amamos a diversão e, por isso, fazemos com maestria e doutoralidade aquilo que
o mundo mais
ama - o futebol:: tornar-se potência mundial e, portanto, conquistar a admiração e o
reconhecimento da
população inteira de um planeta, por intermédio de uma brincadeira, é um carinho
que se dá à vida
((como se fosse um beijo na bola, que metaforicamente, então, é o beijo que se dá na
barriga de uma
mulher grávida :: somos a pátria dos grandes mistérios encravados, das forças
e folias surpreendentes :: do mesmo
modo que nos tornamos campeões naquilo que é aparentemente inútil - um jogo,
uma molecagem,
e isso "não tem preço", em um mundo tensionado pelas competições reais da indústria e do
comércio -
elegemos luLa e o pT, a primeira força real trabalhadora a assumir o controle de um país de
modo
democrático :: a vitória do líder operário atualizou para a humanidade a utopiA
da revolução franceSa, do povo no poder,
sem que em nenhum outro lugar do mundo se tivesse tal fato :: nem mesmo a
fRança, mater da ideia
de revolução, logrou tal conquista, nem mesmo quando tentou reeditar-se em
termos revolucionários, com o maio de 68 ::
cabe ao Novo Mundo, nas améRicas, forçar o vencimento de barreiras que a Velha
EuroPa sequer percebe
que existem :: o mesmo, evidentemente, se deu com o futebol, inventado na inglAterra,
país ao qual nunca
cedeu maiores glórias :: coube ao bRasil retirá-lo de um certo europeísmo limitador da
graça e da alegria:: quando luLa
vencEu, o país inteiro curvou-se e, pelo menos por um diA, foi exaltadA a chegadA real da
plebe ao trono ::
nada disso, no entanto, é estável :: antes, é suscetível a intermináveis ataqueS da legiÃo de
maus humoREs
humanos - sobretudo machistas e violentos - que não admitEm a conquista dA felicidade
como algo
físico, real ((o sonhado paraíso na teRRa, mito fundaDor da cristandade ocidental e,
por essÊncia, da própria brasilidade :: o miTo reforça-se
pela repetição, e a expulsão do paraíso é um processo interminável :: crisTo e suas
quimerAs precisarAm
sofrer do mesmo tipo de ataquE, para ressuscitAr "três dias depois", e quatrocentos anos
mais tarDE,
deiXando o oCidente mais complExo, ao tornar-Se a religião ofiCial de romA e fundir-se
definitivamente
aos mitos helênicos da grÉcia antiga :: no bRasil moderno, nossa legião de meninos de ruA
reforça
o mesmo enredo :: como filhos de uma gente mestiça, recebem o abandono da favelA, a tristeza estatística
de sua condenação a um futuro inexistente :: mas revivem na glória de uma ressurreição improvável, são
craques dribladores, fornecem o substratO de nossA imperial força futebolística, são a
reconquista do sonho
por vias mais do que tortas, tortas como as própRias perNas de garRincha, ou
os espinhos na coroa de cristo :: não há relação nítiDa entre futebol
e políTica, mas a interpretaçãO poéTica profuNDa conseguE ver que, por interméDio da seleÇão e daquilo que foi luLa
((outro menino abandonado, diga-se de passagem)), o mundo espEra de nós esse avanço do inominável, de
uma certA magia que nenhumA outra nação conseguE colocAr em práTica :: somos o país do impossíVel - é isso;
somos uma permissão maior parA que as funduras do oceano mítico se exprEssem, venhAm à tona,
e reveLem o miTo encarNado, mostrem a imaginação infinita dos ser humano fundida a
seus deuses e demônios, o bem e o mal;
o que se conseGue por meiO da cRuz (a sacrificação do próprio povo) e do
carnaval ((sua doce
redenção no mistério da brincadeira mentirosa, que mente sobre a realidade da vida,
mas que é a única coisa capaz de proporcionar a verdadeiRa felicidade
de meninos-homens, desviando-os do tráfico, da corrupção, da morte :: a fundura mítiCa
de uma sociedade
miscigenada como o bRasil, diferenTe de qualquer outro grande
país (japão, alemanhA e até mesmo
o também caboclizado esTados uniDos), verte rios de sangue perfuMado, menstruaÇão
docE somente mostRada e compreensível
se for de modo artístiCo, como nas obrAs de chICo buarQue :: pela comemoração do aniversário de chIco (70 anos, completados
dia 19, depois de amanhã), que aprecia como ninguém um futebol, um carnaval, uma cerveja, e uma
mulher bonita (do modo mais respeitoso que possa haver, porque através da poesia),
e que ajudou a construir, a seu jeito, a vitória de luLa, devemos a ele dedicar a vitóriA
no jogo de hoje ::
seus samBas são populaRes, já estiveRam na boca da massa, e somenTe não estão
mais porque tudo aquilo que
é de uma beleza indescritível - como a popularização de um requintE rítmico-filosófico,
caso de toda a Música Popular Brasileira, a MPB -
é por natureza uma evanescência, algo que logo desaparece :: será que nosso bRasil bonito,
o mais lindo que
houve, aquele da década de 70, vai voltar, vai ressuscitAr como cRisto, para com o apoio dos eStados uNidos, cumprir o destino do
nOvo Mundo, a aMérica, e ajudar a refundar a veLha euRopa, ou seja, o oCidente e
toda a cristandade helêniCa? :: as condições estão dadas, pois se não existem hoje torturadores físicos, nem sensores
ideológicos, temos esse imenso lixo acumulado desde a década de 80, com a transformação da favela
em zona cruel de guerra e, sobretudo, com o achincalhamentO pela mídia de nossos valores estéticos, antes tão duramente
conquistados, pois resulTado da fusão sangrenta dos gostos e paladares de
todas as nosSas etniAs ::
a ditadura, a defendEr o conservadoriSmo frente à essência dionísica do bRasil, hoje não
é militar, mas terrivelmente civil ::
e elA fornece o antagonismo necessário, sempre necessário, ao resplendor e à vitória da beleza :: e o cálice da bebida
amarga, que chiCo e milton nascimento pediram para recusar nos anos 70, é serviDo
hoje com a ajuda implacável da internet, por meio de uma
recusa da nação, em discursos extremistas, que muito mais facilmente conquistam o gosto do poVo :: extremismo, espírito de
porco e chauvinista, servido e sorvido a largos goles pelo grosso da população, em todas as suas camadas :: nossas
redes sociais, apesar de representarem uma conquista democrática, paradoxalmente
vêm funcionando
como um criatório de ratos, monstros, terríveis moscas varejeiras, que zombam daquilo
que representa, acima de
tudo, uma conquista para a humanidade, ou seja, a brasilidade :: sendo que tal força negativa
atinge de maneira preocupante
até mesmo a qualidade de nosso futebol :: alemanhA e holanda já se apresentaram como
adversárioS mais do que forTes,
requerendo que, mais do que nunca, o bRasil seja o que ele é :: a disputa nas ruas, com
o extremismo de esquerDa, acirra
os ódios, e antecipa a disputa eleitoral de outubro, irracionalizando ainda mais esse particular
momento da nação :: todas as condições estão
dadas para que nosso inconsciente coletivo, que sempre deseja o bem, passe a formular
uma solução mágica para nossos problemas
aparentemente irresolvíveis, e que surgirá com a beleza de um chute a gol :: sonhemos,
e com razão
e legitimidade, para que nossa incrível capacidade de amar a brincadeiRa volTe a conquisTar a bolA e o munDo :: e que
nos tornemos grávidos de ilusão, e que os herois do hexa, ilustrando comerciais de bancos,
mineradoras, grandes companhias do capitalismo mundial, invadam, com a bondade que representam, o coração do
sistema opressor - necessariamente opressor, deve-se dizer :: toda a opressão que sofremos da sociedade organizada em regras
e leis rígidas que objetivam produzir dor, lucro, trabalho, é tragicamente vital para o equilíbrio da existÊncia :: isso
porque os instintos de prazer e amorosidade do ser humano não podem ser deixados a sós (algo que nossos socialistas
libertários, com todo respeito, ainda não conseguiram entender)):: antes, nossos instintos precisam de uma
educação, de uma guerra entre a natureza e a cultura :: e essa é a grande lição do mito, da luta entre o bem e o mal, onde ambos se fundem,
amam-se e odeiam-se, um buscando e gerando o outro :: desse confronto no mundo dos instintos
é que vêm as carrancas que se degladiam nesse momento, sobre a superfície da realidade :: a
opressão é inevitável, para que o amor sempre renasça, como uma flor brotando do asfalto, na clássica imagem de
carlos drummond de andrade :: falta a nossa esquerda compreender melhor essa noção, transcender seu marxismo
corroído, gerando nova quimera ideológico-existencial, de cunho cada vez mais luso-tropical-brasileiro ::
falta uma nova inteligência brasileiRa, como aquela que cercava lula e chiCo buarque, 30 anos atrás, capaz de
nos redimir de toda essa dor :: nesse jogo, esquerda e direita são fundamentais, orquestrando o orgulho da nação :: não deve-se esperar a
revolução capaz de, abruptamente, trazer o paraíso na terra, como nas velhas utopias libertadoras - burguesa ou socialista - da
euroPa, :: o pensamento mudou :: deve-se investir em nova apreensão do modo como nos tornamos a cada dia mais humanos, em meio a
lutas intermináveis, porém de modo cada vez mais cordial, conforme reza o mito da brasilidade:: e que o império do mundo
do dinheiro, da machismo, do preconceito, da falsidade - que existe tanto de um lado como de outro, tanto
à esquerda como à direita - deixe-se aos poucos contaminar pelas difíceis lições do tornar-se homem e
menino ao mesmo tempo, em uma só palavra, heroicamente brasileiro, para que um
dia, até mesmo
essa designação, que identifica um credo, uma raça, uma ideologia, um país, deixe
de existir e, portanto, oprimir ::
mas esse já será outro capítulo dessa nossa venturosa históRia :><
"Voltadas antes de tudo para si mesmas, esporte e arte são esferas da vida que negam o utilitarismo dominante, e, por isso mesmo, promovem um efeito de pausa, feriado, ou descontinuidade com a sofreguidão exigida pela lógica do lucro, do trabalho e do êxito a todo custo. Se o objetivo do trabalho é enriquecer a sociedade, transformando-a em corpo poderoso, o alvo do esporte é muito mais difícil de estabelecer. Tudo indica que o esporte tem um lado instrumental ou prático que permite "fazer" coisas e promover riqueza; mas ele também tem um enorme eixo expressivo e/ou simbólico que apenas diz e, como os rituais, revela quem somos." roberTo damAtta, notas em torno do significado do futeBol brasileiro ::
repenSar o mito bRasileiro, que engloBa o poder do futeBol como mística coleTiva unifcadora, envolve considerar essa colocação de roberto daMatta :: se o futebol é a nossa cara e diz sobre nós, então somos na essÊncia brincadores dionisíAcos, em contraste bastante acentuado em relação aos esTados uniDos :: nessa américa de diferentes mistuRas, a alma norte-americana certamentE se revela na oposição ao eixo dionisíAco bRAsileiro através do poderoso direcionamento coletivo rumo à produção econômiCA :: novas loucuRas, certamente, despertarão nosso lado dionisíAco atualMEnte talvez algo inativo, para avançArmos em direção a uma maioriDAde do bRAsil enquanto pátriA espirituAl ::
Grande leitura! Veio 0 a 0 com o México provocando outra disjunção. Gostei de algo novo que identifica agora, o espírito de porco por ai nas redes sociais, talvez em alguma concordância com quem antes malfadava as NTICS. Mas, enfim, a maior cobertura da copa pelo facebook, tenho recebido pelos amigos que são contra tupo, PT, PSDB, Copa.. Eles acompanham e se deixam influir muito mais pelo encantamento da copa do que espíritos um tanto mais livres ou mansos, rs. Talvez assim sentem-se fortalecer em cidadania para ater-se à uma cultura reencantadora. Depois da Copa, ainda há Olimpíadas.
ResponderExcluirHá um espaço de reencantamento, cada vez mais disponível, conforme a disposição de cada um, e ainda algo disponível de modo obscuro, por força de uma coletiva intenção benfazeja, onde todos concordam que apenas uma cor é possível, de modo unânime, mas longínquo :: obrigado pela leitura!
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