somos um ritual inteiro de m
acumba, a cidade que não se
vê, nos espelhos,
o ir e vir pela cidade, nos algorítimos cifrados
dos orixás, telas secretas, programas de
computador ::
local :: curitibanoS
levo o filho na escola, a blusa manchada de pão :: sinto o gosto da chimia :: está no meu posto pisado
de chão ::
lambo os lábios, é sutil essa diferença, mas, quando somos menininhos, os sonhos renovam-se
com mais facilidade :: havia um fato encerado nas casas postas e limpas :: as vozes e os correrios :: os
anseios, expectativas :: expectativa de vê-los, meus pais, acima de tudo meus ímãs, sua corrente
imantada, meu precipício :: agora lembro que havia um expectativa :: porque estou em triunfo, agora
lembro que estou no rio grande do sul :: a bola lembra, a tarde com mate, e o futebol :: tragam as estolas
da alma farrapa :: os gloriosos dias de festejo, a guerra que travamos longe de nossas mulheres, o espírito
de santo, com suor, cerveja e palavrões, o espicho da vara comprida dos moleques, aprendam a ser homens! ::
o esporte aproxima o livro aberto :: sobre nossas cabeças, uma ilusão :: e como é linda a cultura, mais
ainda o fato de serem os maloqueiros seus grandes mestres :: os maloqueiros são santos, aproximam
seus ouvidos da folia que ninguém ouve :: ninguém soube dos sapatos puídos de garrincha, dos ardores
da cavalhada, dos patriotinhas de ronaldinho, um mestre, a imensidão de neymar, a placa incrivelmente
sólida da ilusão santista que se eleva pro mar :: eu tinha medo dos maloqueiros, adilson, o grande
maloqueiro da minha escola, jogava sorrindo, depois morreu porque levou um tiro :: escuta as cordas
de música, vitor ramil, mil dicções para um galanteio :: quando eu pegava a mão de uma menina, apenas em sonhos,
eu era uma mestre :: e a energia "eólica" gerada era suficiente para me elevar por milhões de horas,
suportar o cheiro insuficiente das horas gastas na escola :: porque tudo era tão doce? :: no caso dos adultos,
há uma proteção de cimitarra, e a revolução está em não perceber que somos gatos, felinos que se
esgueiram, sinuosos, por vezes brejeiros, não suportando suportar os cintos e as fivelas, que nos prendem
às calças, as bordas sinuosas dos sutiãs :: tudo é felino contato, feérico e muito minucioso, escondido ::
estamos civilizados porque a voracidade, do clima de esquenta do desejo, não foi embora, mas mora
escondido :: e como isso me marca, fero açoite :: e como pão com chimia :: muitas
vezes as fivelas se abrem, e o cinto bateu, e a criança apanhou porque o pai apenas foi levado pelo
impulso de ter distribuído o seu líquido inteiro, para a rua do bRAsil inteiro, tamanha a volúpia :: nada disso
a criança chora, pois sua mão e doce, e pertencer ao mundo dos adultos, com seu gosto de cerveja,
e outras vozes amargas, empesta seu ritualzinho de casamento com a maciez de uma forcinha, uma somente
alva e doce amiga :: na solidão da vulva, ele vai se perder, e depois buscar os doces da cidade, contrito
e de ressaca, a cabeça cheia :: somos um ritual inteiro de macumba, a cidade que não se vê, nos espelhos,
o ir e vir pela cidade, nos algorítimos cifrados dos orixás, telas secretas, programas de computador ::
cada palma que se bate é um pandeiro, tamanha mágica do coelho, na toca de alice, com voz de gal
gosta e a fúria de elis que bate :: eu sou o sonho de rock dessas meninas, e somos esse rito inteiro, da matrix, com bastante pipoca, como frangos, e o ônibus que nos leva, da zona sul
à zona norte, faz o movimento da ceifa sobre nossas cabeças :: meu tio antônio, um agricultor, figura
do meio, caminho do meio, sigo o coelho, zona norte :: minha mãe não foi uma puta :: zona sul e zona norte,
e eu leio figurinhas de rock :: terras do mito acampado, eu não ouço a rbs, e as mulheres, com seus rituais
de seriedade invejosa, as unhas, os salões, nos derrubam do cavalo, com sua inveja calada, trocam
sensações sobre mamilos e esgares em torno da vida doméstica :: eu sou um poço de desilusões ::
eu vou matar o meu marido, secretamente, como secretamente fui ardorosamente só sua :: a força
calada e muda de iemanjá me abateu na subida da serra, e agora eu sou seu criolo malandrão, rapper
do som :: a estola farrapa me lembra a alma republicana, haverão de sair pequenos milhões de seres,
todos da minha alma mais pura e republicana, o tempo limpo de um novo tempo :: esqueço o embrulhar
do estômago que me proporcionou a jocosidade feminina, seu tempo limpo de estoques de raiva,
trovões, sobremesas cifradas, uma coisa esquisita misturando choques elétricos, tesão e ferros de passar
roupa ::
com xangô fizeram o mesmo :: iemanjá se uniu a iansã e o rei ficou ainda mais forte :: mãe janaina,
saia da janela, toca o sinal que aqui a fome é de negro, é a cor de um olho cego, é grêmio e é inter :: chamo
as crianças pro jantar :: elas vem :: e eu ateio fogo à cidade com a minha fome de bola ((texto de 2016
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