terça-feira, 30 de setembro de 2014

a árvoRe




a vida se encontra completamente contida no trabalho que faz
uma árvore, nos levando a buscar

o exemplo vegetal como modelo de educação, especialmente em
seu sentido como objeto ou elemento

purificador :: que trabalho há na árvore, na apologia que faz ao permanecer,
ao movimento, que lhe

é próprio, de simplesmente ficar, imóvel, estática, plantada, atravessando o
tempo, enquanto cresce

e atinge plenitude e  crescimento? :: uma circulação permanente de
conceitos vivos, constantemente

reavivados pela troca que a árvore faz com os elementos da natureza ao
seu redor :: na árvore, pousam pássaros,

acima de tudo, e ela se deixa tocar, sentida e generosa :: a árvore é branca e
iluminada, recebe as bandas

do sol, lentamente, se deixa tocar, de novo, grossa em suas cascas, cega no sentido
oracular da percepção

da luz divina, lembrando uma água :: faz o movimento da mulher grávida,
do acúmulo de ingredientes

em solução aquosa, e funciona como estoque, protegendo-se dos ataques da luz
impiedosa :: por isso

que funciona como sombra, aquilo que produz sombra, fábrica de frescor ::
meus ninhos colocados

em seus galhos, meus olhos furados em busca de perdão :: por ser tão antiga,
a árvore representa

um antigo rupestre, uma atividade plena de pintura feita com tinta e pena dos
animais atingidos pelo abate

que o instinto direciona :: somente vejo a escola dessa forma, uma escola da
natureza :: a antiga árvore mãe,

mariológica, reproduzindo em seu ventre o ninho, o calor colocado e aconchegante,
como o de uma concha,

uma mão, produzindo carinho, amor :: passa a circular então, por meio da seiva
da árvore, atingindo

todos os seus extremos, que são mitos, uns cantos capazes de proezas vivas
de meninos, na capacidade

de amar, desses meninos que deixam saudades, porque foram homens sãos,
líquidos e tenazes :: fazem

amor como meninos, impregnados da bênção da menina, a auréola delas
feminina, sua sorte longínqua

de estrela algoz e irrestrita no mantra da paz universal :: são meninos de suas
mães, banhados e xamÂnicos, revelados em crua diversidade,

com a função unívoca de plantar línguas e espalhar o tímido reflexo da
bondade original da placenta,

do aconchego, do frescor da grande árvore :: somente na espinha dorsal que
faz enxergar o olho

é que se planta uma árvore, tirada como bolinha ou semente, produzindo meninos
alegres, de distante

alegria genital, obscuros em suas barbas de profetas, velhos como meninos
que jamais crescem :: ela,

a árvore astral, com suas obscuras e fogosas bandas da morte, a nos comandar
em revoluções e aconchegos

de arte, em côncavos de ventre onde estão sensualidades que são umbigos e
cabelos genitais doces, uterinos ::

a árvore em seu tempo de maturação, de apodrecimento doce e sentido,
em envelhecimento, fezes

e urina :: a árvore como um defecar do mal, nas tramas obscuras com os gérmens
que são devoluções

do benfazejo :: a árvore por isso purifica os pensamentos, é sempre, toda ela, uma
alegria imensa

e viva, como sua corola ardente, completa, mas tímida, única,
resplandecente :: que na

vida toda se direciona o símbolo da arte, e as faces dos artistas, com seus
alaridos e musicalidade ::

a árvore, em definitivo, é o que planta cultura, faz a guerra pop da atualidade ::
a árvore quíntupla

do mito alucinado, toda rechaçada por seus mitos, e atingida pelos raios das
explosões, de hitler,

dos assassinos de gandhi e lennon, da explosão atômicA, com a função de,
enquanto fossa genital,

com raízes plantadas no karma do lodo do universo, procurar vivacidades
nítidas feitas nos laboratórios

dos gênios do universo, em busca de cura :: eu amo a árvore pelo seu perigo
e sua crueza farrapa de herói

farroupilha, quando penso na regionalidade de sua arborização só minha ::
levo a árvore a escola ::

a escola que é só minha, para aprender a cultuar pós-modernidades :: a árvore
que pensa e coordena

os movimentos de bote da serpente :: a árvore do ancestral capoeirista que
ensinou a lírica aos gaúchos ::

a árvore rock, com uns galhos falhados de percussão jazzística e pensamento
freireano :: a árvore

de o tempo e o vento e sonoridades absurdas, sempre vindas da banda da
morte, onde, dependurado

em um de seus galhos, como um velho iogue sobrevivendo de vermes e
mosquitos, eu sobrevivo ::

e permaneço, e cultuo o espírito, ora mais com os pés, ora mais com a cabeça,
respirando e rindo,

sempre respirando e rindo :: a árvore da seiva torpe de dioniso, na regulação
de herA :: a árvore do sangue

de cristo e suas miríades de dicionários artísticos :: a árvore boniTa dos mil
meninos e milhares de afetos ::



terça-feira, 23 de setembro de 2014

deuSes





quando a desunião prevalece, somos a vitória do medo, formando
ilhas de erro e atrocidades ::

em meio a tal oceano, o instinto do amor fica soando, ave que pia
permanentemente :: soa o ruído

de um pássaro verde, com asas de metal, libertador :: seu espírito é o
mistério, e ele consegue

doces entropias, profusões de pensamentos, até a liberdade arder em
chamas :: a prevalência

da desunião é a vontade escondida, que temos, de ver tal pássaro
des-esconder-se, aparecer,

na franja do abismo :: apontar, no limite do desespero :: a ignorância,
a fome, o racismo, o preconceito

((exatamente o espírito prevalecente de agora, é o trampolim inconsciente
que usamos para

lançá-lo voando no espaço, como triunfo da espécie :: há, efetivamente,
que se ter nervos de ferro

e aço para suportar tamanhos ritos de evolução e crescimento, que nos
perseguem desde a aurora do mundo que conhecemos,

que governam, impiedosos, nossos milhares de anos de história :: quando tal
rito permanente de sacrifício se aprofunda,

tornando aquilo que é crônico em algo agudo, e difícil, portanto, de ser
suportado,

como nos períodos das grandes guerras, logramos voar em saltos
acrobáticos, vencendo

o tempo, coletivamente, o que nos torna profundamente dignos dos
mais profundos

e elogiosos aplausos e gritos de reconhecimento :: somos então
deuses,

como os que nos regulam desde a generosidade de seu mistério absoluto ::




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ser amoroSo



ser amoroso reflete a cordura de um ponto de encontro, o resultado
de uma cura :: homenageia

a brandura do sentir-se selvagem, mas humano :: às portas do paraíso,
onde não existe nem opressão,

ou loucura, por ninguém sentir-se reprimido por lei alguma, regra ou
atraso social, as dobras  do corpo se

enternecem :: ser amoroso é um efeito de sentido, como diriam os
semiologistas, um contraste

entre o julgamento e a opinião, a que estamos condenados, pelo convívio social,
e a capacidade

obtida de, mesmo crucificado pelo jugo, recordar-se plenamente dos anos de escola,
do jardim

da infância, da amável e insubstituível professora :: ser amoroso é encontrar-se
apaixonadamente

perdido pelo abismo, no qual nos jogamos, na ânsia de amar alguém, sem saber que
o outro é sepultura,

e erguer-se daí redivivo, amando, provável e recomposto :: é subir no ônibus,
depois disso,

e prosseguir a vida normal na cidade obscura em que nos encontramos,
iguais a todos,

e juntos, ao mesmo tempo, sem holofotes, famas ou vaidades :: mas fiéis a nós
mesmos, e uns aos

outros, como o fazem os lobos, na inteligência da matilha - ou as abelhas, no
sinal bíblico, da permanência da colmeia



,

como espetacular signo :: nessa composição, amar possui a textura delicada de uma
massa folheada,

amassada com carinho mais o sal de algumas lágrimas :: massa confortável, quente,
aromática, saborosa,

delícia de suavidade, finamente representando o supremo contato afetivo
imemorial recalcado, o mítico sertão esperançoso ::

derrete na boca, sobe aos olhos, fornece ao coração da ternura mais misteriosa
que possa haver,

precisa na expressão estética, que não causa vergonha
ou constrangimento :: na

posição fetal amanhecida em que me encontro, estou apenas amando
e permanecendo, como

um leito de um rio arenoso, que fala e encanta ::




amaR, e, na distância, tão somente amAr...




que distÂncia nos separa de um bRasil senda luminosa do futuro? ::
precisam soar atabaques e

maracás :: e  que se manifeste um lirismo lusitano, pé de carne fortalecido
pela expansão, pelo pensamento

angélico do dioniso ancestral longínquo e grego, seus longos cabelos,
robustecidos ao

longo dos séculos vestidos que formaram a europa :: e quando esses elementos
estiverem, em si,

reunidos, acavalando-se em formosura delicada e quente, na liga gentil doce
e generosa,

a moça gloriosa, segurando um seio ((como nas vidências de uma tela de
friDa kahLo, fará escorrer a força

de sua ruminação noturna, seu néctar acumulado, um leite como que fruto
de sua genialidadE, alimenTando a criançA

((no caso, nosso povo :: ah, que fruto de genialidade :: o emblema de fRida
ajuda a promover uma poderosa onda imagétiCa,

himen a ser rompido pelo pensamento que quiser oferecer, pela
compreensão, a beleza poética, pictórica e quente

de todo o mito da sociedade indusTrial e pós-industriAl que se tornará
toda a

américa latina e, dentro dela, idolatradamente, o bRasil :: há que se
empreender a

leitura simpleS doS pés da bailarinA, a sapatilha trançAda, forçandO o cavalgAr
sob o seu luar






do serTão, o sagrado mênstruO, sua desforRa, sua metralhadoRa, sua imensa
brinCadeira de rua, em dançAs repletas

de jazz e sofreguidão, no crescimento orienTal da cabeÇa da criançA latina,
astuta, chilena

ou evangéLIca :: há que se permanecer na contemplação do corpo esbelto da
moçA, sua satisfação

no voo, a vocação paRa uma cerTa virilidaDe, para que lhE surjam mesmo
alguns pelos no rosto e no peiTo,

sa leituRa forçAda pelos ócuLos de lampião, o chapéu cangaceiro, a foice cega
para o cortE da canA :: a inteligênciA

intrépidA da amériCa, da moçA em criSto :: essa moça, como a qual, com
que a arte de

friDa brinca, e dela é uma brincadeiRa, represenTa todo um maio transcendente
 e espírita,

enquanto encarnação de um espírito oco e iluminado, com flechas apontado
para o céu ::

tudo é iluminado e inominável :: tudo é internet, erÊ, nova york e rosa
pink, nos

signos compoStos da evolução de marioneTes, na guerra fria espanholA,
na cóleRa, no

pesado carregamento de fardas do capitalismo norte-americano, sua
apropriação sobre






o solo e sob o sol da califórniA, sua cultuRa piamentE hippie :: que cura
mais afastaDa

romanticamente :: que loa mais complexa :: nossos signos, os signos da
velha europA,

tornaram-se pobres para expressar onde quer chegar a moça :: na tela, a
expressão caraíBa!,

oswald de andrade!, tarsila! :: mais da bela, por séculos e séculos, a bordo
de um treinzin caipiRa ::

os seios da moçA, sua direção redentoRa como amazonA, entoando o céu
da cidade de são paulo,

o ferro e o petróleo mexicanos, seus automóVeis, a revelação carnavalesca
e industrial, o chocolate

e o ayuasca, a bondade inca, maia e azteca e, por fim, do mangue À favela,
a rocinha, vila

cruzeiro e restinGa :: essa moça, segura um canhão, é gente homériCa,
abate reses ::

sua divisão generosa das atribuições de gÊnero desenha um másculo
gentil, um

chico buarque, e uma fêmea viril :: na partilha do chão, no parcelamento
da vida, há que

se ter generosidade com sua presença de rua, maracatunizando
o planeTa  ::

"essa moça tá diferente", ensaindo passos de chico science,
gaúcha e macha :: macha e gaúcha,

a la teixerinha e gildo de freitas  :: mais que isso :: vaginA distribuíDa
por condõEs

do imponderÁvel, que a escondeM, sempRe revoltosa,
iluminaDa,

belA, intocáVel :: seus seios sãO bastantE selvaGens, intoxicaram
trOtsky, emanam ilusões xamÂnicas intangíveiS,

como naS equaçõEs de frEud sobrE o inconsciEnte, atraem a fúria
do islã,

fermentam a guerrilha  perdulária, na conta do traficante
da selVa

e na favela, na mediDa do corte de naValha que leva a montAnha a
pariR uma

overdose, ninhaDas de inseTos e multidões urbanaS
faminTas, oculTas

em uma glória voejante de krishna :: há que se compreender a redenção
gloriosa do feminino em seu emblema

sagrado, de puta virgem :: o sal que lhe escorre como lágrima estrelada,
como fátima, aparecida, maria, de guadalupe,

maria bonita, a fátima da televisão, telenovela, enjoo dominical, água
com açúcar ::

abacate :: uma religiosa mal compreendida :: joana darc de
saias, escondida ::

há uma tal vontadE mítica e univerSal em tal imagem, que, se
jazer interrompiDa




em sua emanção de cruelDAde e cordurA, gera ou toTAl opressão,
ou total anarquia,

bem ao gosto das invenções sociológicas do século XX ::
é um monsTro

de 27 cabeçAs e caviDAdes absuRdas :: giratóRio e ruminante :: quando
se fala em busca

da cura, há uma reinvenção necessária, a partir de um chão domesticAdo ::
na posição

mexicana de entrAda à porta dos esTados unidos, pai da opressão, está
o lema brando dessa juvenil

fagueira, a moça gloriosa, em seus primeiros ensaios de libertação dos
seios e

quiçá, por último, da vaginA, gloriosa, mentE supremA e absurDA,
como suprema

comunhão com a natureza mais humana, a carne última, espírito
encarnado da

floresta, inteligência rápiDa, velocíssimA, controle absoluto sobre o
funcionamento da máquina

e da cultura :: coube às sociedades latino-americanas, na constituição
da américA, em ritos de violência,

delírio e sensualidade, por conta da social e racial mistuRa, em umA
boCa comenDo

e mistuRando pedaços de fruTas, óleos, cerEais, narcóticos, tabAcos
e bebidAs, entoAndo

ainDa manTras em posiçõEs sexuAis imiTando umA foRma de lótUs
gentil, agrária e indíGena,

compor a tela para o hino dionisíaco, que não se chamA simplesmente
"alegria", mas também

"cordurA" :: nossas cores vivas e quentes, da floresta, revelAm
o vai e

vem do peito da mãe, extasiante :: nossa pedra a ser quebRada, sob
traBalho escravo e tortuRa ((como nas

ditaduras militares dos anos 60 e 70, produzeM a secuRa do padrão
operÁrio, forte emblEma do rebanho

sacrificado de criSto :: a abrasividade ibéRica, sua ternuRa que deu a
volTa ao mundo, incandesCente,

fortaleceu-Se na loucuRa da colonização do conTinente :: misturaram-sE
as índias, rebentaRam com suas fainAs

douRadas, de araçazinhos, javalis, preguiças, pequenos bichos incendiados
do mato :: no

louvor banto dos rios que haviam ficado n'áfrica, o potenciAl de amor ::
tudo isso é muito

obscuro, mas se tivéssemos acessO À câmara alva mas escura em
que nossa

constituição étnica é pensAda, como novo tipo de gente e, acima
de tudo, como

redenção gloriosa da moça, resolveríAmos grandEs incertezas
quanto a


nosso futuro :: ((falou aqui o pai máximO de ianjá-carajá-
bantô-ribeiro,

vulgo cara pretA de homerO - saravá, na glóriA de crisTo
nosso seNHor,

salve tupac-amaro-cordura, el poderoso!




++++++++
               <<<<<<<    ......................


áGora :: a iDAde da terRA

" (...) o filme pode construir e constituir em si mesmo um projeto de reescrita da história latino-americana a partir do Brasil, demarcando momentos-chave da formação do continente através de seus diversos atores histórico-sociais alegorizados nas figuras dos quatro Cristos da trama: o Índio, o Negro, o Militar e o Guerreiro. ((p. 04

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

um labirinto chamado bRasil






forçamos a barra, exageramos, quando se trata de não amar o que somos ::
que o povo brasileiro

nega a si próprio, não é novidade :: que, de tempos em tempos,
acordamos brevemente para nossa

realidade miscigenada, deixando de nos comportar como os judeus
que levaram cristo à cruz,

aceitando com isso nossas raízes caboclas, também sabemos, ou deveríamos
saber :: agora vamos retomando aos poucos

nossa inteligência tropicalista, ao timidamente, como massa, conceder uma
discreta preferência

a Carlinhos Brown em relação aos demais tipos  "sanguíneos" (Lulu Santos,
Claudia Leitte, Daniel)

existentes no espectro do atual panteão brasileiro de mitos musicais,
representados

no reality show "The Voice Brazil" :: ou será que me equivoco? ::
figura carismática,

Brown, com sua pujante liberdade e valentia negras, creio que reencarna
valores que acabam afirmando-se sozinhos, sem esforço

:: pode ser que haja uma apropriação ingênua de sua maneira
divertida e "maluca"

de ser, baseada no exotismo, ao modo da apreciação que o "civilizado",
o "normal",

faz do gênero "folclórico" :: mas isso é o de menos :: somente o indício
de uma superação

da verve a cada dia mais racista que nos assola já me é capaz de
causar

algum otimismo :: ele próprio, Brown, vinha sendo vítima de imenso
preconceito, mas, na senda

de sua popularidade construída pelo reality show, reposicionou seu carisma,
ao que parece, para o bem da alma tropicalista

brasileira :: superou o preconceito que outra representante dessa mesma alma,
Regina Casé,

com seu "Esquenta", igualmente vem enfrentando, de maneira impiedosa, e sem
conseguir reagir à

altura :: parece que a fórmula de REgina, de protagonizar a favela, o morro, na
televisão, com todos os seus modos

de diversão e produção de carinho e agregação familiar, pela junção sincera
e alegre da gente pobre

e negra, só tem conseguido atrair mais raiva em direção a essa formulação
antiga do brasil bem brasileiro ::

contra esta disposição vem avançando uma outra vontade, bruta e perversa,
de barrar a reafirmação

do nosso processo geral de mestiçamento :: santa potência tropicalista, somente
mesmo a variação inconsciente

de um bRasil inédito e surpreendente para produzir uma nova junção familiar
brasileira, onde todos sintam-se gratos,

uns na presença dos outros :: na violência desse processo, devemos nos esforçar
para ver a própria ritualidade lancinante de mistura

antropofágica das massas, no governo geral de distribuição da pobreza e da
riqueza, da saúde e da

doença, da glória e da esperança :: como disseram os tropicalistas,
na canção

"Ora pro Nobis", há um sentar à mesa para a ceia, uma distribuição e
um compartilhamento ::

nesta relação carnal e conjugal, se dá a construção complexa e intrincada de
um mesmo rosto nacional,

em que todos se reconheçam (("Derramemos vinho no linho da mesa/Molhada
de vinho e manchada

de sangue", diz a letra) :: nisso, a importância da mídia, em especial, até agora,
da Rede Globo,

como Caetano Veloso nunca deixou de afirmar :: mas que novo rosto
será esse, para além

da mulata desenhada na adoração que se fazia da favela e do carnaval,
e que quase já não funciona

como mito de unidade? ::  onde andará a nova aliança integradora da alma
brasileira? ::

será uma síntese como a conformação esquisita que vem se plasmando até agora,
ao redor de marina silva,

ela mesma capaz de reunir em torno de si pessoas das mais diferentes
origens e situações sociais? ::

seria possível afirmar que a potência antropofágica de Marina
estaria na sua relação ambivalente

tanto com a esquerda como com a direita? :: independente disso, na variação
do mundo a ser transformado, desde a última

onda tropicalista, nas décadas de 60 e 70, o que realmente precisa ser
levado em conta nesse momento é o enorme crescimento

da religião evangélica neopentecostal, ela mesma tendendo a um recuo na
miscigenação, desde que possui

como uma de suas pedras fundamentais a pregação do bispo eDir maceDo
contra as religiões afro-brasileiras ::

eis que surge então a revelação de nosso próprio método antropofágico
inconsciente, que ama buscar complicações

para desafiar a si mesmo, como um atleta  ou artista - nossa própria
alma - que não deseja jamais cessar em seus voos e

evoluções, verdadeiras acrobacias a exigirem conhecimento cada vez
mais profundo da própria alma

do mundo :: no mundo inteiro, o aumento da diferença, e do perigo da falta
de tolerância para

com a diversidade, vem sendo tão grande (impulsionado pela internet, que se
não reforçamos nesse momento uma leitura

das capacidades generosas e agregadoras da alma inteira da humanidade, a
violência se torna incontida :: para uma violência-mundo,

precisamos de uma abertura espacial, renovadora, em direção ao infinito,
novamente buscando soluções

que desconhecemos ::  é uma grandeza muito "grande" de pensamento que
se exige hoje em dia, para enfrentarmos todos os dias

os inimigos eternos encarnados no preconceito :: reunir à mesma mesa,
para o compartilhamento

da vida em alegria, os defensores das minorias étnicas brasileiras, de
um modo geral,

situados À esquerda no espectro ideologico , e a imensa massa neopentecostal,
de um modo geral,

À direita, requer muito senso de humanidade e imensa capacidade de abstração ::
GAndhi fez algo que

merece ser visto como exemplo, na ÍNdia, no início de século XX, ao simplesmente
levar adiante a

proposta cristã do amor ao próximo, insuflando a revolta de seu país contra o império
britânico por meio

da não-violência :: conseguiu, e o registro de sua atuação faz penetrar na realidade
sócio-histórica

a sensação de que cristo ou buda caminharam novamente sobre a face da terra,
operando o milagre

do amor universal, aquele que não conhece diferenças :: no bRasil, Gandhi certamente
insuflaria esse amor

até que todos se sentissem bem em seu próprio credo, sem importar-se com
as diferenças de estilo :: a "invasão"

neopentecostal sobre nosso país de raízes latinas e católicas configura talvez a
maior de todas as obrigações

de amor ao próximo que, enquanto civilização, o bRAsil precisa enfrentar, depois de ter pacientemente

costurado o mito da cordialidade entre as três raças - mito que agora se encontra
colocado em cheque

pela própria onda neopentecostal :: uma alteração assim, em termos de
mudança de rota no curso de nossa cultura,

pode ser estranhamente colocada, como metáfora, em paralelo com a própria queda
do avião que alterou o rumo da eleição presidencial

desse ano :: é abrupta e inesperada, apontando um rumo incerto :: que marina silva é
uma síntese do bRasil, deveríamos saber - desse brAsil novo,

reafirmando-se, mais uma vez, em seu caráter labiríntico  e quase
desesperador :: de que modo se desenrolará

um possível governo seu, ainda é cedo para dizer qualquer coisa :: mas é certo que
anda uma potência

antropofágica, sempre, por detrás dessas configurações :: como diz
a filósofa

Marilena Chauí, o mito fundador brasileiro não cessa de repor a si
mesmo, podendo ser

visto em todos os principais momentos políticos da história do país (estado
novo, suicídio de getúlio,

golpe de 64, morte de tancredo etc.) :: nele, sempre vem se expressar uma corrente
autoritária,

impondo a visão do país como paraíso na terra, identificado ao limite máximo
com a natureza gloriosa

do dEus, a despeito da democracia e suas instituições :: fica nosso estarrecimento,
ou daquele que é capaz de se estarrecer, perante formas

tão complexas de realização do destino :: ou, como dizia Tom JObim, o bRasil, para ser compreendido,

requer bem mais do que um certo amadorismo de alma e espírito :: requer talento,
estratégia

e originalidade, como fizeram os tropicalistas de 67 :: bem mais que uma força
política, e esta é uma conclusão

importante, o que está faltando ao país é um belo de um renascimento artístico,
algo bem mais de acordo

com a lógica poética do inconsciente e, portanto, mais potencialmente capaz de
construir a tão necessária paz :: quem sabe a aparente vitória

de carlinhos bRown não sinalize nessa direção :: quem sabe... :: de qualquer modo,
fica evidente, por todas

essas considerações, que nossas formas de integração social precisam mudar ::
e, o que é preocupante  - nossa

forma de pensar a sociedade desconhece uma fórmula concreta para enfrentar
tal desafio :: o modo de ser,

herdado do século XX, e partilhado pelo conjunto da humanidade ocidental,
permanece centrado no

racionalismo científico, e seus pilares para a construção da cidadania (política, mídia
e educação) ::

estrutura amplamente esclerosada e que se abre, mesmo sem permitir ou perceber,
a novas formas

de relacionamento, graças à força e ao ímpeto de uma nova razão configuradora
da realidade,

contida na internet :: precisamos buscar a fórmula de um novo partilhamento,
a começar pela poeticidade

da vida - um retorno mesmo ao mito, ao mistério, ao inconsciente, para que a
partir de sua benfazeja

desordem, voltemos a uma nova ordem :: precisamos deixar de ser machistas e
aceitar o pensamento

leve e sutil da arte :: não há mais uma vitória da seriedade ou da sisudez, mas
sim uma

consideração leve do problema social a ser enfrentado :: dentro disso, torna-se
possível afirmar

que, mais importante para a definição dos rumos da nação, que uma eleição
majoritária

para presidente, em uma jovem democracia como a nossa, será um reality show
musical, assim como foram os festivais

de música dos anos 60, na época da ditadura e da cultura de rebeldia
juvenil :: e se, naquela época, havia

uma mão de ferro da ditadura, uma expressão do poder na máquina de
Estado, hoje esse poder encontra-se

cada vez mais no âmbito da cultura e suas pululações pela rede mundial de
computadores:: que se riam os fracos

em esperança dessa afirmação :: novamente, como nunca me cansei de afirmar -
o fio de ariadne

para sair do labirinto chamado brasil, como bem sabia Glauber Rocha, é pela
renovação da arte :: que

se revelem, portanto, novas forças estéticas de nossa cultura, por que isso
sim é o que

faz a diferença, e produz real avanço, em uma sociedade como a brasileira,
complexa

e destinada a concentrar em si todos os atributos da pós-modernidade ::



sábado, 6 de setembro de 2014

++ aos novos e velhOs casais ((ou, o desafio da cAsa




quantas vezes, nós, homens, não consideramos a mulher um "bicho esquisito"? ::
falam, masculino

e feminino, efetivamente, códigos universais diferentes, no sentido de
habitarem diferentes esferas

de sonho :: pensam diferente, agem diferente, e por isso consomem seu tempo
de convívio tensamente costurando a paz,

via de regra sob  a forma de bandeiras que são enxovais de casal e roupinhas
de bebê, para diminuírem

o impacto de uma guerra eterna causada pelo infinito de sua diferença ::  posso, na
continuidade

do processo de costura dessa bandeira de guerra e paz, aprender coisas íntimas
do universo feminino? ::

posso, por exemplo, como homem, aprender a cuidar bem de uma casa? ::
vejo nesse pergunta

o sentido próprio do destino da civilização :: casa da vida cotidiana, que vai do macro
ao micro, e vice-versa,

da residÊncia em nossa rua e bairro  à esfera planetária :: a persistência
neste "desafio da casa"

poderia agora também virar hit na internet, penso, pois não me canso de constatar
o quanto

o elemento macho da espécie humana precisa estar sendo constantemente colocado
em contato

com a forma feminina para apurar seus modos de teoria e conhecimento prático da
vida::

uma nuvem de fumaça tóxica toma conta da inteligência
masculina -

e aposto que isso pode ser cientificamente comprovado - quando se trata
de desempenhar

determinadas tarefas mais próximas do feminino :: vejo os novos rapazes de
certo modo um pouco perdidos nessa

confusão, estreitando os laços com o mundo da imaginação tipicamente do homem
(as viagens, as buscas, as lutas,

as correrias, as bebedeiras), sem se darem por conta que se vai armando, no seio dos
aconchegos românticos recém formados pelo fogo

sensual e misterioso do namoro/casamento, uma bomba relógio, ou seja, um artefato
destruidor até

já com hora marcada para explodir - atualizando-se o ciclo eterno da criação mediante
a destruição ::

por tal ciclo, a família vai se recriando mediante o transtorno inevitável causado
pelo choque entre homem

e mulher dividindo o árduo da vida e suas múltiplas responsabilidades do
cotidiano doméstico ::

em determinado momento, nossos filhos, amargurados pela pouca felicidade do
casal gerador, também inevitavelmente buscarão

um lar mais amoroso do aqueles em que cresceram :: as mães devem ficar atentas
a seus filhos homem ::

a elegância desses meninos no futuro, os modos que precisarão ter no trato doméstico
e diário com as

demandas inocentes e puras do feminino, as exigências para com as formas naturais
da princesa-menina,

que nunca abandonam a mulher (mesmo uma senhora de 90 anos precisa
sentir-se uma princesa)

dependem de um padrão materno de exigência ::  quantas vezes você, mãe, vai -
no limite - reclamar que seu filho

não serve para nada? :: vai gritar, esganiçar-se, efetivamente perder a razão? ::
provavelmente para

o resto da vida, ainda, pois a espécie humana evolui mediante essa espécie de
histeria coletiva,

uma dor de útero que veio plasmando, ao longo de nossa história, a rendição
da fera frente ao

belo, da monstruosidade a que o mito masculino pode conduzir frente a beleza eterna
e impossível do

feminino :: a mulher, no limite, é louca, lógica e lírica, e faz tudo por seu
amado :: render-se (ou matar o dragão que

impede a chegada à torre em que dorme a princesa) representa  amar o
próprio amor, confirmar a

lenda de sua existência :: hoje em dia, o dragão, depois de milênios de sua eterna
domesticação, encontra-se na infinita

dificuldade de se estabelecer uma relação gentil no seio da vida conjugal
amadurecida, em nosso modelo de

família e sociedade, onde o valor da liberdade individual evolui lentamente ::
somos a mais libertária





de todas as sociedades já construídas, mesmo com a persistência de tantas
desigualdades por aí :: na senda

dessa libertação, encontram-se várias conquistas obtidas em processos dolorosos,
como as emancipações

de raça, gênero e orientação sexual :: aos poucos -e é isso o que sociedade em que
vivemos propõe -

a figura patriarcal do homem "machão" e branco vai cedendo espaço para novas formas do masculino,

em uma configuração mais complexa e entremeada, menos bruta e mais dócil ::
sinal nítido desse movimento

é o próprio poder que vem sendo mais frontalmente assumido pelas mulheres
na sociedade :: o bom senso feminino,

frágil na aparÊncia, é um mecanismo tão perfeito da natureza que soube esperar a
hora certa para insinuar-se

em direção ao comando da nave espacial humana rumo ao futuro, como o vem
fazendo, mais nitidamente

desde meados do século passado :: se formos enxergar o quanto as mulheres,
há menos de 100 anos, eram

tão ou mais estigmatizadas quanto a escravaria negra, no caso do bRasil,
deve-se realmente ficar espantado ::

ao mesmo tempo, não posso deixar de observar o quanto, ao defender o
instinto de sobrevivência feminino,

acabo traindo a meus próprios instintos masculinos, em uma espécie de auto-mutilação :: precisamente

nesse ponto é que a vida bruta da natureza se transforma em arte, em criação
humana, que pode se chamar

divina, pois representa uma superação do "bicho homem", animal indefeso, frente ao
próprio mecanismo

básico do universo :: grandes somos, gigantescos, colossais, como demonstra todo
o aparato técnico

e cultural que nos consola e que sempre se torna insuficiente, exigindo novas
superações, o que significa

novas batalhas redentoras entre masculino e feminino, exatamente como é mostrado no filme "Matrix" ::

a minúcia espontânea do feminino é que permite o lento avanço da paz e da
civilização (como na foto

dessa postagem, onde Gandhi, rei pacifista, manifesta grande paciÊncia por meio
da metáfora da mão que fia, ao infinito),

pois ela representa o próprio sonho da alma, como diz o filósofo Gaston Bachelard ::
aos poucos estamos acordando

para o fato de que o "poder da saia" vai mais longe e entrega nosso destino, enquanto
espécie, a vós, mulheres ::

esse destino sempre esteve em vossas mãos, na verdade, como indica a revelação
da pietá, a imagem de cristo

consolado por maria, ou a entrega de zeus aos desígnio de hera :: mais do que qualquer
outra arma,

como a política, a ciência ou religião, comandadas por homens e usadas para
espantar males coletivos, o que realmente tem poder

é o amor de mãe :: ou melhor - esse amor, na verdade, é ele mesmo a
própria ciência, a política e a religião, que, com requinte,

mas sem pedir nada em troca, vem construindo a cada dia uma civilização
mais amorosa :: aqui, novamente,

é possível perceber a glória suprema do feminino, aquilo que constitui sua essÊncia
e o torna capaz de assumir o poder maior

de perpetuar a vida :: sequer faz questão de aparecer, apesar de assumir toda a
dor da existência ::

nisso, precisamente, reside sua glória, a que devemos todos tentar nos igualar :: o
mito de saias esconde-se,

nada deixa exposto, não faz demonstrações de poder, retirando daí uma espécie de
malícia que permite mandar, controlar, sem

contudo usar, abusar da rigidez ou da violência :: e nada, efetivamente,
parece-se mais com isso do que

a atual sociedade de consumo - sim, isso mesmo! - toda inter-relacionada
por meio da

internet :: a rede mundial de computadores, criada pelo capitalismo, nada
mais

é que um mecanismo de controle vocacionado para a dispensa do macho
de 20 anos atrás ::

os hábitos desse  homem precisam mudar :: e a minuciosa impregnação abstrata
de valores existente

no mais pleno funcionamento da internet, o que ainda não logramos alcançar, constrói
uma espécie de arco que nos lança em direção ao futuro ::

o casal contemporâneo constrói-se na rede, sem aflição :: precisamente aqui se
estabelece uma compreensão

necessária, que é a de uma certa pedagogia :: enquanto patrimônio sem par da
civilização, de conhecimento

imensamente acumulado, a internet em seu uso deve ser direcionada ao fim do mútuo embelezamento, nos conectando

mais francamente a seu rumo poético, já prescrito no inconsciente ::  em razão de sua
força motriz,

que é o anseio civilizacional humano por felicidade, a internet pensa-nos belos,
prestando-se à troca carinhosa de elogios e exaltações,

e tornando-se uma espécie de novo altar para o casamento, por todos observado ::
é o novo rito do casamento, e de sua festa,

que não se acaba, pois não se cansa de ser celebrado :: nada exalta mais a união a
dois do que justamente

essa gravação da glória do primeiro dia :: nesse dia, todos somos poetas, somos
a própria poesia,





a música, o canto, o filme :: a internet grava e regrava, conta e reconta tal poema,
permite a consciência

mais plena de como as coisas podem e devem ser - uma eterna alegria,
proporcionada pelo encontro ::

um casal que se ama promove um a beleza do outro, e nessa ajuda
tecnológica que o feminino nos

dá, de eternização do belo, da beleza que doamos ao outro, e que buscamos
no outro, é que está

a nova possibilidade do encontro cada vez mais harmonioso entre homem e
mulher :: como se vê,

ninguém consegue nada sozinho, e minha busca individual de felicidade, dentro
da fórmula eterna

e consagrada socialmente da vida a dois, base da família e de reprodução da
vida, depende do conjunto

da sociedade :: viramos um grande bolo recheado de casamento, navegando pelo
universo :: e cada

suspiro exalado nas redes sociais, de postagens alimentando as delícias do
cotidiano (nossos filhos,

nossas músicas, nossas comidas, nossas bichinhos de estimação) são suspiros de
estrelas longínquas,

reino perfeito de felicidade, que fatalmente nos atrai para sua órbita :: é para lá
que navegamos,

mesmo sem saber, sob o olhar bondoso de uma mãe e um pai eternos, na eterna
bondade de uma união amorosa

porque sonhadora; e sonhadora porque amorosa ::

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

:: @ ouroboros



a forma suprema de conhecimento é essencialmente coletiva e, por isso,
hoje, seu amor, o rio caudaloso

de sua paixão e loucura, sua violência, é essa miríade de imagens e vozes
em rede, a internet,

ela mesma, como a arte adquirida pela serpente, depois de milênios, na execução
do auto controle da língua,

auto resgate, auto ensinagem, auto aprendizagem :: forma suprema de equilíbrio,
malabarismo,

consciência, frieza de raciocínio, para que se torne possível a realidade
inverossímil do amor universal ::