terça-feira, 26 de junho de 2018

regiÃo





nada identifica mais o indivíduo do que a sua comunidade ou região (seja virtual ou territorial) :: nada,

portanto, nos deixa melhor localizados na vida, no mundo, na existência, do que a certeza dessas ambições,

e o destronar, portanto, de uma cultura única hegemônica que pretenda abarcar tudo :: nesse caso, o que vale é a destreza de um denso

aconchego às coisas da “terra”, em seus mínimos detalhes :: falo isso enquanto folheio páginas e mais
páginas



de informações sobre o rio grande do sul em seus múltiplos aspectos :: que triste quando nos afastamos 

disso, o nosso solo, sobre o qual, desde a mais tenra idade, sentimos chover uma miríade
de lamentações  e porções

de gozo ou prazer em prol da serpente :: 

tudo se acumula sobre o chão local, partilhado como carne, perfume ou pão :: sua memória constitui o livro

 divino de almas que beijam-se em busca de sossego :: almas que continuam nos
escrevendo, 

ao exigirem respostas para suas ultra penosas ambições :: penso na rede globo ao refletir 
sobre tais coisas fora de cena :: se tivéssemos uma rede

globo que ainda nos escrevesse, como foi na década de 70, tudo hoje talvez fosse diferente no país ::
e se o 

capitalismo permanece, com sua força de homogeneização cultural, como resgatar e alimentar o vínculo

 uterino, o interesse pelo orgânico e local? :: como lamento e choro perante esse precipício :: como sinto

a dor dessa terrível dificuldade, a nos separar de uma forma mais livre e alegre de sobreviver em meio

aos agouros da global civilização ::    

domingo, 24 de junho de 2018

neymar e o machismo na favela




neymar encarna talvez uma cultura extremamente machista, de negação completa do feminino ::
isso provavelmente por ser de uma geração ferozmente criada pelo desmando de uma cultura que 

torna a mulher
objeto, através de suas diversões musicais sexistas, como no caso do funk :: o bRasil que neymar tenta

evocar em seus dribles impressionáveis acabou-se ali pela década de 70 ou 80, quando o samba
foi de fato expulso da favela :: o “feitiço indecente” que noel rosa soube captar e transformar em 

poesia,
resultado da miscigenação brasileira, também produziu pelé e garrincha, mas foi se esgotando na medida

em que a base cultural dessa miscigenação foi se exaurindo, para dar lugar à favela massacrada pelo
tráfico, onde, musicalmente falando, a trilha sonora é outra :: como no caso dos funks pornográficos,

que, nessa mesma copa da rússia, estiveram na boca de um grupo de torcedores brasileiros que assediou

uma jornalista :: o bRasil profundo não merece esse desrespeito :: o fato de uma tradição musical
ter perdido sua força requer sua recriação, ainda mais se essa tradição for a força motriz de nossa 

identidade
cultural  :: no entanto, não há, como no caso do funk em relação ao samba, uma substituição à altura 

:: a questão é relativamente
simples :: enquanto o samba, mesmo valendo-se da beleza da nudez feminina, ativa um processo

de contenção e controle do desejo, o bRasil das favelas de agora perdeu-se em formas negativas
de relação com o feminino, onde o desejo torna-se posse e desrespeito :: o cultivo dessas forças

culturais evidentemente influencia as relações no cotidiano :: neymar pode ser um bom jogador, mas suas canelas não possuem o mesmo

feitiço das de pelé ou garrincha, porque o bRasil não possui mais esse feitiço desde sua mais ampla
base social :: os novos meninos da favela receberam outra forma de ser, musicalmente disseminada e, 
por isso, fortemente
disseminada, onde o desrespeito ao feminino constitui a base de uma grande indisciplina social ::

neymar não é apenas um projeto brasileiro de craque, sem ser efetivamente um craque :: pesam sobre
acusações contínuas de arrogância, desmando e infantilidade :: é o reflexo puro de uma situação

que reclama uma revisão urgente de nossas prioridades políticas e culturais :: infelizmente, esse desprezo

pela cultura brasileira passa oculto, ou mais oculto que problemas de ordem econômica ou política ::
porém, quando nos damos conta, já se estabeleceu um grande estrago :: o desprezo crescente que a

própria população vem desenvolvendo por neymar revela o quanto estamos dispersos, perdidos e
confusos em relação à brasilidade :: não mais nos reconhecemos em nós mesmos, pois estamos

profundamente transtornados naquilo que somos enquanto coletividade ::

domingo, 17 de junho de 2018

luLa e a coPa





a força da ritualidade envolvida na copa do mundo é propor a paz mundial :: o próprio século 20 estabeleceu

essa motivação, por ser um período histórico, ele mesmo, recheado de conflitos em nível global ::
a relação do ser humano com seu habitat, a terra, eleva nossas paixões, paixões de vida, paixões

de morte :: muitas vezes tendemos a encarar um evento como a copa do ponto de vista que simplifica
tudo classificando-o como de importância subalterna – já que a prioridade nossa deveriam ser as 

produções
necessariamente ligadas às coisas úteis :: hoje tivemos a estreia do braSil em meio a uma crise política

das mais sérias, o que tende a fortalecer esse ponto de vista :: aqui devemos lembrar, antes de qualquer

coisa, que o bRasil atingiu reconhecimento mundial por ser, não campeão na dimensão das necessidades práticas, como os estados

uniDos, mas líder absoluto na dimensão da fantasia, do ócio, da brincadeira :: a conclusão é óbvia: campeão na paz, e não na guerra ::

trataria-se de uma vocação, ou seja, uma espécie de tendência inata, que carregamos em nossa essência? ::

creio que sim :: não por acaso, os estados uniDos são a força que conduz a maior parte dos conflitos armados hoje

no planeta :: ao bRasil, enquanto força complementar do novo mundo (as américas), cabe a revelação
de uma tirania da festa :: se não caímos na folia, a realidade se torna insuportável, dada a condição

de nação eternamente escrava, mais uma vez confirmada pela deposição de lulA e seus planos de soberania

nacional :: ou seja, a crise política que ora enfrentamos não nos deve acentuar a descrença no país ::
muito pelo contrário: é justamente porque o bRasil completou mais um ciclo de retorno à escravidão

que devemos nos fortalecer na ginga, na malícia, na mandinga do futebol :: vai bRAsil!!!!, tornou-se
importante gritar, mais do que nunca, junto com luLa, que, com toda certeza, torce como ninguém

de dentro de sua ceLa :: nada é mais representativo do que o bRasil, aliás, nesse momento, do que lula,

em sua mais do que reconhecida paixão pelo futebol :: nada é mais integralmente nacional do que lula,

em sua capacidade metaforicamente futebolística de jogar, de formar o mito do bRasil também como
um player da política e da economia mundiais :: lula, o grande presidente, que fortaleceu mercado 

interno, buscou a proteção
necessária ao pré-sal, que entendeu com inteligência brasileira os interesses de cada país no âmbito 
da geopolítica internacional,

sempre propondo a paz, o fim da exploração, a negociação hábil para a solução dos conflitos :: ao final de seu

goveno, lula se apresentava como um promotor global da paz  :: não só um promotor, mas alguém
capaz de formular as soluções necessárias para que o caminho até ela se estabelecesse :: um meio 

caminho
entre socialismo e capitalismo, algo novo, à moda ocidental, e não oriental, como fazem china e 

rússia ::  durante muitos
anos nos perguntaremos como um sertanejo de instrução média conseguiu atingir um ponto tão alto ::

e não devemos nos surpreender se encontrarmos como resposta a própria vocação do bRasil para a amabilidade :::

a própria vocação do mito bRasileiro, que encantou o mundo com o futebol, e que o fazia novamente
por meio de luís Inácio lula da silva :: não há revelação maior do que essa, para nós mesmos, que se 
fortalece

em meio às dificuldades interpostas pela desgraçada escravidão :: a volta do bRasil à posição de submisso

vai gerar um novo estímulo à proposição da vitória da paz, graças à sabedoria acumulada pela obrigação

de relacionar diferenças, habilidade sempre atualizada pelo nosso mito de cordialidade racial :: :: se engana quem

pensa que voltamos à barbárie, ou que cristiano ronaldo nos roubará a honra de sermos os melhores com a bola :: é esperar para ver ::