sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

(o que será?) à flor da terra



a verdade profunda do brAsil é tênue e sutil, e somente percebida aos poucos, exigindo dedicação,
vocação e êxtase,

como nessa música de Chico  :: profundo êxtase, tão quanto a própria verdade a ser alcançada :: êxtase pela revelação

do poder da sexualidade enquanto excitação visionária, profética, mítica, produtora de grande
esperança, como a paz do sertão :: após milênios de desalento, no seio da civilização; após o declínio

permanente da paz; e após a desavença entre corpo e felicidade espiritual, chega-se a essa cruza agora que é o Brasil ((escondido, mas aberto para quem quiser ver)),

relação negra entre céu e terra, entre passado, presente e futuro, gerando alívio para o tabu do incesto, nosso grande pecado, raiz podre de um fruto benigno ::

solução mítica, que é cultural, identitária, fruto de expressões mais artísticas que religiosas, vinculadas à comunicação

do mundo, à língua urbana, corrente, desregrada, plena de cor, som, gesto, brincadeira:: o humano que baixar a cabeça, que ver em si o bem e o mal, o signo da serpente, a guerra e a paz, será

capaz de produzir e lançar sobre o mundo a visão de um oásis, onde tudo é tão simples como a felicidade de não cometer

crime algum :: e a oca em que mora o bRasil é a desse sexo não reprimido, mas apenas amorosamente
repousante, sonhante

e cantante, acarinhante, contido sem estragar-se, benévolo, forte a ponto de revelar a maravilha do sagrado, sem, no entanto, ostentar força e poder ::

essa verdade do brAsil está no hino que Chico Buarque de Holanda compôs, verdade que não tem
governo, nem

nunca terá; verdade que, mesmo assim, não se mostra plenamente, apenas se insinua; como que soprando uma flauta, como que mostrando a sua sombra, que é a sombra de um belo amante,

ela é bondosa e sábia o suficiente para saber que a visão plena de sua energia ofuscaria o homem-menino em sua

própria feitiçaria e aprendizado sobre os poderes do amor sensual criativo e criador :: se se mostrasse, produziria

em nós como que a inveja em torno dos poderes de encatamento de um pai, amante único da mais bela das mães ::

produziria um complexo e um embestamento, e na verdade produz, quando não se cobre a verdade
sobre o sexo com belezas puras, decorrentes do recato amoroso do feminino, seu afã irracional e muitas

vezes até assassino ::perturbaria nossa autonomia e nosso sonho, nossa capacidade de criação cultural, a satisfação de nos fazermos, nós mesmos,

humanos, com base, não em um modelo explícito (que, na verdade, não existe), mas em uma insinuação,
uma dissimulação, uma fantasia, um teatro que encanta e atemoriza nossos corações de criança ::

ora, é injusto para nosso espírito de inocÊncia ver a glória da existência como em uma pornografia, significando apenas carne, e não

carne e espírito,  assim como é perturbador para a criança flagrar a aparente violência de uma relação sexual  entre os pais :: precisamos desse

medo e dessa ignorância, sem sermos tolos ou infantis :: precisamos de uma doce malícia, ou de uma malandragem do bem,

tão tipicamente brasileiras, que nos proporcione recuar sem ver, mesmo sabendo que o sexo comanda nossas existências;  precisamos aprender a controlar nosso ódio ao tesão que sentimos,

tão inspirador de reliogismos descabidos, que nos sobe às faces e nos faz corar, como diz Chico, e já sem jeito de dissimular:

flagar essa sutileza da alma brasileira gera nossa diferenciação em relação à América do Norte, onde
as visões de vida produzidas pela indústria do cinema de massa ou são cruamente adultas, através

da pornografia, ou bobas e doces de modo enjoativo, como nos contos de fadas recriados por Walt Disney :: no bRasil profundo, que ainda não produziu toda sua forma possível de expressão, o Carnaval

faz todo esse sentido  de um fingimento que não esconde, mas inspira, pela ousadia de mostrar opulências do corpo da mulher sem desrespeito,

mas acima de tudo com a glória da grande beleza feminina, responsável pela geração da vida, em todas as suas dimensões ::

responsável pela geração de uma nova forma humana, um novo tipo de gente, a Roma escura
e tardia antecipada visionariamente  pelo antropólogo Darcy Ribeiro ::

o bRasil ele mesmo, não ainda totalmente conhecido, mas apenas entrevisto, porque coerente com o próprio espírito das brumas que aos poucos vão lhe revelando a face ::

o bRasil sempre misterioso e a ser descoberto, gerador da aflição entoada por Chico :: o bRasil como
lenda e mito, coerente com seu mito fundador de paraíso terrestre ><




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