sempre
pretendi falar a língua dos pássaros e, agora que a atinjo, é natural que quase
ninguém
me entenda,
pois, entre vós, são poucos os que realmente alçam voos com uma certa
clarividência
:: bato palmas e os mil pássaros escondidos
afloram, e falo todas as línguas, murmuro o mugido de mil
máscaras e
de mil monstros :: pego dois, um de cada lado, e vou, tecendo relações :: dois
amores,
duas
máscaras, dois sorrisos :: e tenho, por conta dessa costura, dessa suave dança,
a sensualidade calorosa de um verso ::
a variedade
das formas explicitada por um recital, dois desenhos, uma pajelança, múltiplas
melodias, várias excitações
de rua :: clamores da terra se agitam, e
aquela audição chamuscada de quem se benzeu na fogueira
das bruxas
se apruma, em relação a tudo que comunica e faz sentido :: tenho os mil fogos,
que olham,
do pavão, e
a natureza do gato :: estou bem postado e antigo, por força daquela risada
tenebrosa
e
envaidecida das loucas bruxas :: por isso, é natural que não me sigam, pois sou
muito ligeiro,
e alto
:: antes, chego a achar normal que me
persigam, ou coloquem-se com indiferença, na observação
do que sou
e faço :: nunca sou igual a ninguém :: nunca sou arremedo, nem de mim mesmo ::
apenas
sou
tranquilo, e faço :: uma estranha chama que não se paga, pois não teM pavio,
com diz milton nascimento ::
sou como um
som distante, profundo e vago :: buu, eu falo ao fantasma da rejeição, e ele
corre assustado,
pois é como
cada um de nós, inocente como um bebê, vocacionado ao desespero do beijo, ou do
contato,
com a
ferocidade do conviver humano :: sou como uma monção, ou um calor humano, pleno
de
explosões
ou afagos :: bem bom, eu penso, é o calor das manadas, pois que somos como os
mais fervorosos dos mamíferos, sempre acolhendo-se mutuamente,
apesar de
todo o desespero dos chifres, espinhas e cascos, e seu despreparo :: nos
comunicamos com a frieza dos répteis,
e eu me
desloco :: eu coloco a cabeça para cima e afora da manada, e não digo nada dos
caretas, somente esquento a aspersão de um leite bom, para
todos os
lados :: eu sou quanTas coisas deUs quiser, e por isso, não me calo :: eu estou
agachado
para
imaginar futuros, e por isso, e os invento, no tic-tac, no ritmo pulsante de
uma internet implícita que
sempre
houve, concentrando todo o interesse coletivo :: eu conheço tanta gente que não
escreve
nada, e se
diz consciente de tudo >> eu conto com todo o sacrifício que um único ser
humano é
capaz de
contar, e faço todas as artes da capoeira, sou um capoeirista, ritmado, do
pensamento, escritor
no alto,
que revela a força anímica ::
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