sexta-feira, 7 de abril de 2023

 há meninos que sentem a doçura de serem meninos :: nessa revelação crística, negra e

indígena

mora a sonhada visão do paraíso brasileiro :: meus pares mantém-se em cordial distância,

recordam

medos originais, casas de onde saímos, as pólvoras e explosivos, os nossos melhores

momentos

enquanto dores insuportáveis que será preciso carregar, ordenhar, tornar brandura :: quanta

ócio a nos divertir :: quanto bom pensamento ::

porque sou andrógino, consigo captar tais essências, mesmo rigorosamente excluído do modo

legítimo de pensar e escrever nossos atuais livros :: porque sinto o sonhar de menino lusitano,

eu consigo :: as damas da morte me consomem, revirando meu cadáver, assando-me,

cozinhando-me ::

sou pequenino então como elas querem, pesquisador de um mito que forme bons revólveres,

formas novas de rock, de tiroteio :: olhar as damas nos resolve, seus amplos olhares sobre nós

mesmos :: quanta cordura na amplidão do vaso líquido de iemanjá, da negra doce e informe

como

um líquido amniótico, pai e mãe da sagrada menstruação que é estrutura do mito :: minha

mãe menininha, meu irmão

com melhores influências, a brincar com poesia ns ouvidos :: como somos espelho! :: como

rimos com natural cordura :: há uma elegia

ao prolongamento da história de nossos deuses :: cada filho consumindo energia e

proporcionando

visões :: ah!, tomada romântica de cada pequeno gesto com que brandimos nossa desilusão ::

o mar

oceânico ((o inconsciente do mito)), inconsciente e pedagógico, protetor involuntário, pode o

pensamento

trágico :: ossos e mais ossos, os ecos de uma guerra dos farrapos, a revolução :: com seu

espelho,

iemanjá nos direciona e cuida de porto alegre, dos bairros, das enseadas, da tristeza :: penso

nas maternidades, que são, antes, aquários de seres marinhos :: podemos todos ser habitantes

dentro da barriga da baleia, filhos dos cuidados da vagina? :: essa velha planta fantasmas, é

pacienciosa

com seus filhos, tece milhões de arabescos, sensual, inumana, ritualística :: ah, voduns e

bruxarias ::

os maus meninos que me tornaram tímido, irriquieto de vergonha,

verão o sonho de sua sensualidade elevar-se :: tornarem-se másculos elevados como

população ::

e o manto de oiá colore o ritmo :: ah, essa mãe, que nos dá a comer arroz com feijão :: pintanos

a ferro, nos faz brasileiros no suor de cada dia :: o que é bonito é sua doçura imensa, como no

colo

da família, no colo eterno, na rodovia do ônibus, no bairro assunção :: a realidade nos fantasia,

amigos, e quer ser cada vez mais

realidade ::

que bom poeta e trovador, que martelo infinito de xangô que aqui não é pixinguinha, mas

tarot

filosófico que recorre a galos de rinha, anímicos, gloriosos como capitão rodrigo :: sou filho

dessa

sensualidade, sempre neto, eterno, de bibiana, e nas carrocerias, nos andores, nas passadas,

pesadelos, iluminações e correrias, acordo pensamento, escrevo novas portas de visão sobre

o infinito :: quero todo o rio grande como quero menstruação, e se já cometo o nirvana do

incesto

que confere glórias ao machucado guerreiro ao infinito, é porque mereço, é porque sou

menino

som, guerreiro e altivo, neto de milton nascimento :: as plagas e as bonitas, os lenços, os

favores,

agulhas e pincéis :: as estocadas de lápis, de olho, de cada pintura exótica pintada pelo olhar

de princesa

das ondas ovarianas a nos carregar e fazer reproduzir incestos fantasiados de televisão :: o

prazer da província,

o som da rbs, a tímida revelação da grandiosidade humana em seu caudal de visões maternas

benignas do curral :: os litros de leite a alimentarem a tropa pronta e destinada ao abate :: a

minha

visão, a minha filha, a minha fala :: nos tornamos narrativa agora evocada à luz elétrica porque

escorre

da coxa morena a menstruação sagrada, vitalícia e plena :: cada bobagem vale a pena, quando

dita, repetida, codificada, porque vem dessa origem grega, de uma gente homérica :: e eu sou

o suor

de minha gente, transformado em gentileza :><

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