quinta-feira, 25 de abril de 2019

como realmente educar? :: qual trabalhador que, dentro de sua realidade oprimida (para utilizar o termo freireano),

terá a disposição necessária para dedicar-se com certo afinco ao estudo? :: no mínimo, não sobra tempo ::

quando eu era professor, cheguei a acreditar ingenuamente que os alunos absorveriam plenamente meus intentos,

o conteúdo que eu havia selecionado, as propostas que elaborava... :: hoje sei mais claramente que o cotidiano

de certo modo nos massacra, tornando irreais uma série de noções sobre pedagogia :: não é por acaso que segue

a massa de manobra como sendo o principal nome do povo :: claro, falo sem cetismo :: é precisa ser crédulo :: por vezes,

até ingênuo :: mas não é tarefa simples reduzir o nível de alienação :: supremo gargalo da democracia


a extrema direita e a idade média ::

deleuze e os rizomas


cego oliveira



domingo, 21 de abril de 2019

eu leio a
música
do tempo,
seus mistérios
de composição ::

((a partir da sensação de que, se leio um livro, fica uma franca impressão desse livro se o leio com superficialidade; e tudo o mais que se faz, como agora, quando tive esse insight, ao elaborar uma lasanha; a sensação de que meu tempo dedicado a tal preparo, se fosse mais intenso, melhoraria o resultado dessa vivência, adensaria a vivência, na lentidão encontra-se a profundidade


religião e sincretismo em jorge amado

lão-dalalão

a explosão de alguma equação de juventude no inconsciente produz a literatura de guimarães rosa, a visão

de algo, uma luz, um clarão :: no caso de "lão-dalalão", o vetor é o mundo interno de um vaqueiro casado

com uma ex-prostituta :: a língua própria construída por rosa absolutiza esse mundo interno, de modo a que uma

simples angústia ocupe muitas páginas :: nossa leitura começa com o ritmo da cavalgadura :: mas o que vejo

é o brejo dentro do vaqueiro :: a formação fauno-florística de uma densidade negra, piscando luzes :: não é

a trama que vale, é a estética :: a simplificação da vida, reduzida à máxima beleza :: nada, além disso, seria

mais importante... :: como apoio, o emblema da lenta metamorfose do homem em humano, pela civilização

do patriarcado, já que a figura bruta do peão rompe com os instintos viris para entregar-se a beleza dúbia

e matreira da mulher ::


@@@@@


para analisar guimarães rosa, a ideia de uma feição "noturna", como mistério-feminino-inconsciência:


história de Buriti, um relato quase “noturno”, como o mesmo título da obra em que está incluído deixa prever (Noites de sertão), representa outra fase da leitura e análise da sensualidade que sustenta o interesse da investigação rosiana, sendo o “Buriti”, um “bom lugar”, “uma necessidade”, o descobrimento e a confirmação que “o sertão é da noite” ((p. 292



toda mulher te uma pomba gira
alguns homens femininos também as tem
nada ativa mais a luta contra o falo do que essa força do feminino
o fim da submissão do feminino dentro de mim vem por essa força

terça-feira, 16 de abril de 2019

um caNTo

há sangue quente e líquido amniótico
no meu andar xamânico,
e essas substâncias são santas,
por secretamente aliviarem
meu pânico,
ou o pânico de muitos,
em sociedades como as nossas ::
são amores amplos, por legarem
o fim de impurezas ::
seja nos trópicos, seja nos andes,
seja no ártico ::
nesse lugares, onde tudo arde,
em ritos, sob um sol infinito
ou escaldante,
raios de estrelas, o senso apurado
de sermos constelação,
ou reflexo das poeiras complexas ::
um tambor, um sacrifício,
uma poeira, um vento, um arbusto,
um pensamento sob a forma de grão
ou de milho :: baleias,
coiotes, emblemas,
superposição de sensações
míticas, terrestres, úmidas,
senhoras de todas as tribos,
deusas, união ::
as coisas vivas, união ::
um pé, uma mão, vísceras
unidas, o mel secreto da colmeia,
respiração, males do espírito,
coletivos, uma busca,
um respiro pela cura conjunta,
o estado de serenar positivo,
com base em conjunções
mediúnicas,
o impositivo inconsciente
divino :: as repartições,
os fracionamentos,
as dolorosas retículas,
a participação,
um sonho com
a montanha e seu
sermão, mil anos
de apontamentos
bíblicos,
um nada,
um ser único ::

quarta-feira, 10 de abril de 2019

escravizar torna o subjugado em alguém que mais facilmente desvaloriza o estudo, sendo essa medida um dos principais

atos de dominação da elite :: ao mesmo tempo, impor um tempo escravo, sob os mais diferentes sentidos,

aproxima da região inconsciente do mito aquele que se desespera com sua condição de subjugado :: para um povo que sofre,

receber o mito é mais provável, sendo seu ritual de sacrifício a própria base de um sistema cultural complexo

e ordenador da realidade ::

segunda-feira, 8 de abril de 2019

luLa livRE





a liberdade de lula é a luta pela democracia que se atualizou, nessa seara estranha e eterna do embate brasileiro entre o bem e o mal ::

parece que sim, não tenho bem certeza, mas talvez a gente fique anos gritando lula livre, até que um dia aconteça

alguma coisa, algum desfecho talvez trágico, talvez redentor, talvez as duas coisas ao mesmo tempo, para

permitir, até que enfim, um novo avanço em nosso processo civilizatório, desse país que é a morada de uma revolução humanitária

chamada mistura de raças ::

o caso de luLa, o trancafiamento de seu tempo de liberdade, que é a mesma coisa que o trancafiamento

da liberdade de um povo inteiro, é na verdade uma gentil pacificação proposta pela providência divina,

ao nos proporcionar a visão clara, nítida, da pintura do diAbo em seu dilema, para o qual não existe
equação, a não ser a vitória do bem,

advindo daí o alegado efeito pacificador ::

ou o mal prossegue aprontando das suas, para regojizar-se e satisfazer

seus instintos, ou se cansa e vai embora, para recriar-se historicamente logo ali adiante :: o x do problema reside

justamente no fato de que a continuação do plano maligno, sem que o diabo queira ou se dê conta disso, pois

está cego pelo desejo de transtornar o mundo,

reforça ainda mais o bem, por intermédio da geração dos mitos salvadores, seres humanos transformados em herois

por assumirem papéis de supremo sacrifício, caso evidente de luLa::


luLa, hoje completando um ano de cárcere cruel e hipócrita, não vai "pedir para sair", porque, com sua sabedoria mansa e por isso mesmo imensa,

sabe exatamente que é esse o ato que se encena na dramatização da epopeia nacional ((igualando-se dessa forma à getúlio

no rol dos grandes mártires do período republicano da pátria)) :: a bolsonaro e camarilha resta apenas

consumir-se nas labaredas de suas próprias emanações infernais ::


hoje, nesse dia infame, que simboliza a crucificação de nossa esperança, e daqui por diante, quero pensar como um luLa,

quero agir um luLa :: quero pensar e agir como um menino em prol da liberdade, aquele dignificante menino que segura a mão imaginária

de sua sanTa mãe e caminha sem medo para o sacrifício :: estou com quase 50 anos de idade e não entendia,

antes de o bRAsil e o mundo reingressarem no âmbitos das trevas, tem quatro ou cinco anos, que meu destino

(e o de todos, na verdade) está atado a uma necessidade de bem-estar coletivo que se manifesta negativamente nas carências

vivas e encarniçadas desse país, seus becos e favelas manchados de sangue, seu número crescente de feminicídios,

seus bordéis e garimpos selvagens, sua expropriação maldita do trabalho, seus infanticídios, fratricídios e genocídios,

a espoliação de sua floresta amazônica :: eu não sabia, ou tinha medo de entender, que precisamos estar corajosamente

engajados no combate ao descalabro sem fim vivenciado por nosso povo :: sobre o esse descalabro precisamos nos debruçar

com alegria e imaginação também infinitas, a exemplo do que propuseram nossos melhores artistas, de gonzaguinha

e elis regina :: a retomada do mal em seu curso, a volta dos militares, a nazificação de nossas ímpetos masculinos, tudo isso, é, no nível

último do inconsciente coletivo, um chamado para que nos concentremos na podridão que radica no âmago

do ser humano, afim de amenizá-la mediante a descoberta de novos conhecimentos, para que possamos entre outras coisas redimir

antepassados que também por nós sofreram ou morreram :: nada disso é exatamente novo, vindo a constituir o próprio cerne da saga

de o ser humano tornar-se cada vez mais humano :: tudo isso é o eixo do processo ele mesmo de evolução mediante a construção da linguagem

no lugar de vícios, mediante o estabelecimento do novos patamares de civilização :: não é a toa, por exemplo,




que bolsonaro e sua turma não param de dar demonstrações acerca do quanto a ignorância é o seu mote ::

nesse átrio intrigante onde atuam verdadeiros santos guerreiros contra seus mais perfeitos antagonistas, ecoa uma verdadeiríssima

reverberação da pátria profunda, que sempre se faz e se fará a ferro e sangue :: cabe precisamente às esquerdas

tomar a dianteira desse aventura perigosa; e não fugir à luta :: cabe ao martírio, mais uma vez, o tempo de edificação

da liberdade a ser legada às futuras gerações :: cabe ao mito, o mito do bRasil cordial e inteligente, sempre tão combatido,

dar provas de que não estamos sozinhos diante da oferta dessa cálice de bebida amarga :: cabe ao menino legítima e integralmente brasileiro,

mais uma vez, ampliar seu poder de masculinidade, para fazer jus a todo o esplendor do feminino que nesse

país abre gloriosas perspectivas de elevação ética e espiritual ::







segunda-feira, 1 de abril de 2019

Um pouco por opção, tenho a velocidade das tartarugas, para uma série de dinâmicas sociais, e somente agora, tem alguns dias, cheguei ao Netflix.

Após me empanturrar, acho que posso falar assim, com alguns filmes, terminei por reviver uma velha impressão que tenho do mundo no que diz respeito à cultura.

Essa impressão é a de um certo cansaço quanto a consumir e não produzir. Ou quanto a mais consumir do que produzir.

Sinto-me um panaca quando isso acontece, pois antevejo os sinais de estagnação da alma quando não movo minha capacidade criar.

A gente de fato se empanturra consumindo um certo excesso de informações sem botar nada pra fora, sem botar no mundo uma linha sequer de originalidade.

O Netflix que me perdoe, mas seu cardápio interminável de opções me dá um pouco de enjoo. E o problema é esse: ficar parado do ponto de vista de alguma atividade do espírito, o que sem dúvida é causa de uma certa imbecilização.

Já experimentei dessa imbecilização mesmo depois de francos processos de produção intelectual. Basta ficar parado. É algo similar ao atrofiamento dos músculos do corpo mediante a falta de exercício físico.

Ver que eu posso me torno um idiota mesmo depois de uma vida inteira de escritas e leituras é algo que me assombrou.

Significa que essa idiotização é um fantasma eterno, que aflige uma sociedade inteira.