seja coletiv
o :: por que uma cidade me enternece tanto? :: será a ameaça de um futuro incerto, para todos, que
nos condena? :: talvez o que mais produza a massa de
uma cidade, a "cola" que une uns aos outros em uma mesma
face, seja o estrondo subterrâneo de uma bomba, a explodir em holo
causto, ou uma espécie de morticínio camuflado,
mas já programado, que nos coloca em estado de poesia :: venho tentando compreender o fascínio que exerce
sobre mim porto aleGre, a cidade em que nasci, onde agoRa me encontro, revendo filmes, ouvindo músicas, ao andar
pelas ruas da cidade :: ++++ e a pergunta me inquieta :: aqui estamos, e há uma audição secreta, que nos exprime, e nos
lembra de nós ))))) mesmos :: essas vozes secretas mantêm o culto de nossas próprias inquietações, formatando um dia
a dia mais alegre :: estou quebrado ao meio pelos ruídos da cidade :: estou confuso e soterrado - e aqui no íntimo
mais profundo de uma ++++++ genialidade curadora e potente, procuro rever meus ícones pela cultura :: talvez o que mais me
enterneça pela cidade venha sendo o fato cotidiano da explosão de cores, em múltiplas explosões de incertezas
que se transformam em arte ::
))))))))))
+++++++++++++
os atabaques dos "saravás" e "batuques", que aqui afirmam o doce de uma identidade
republicana e, portanto, sem preconceitos :: fico espantado com o quanto os mesmos fatos dos principais centros
da antiga escravidão africana no bRasil aqui se repetem ((então, quando dizemos que negro é o nordeste, a bahia, o rio
de janeiro, não há clareza nisso :: fico espantadO com o nosSo destino de estado fielmente trágico e atado aos destinos trágicos da nação,
como pátria escrava e submissa, e com isso termos produzido elis regina e getúlio vargas :: fico espantado
com o desassossego genial de nossa juventude, com seus pensa++mentos altivos e irreverentes, e todo nosso
socialismo :: fico espantado com tudo isso como alguém que (()) se espanta com o estaDo de choque que é
necessário para que a face
+++++++++++++++++++ poética que cubra nossas feridas cruas se produza :: estou sentado e pensando ::
estou preocupado, como se mil cadáveres, ex-incendiários transformados em imortais, agora quisessem me seduzir
e arrastar para o seu lado puro e eterno da revela
(((()))) +++
ção da cidade a ela mesma :: mil cadáveres que velam porto alegre,
porque aqui estão seus parentes mortos e seus descendentes, pais de bibianas e capitães rodrigos, eternos como
erico veríssimo :: somos a perfeição do nexo imperfeito, e enquanto
os dramas familiares se desenvolvem, o ritmo não se dissolve, pelo contrário, se adensa :: se quintana lamentou
que não poderia percorrer todas as ruas da cidade, para acariciá-las com o olhar de sua poesia, devo declarar
que a dor que sinto infinita vem da impossibilidade de abençoar, como se fosse um dioniso em sacrifício, abençoar cada rito, cada sinal
de enamoramento e recato que faz amar e arder em chamas de desejo a cidade - tamanho o apelo de paz, tamanho
o tempo infinito de pulsões coletivas que nos puxam para o desatino :: a ardência mesma dos CTGs, que em uma cidade
deu "bons casamentos",
no encantamento próprio e profundamente, perfumadamente genital, de nossas "danças
decentes" :: o próprio pacto de sangue entre favelados e presidiários, o quíntuplo assassinato da população resignada,
os traficantes do pó, os trombadinhas do crack, a sofrerem, pelo inter e o grêmiO :: nossos meninos de assalto,
e o santo sinal das bênçãos dos despachos, por esses filhos, nas beiradas dessa ponta da lagoa dos patos :: sinto que são mil olhos que velam
pela cidade, qual mil velas acesas, cada uma representando um desejo obscuro de civilização, proveniente de mantras
secretos, entoados pelo acúmulo das almas em aprendizado e comunhão universal :: é como se comêssemos farinha
pela mão generosa de uma mago surpreendente, que nos surpreende por não compreendermos como são seus
mitos, que são forças entoando artes, mil engenharias :: estou enganado como fausto foi por mefisto, estou aqui
onde os andinos ardores se encontram aprumados por mil correntes, onde a cabalística coloca doentes no pronto-socorro, hpS,
e faz os assaltos percorrem o sistema andrajoso da cidade, atemorizando os choferes de táxi :: estou apenado e sentindo,
estou perfeitamente em contanto com o humano mundo das dores coletivas, e em como elas se transmutam em mil
sinais plenos de fantasia, seja no samba, no pagode, na comida, na igreja dos caminhos que levam à galeria do rosário ::
estou forte como o peão bruto que ergueu toda a área do porto, com seu muque, o peão do bruto escravo :: estou corrompido
como quem sofreu toda a carregação dos estoques, como quem limpou, varreu e lavou o açougue, a cozinha,
e sem embebeu do óleo brando dos pensamentos untados por iemanjá nossa senhora da liturgia do charque e do ardor
bem negro que se esconde pela cidade :: estou comendo o que sobrou, escondido e rezando pela etnização da folia,
pelo tempo outro dos caminhos, o ouro bem junto depositado na escadaria entre a duque e a andré da rocha ::
estou perfilado :: estou com o cabelo internamente cortado, como os malucos pós-hippies neopunks da bizarrice
sonhada urbana que aflora :: estou depositado e contrito, com os pés das mãos cortados e disparando ritos de aglutinação
benfazeja, como faz o bará rei do mercado, sem que absolutamente ninguém se dê por conta disso ::
e aquela que pensa
nossa candura, e a obviedade de nossa violência, esgota-se como um pano de chão, ressurgindo a cada dia mais bonita,
quanto mais contrita em sua doação, na triste sina das mulheres deste chão de duros soldados batalhadores, revelando-se
sobretudo no intento de nossos maiores cantadores :: sendo seu ímpeto selvagem e seu mistério insondável o responsável
mítico por nossa beleza e vaidade tão impressionantes, a beira desse regato, que é o guaíba ::
É surpreendente a transformação que se opera no caráter de um indivíduo quando nele irrompem as forças coletivas. Um homem afável pode tornar-se um louco varrido ou uma fera selvagem. Temos a propensão de inculpar as circunstâncias externas, mas nada poderia explodir em nós que já não existisse de antemão. Na realidade, vivemos sempre como que em cima de um vulcão, e a humanidade não dispõe de recursos" preventivos contra uma possível erupção que aniquilaria todas as pessoas a seu alcance.
https://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2019/04/Psicologia-e-religi%C3%A3o.pdf
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