domingo, 7 de maio de 2017

++ sobre a final do gauchão



a vinculação da alegria possível, que podemos obter, em meio a tantas dificuldades, a vinculação dessa
alegria a uma vitória no futebol pode parecer algo fútil, ou pelo menos estranho :: mas nada soa mais
bonito, creio, do que essa possibilidade, dado seu valor de desprendimento :: pergunto, e sempre tornarei
a perguntar, se não é produtivo relaxar em nome do momento explosivo da conquista, a conquista
suada e tão almejada, porque desafiante :: no caso de uma vitória do inter, o feito do heptcampeonato
sobre o grêmio :: em meio a tantas frustrações gritantes da vida cotidiana, e que não dizem só respeito
aos fatos políticos e organizacionais da nação, mas também aos problemas mais profundamente
humanos, do amor e do desamor, não será essa febre coletiva, mesmo que efêmera, uma relação
interessante com nossa capacidade de sonhar e de, por conseqüência, imaginar um cotidiano menos pedregoso? ::
o que me chama a atenção no futebol (e olhem que não sou fã empedernido desse tipo de entretenimento,
assim como não sou torcedor do internacional) é sua incrível capacidade de redenção, repito, mesmo
que efêmera, para um tempo social sempre intrincadamente difícil :: que deus salve o futebol, por
ele mentir tão delicadamente a respeito de nossas vidas, por sussurrar em nossos ouvidos, com muita
sutileza, sobre o quanto de fato podemos ser felizes, nessa tempo e nesse espaço, em meio às pessoas
que nos fazem companhia :: felizes no contato, na disputa, na pequena discórdia, no lance de gol, no imprevisto,
no malabarismo, na brincadeira astuta ou maravilhosa :: de resto, como gremista que sou, espero
realmente que o Novo Hamburgo ganhe (kkkkk), e desejo uma grande final de campeonato a todos, nesse momento
em que a celebração da identidade sul-riograndense atinge um de seus ápices mais interessantes
e desapegado de suas severas tradições sobre quanto o gaúcho deve ser “macho”, ou, diga-se, brutalmente
capaz de sobreviver ao infinito das guerras que separam os territórios e definem as fronteiras :: se menosprezamos
tais significados, se nos entediamos com a repetição dos fatos, dos rituais e das tradições, realmente
algo se perde, e a vida se torna mais difícil :: devemos deixar, portanto, que nosso senso de coletividade
governe, por mais “ridículos” ou aparentemente desprovidos de sentido que sejam determinados elementos
da cultura em que nos encontramos inseridos :: uma vida à cultura serve, em toda a complexidade que
a cultura encerra, para que a cultura então possa nos brindar individualmente com seus múltiplos benefícios ::

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