que a todos conquista :: ora, é o sonho da bola e
da vitória inocente,

em nome de uma ternura feminina eternamente buscada :: e essa lenda vem de uma
outra dimensão, vem do imaginário coletivo, que coexiste

com a realidade como se fosse uma estrela ou um satélite em relação à terra
(um sol e uma lua),

nos iluminando, aquecendo ou orientando de longe, exercendo misteriosas funções em
torno de nossa

navegação infinita no espaço :: sinto que, com a coPa, todos os mitos da pacificação
nos acompanham e

nos iludem :: as luzes se acendem, prometendo vida nova :: repito - são os velhos
homens humanos

:: é todo nosso inconsciente coletivo produzindo o artifício vital da renovação da
esperança :: é uma chegada,

uma natividade, um advento :: nessas horas, ser brasileiro é sentir que, a par de
todos os nossos problemas,

puxamos o carro da energia mítica que entrega o mundo mais sincero e inocente
a si mesmo, e, paradoxalmente,

mais adulto :: acreditar que uma aparente bobagem como o futebol pode salvar
o homem de si próprio,

produzindo o triunfo do bem sobre o mal, é ser como nietzsche sonhou, é estar
por um fio, sem falsas ilusões,

respondendo com arte, e sobretudo com arte, aos desafios da existência :: nisso,
o brAsil é o campeão

dos campeões ::  e, pode-se dizer, com o mesmo senso de imaginação e aventura
espiritual, que seguramente somos

vencedores mundiais - que sem sombra de dúvida lideramos a humanidadE ::





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