
fundo, nesse mar amniótico :: não queria estar tão cortado, estar tão alegre e robustecido :: mas eu penso ::
sou o andar da procissão anímica :: que venham os canhões, que venham as cargas, os estoques,
os batuques de santos :: cada visão me anima, a cidade e seus carretéis de linha :: a verdade oculta
na liga verde que ocupou meu pai, meu trágico pensamento :: nada há, da visão do caboclo, que eu
não saiba :: estou colorido e informe, menino intruso :: estou no desassossego :: estou no que é
meu arco e flecha de pensamento oriundo da galáxia possante e nervosa :: estou com meus sapatos
de maloqueiro, sambadores e generosos, irriquietos e puídos :: estou imenso, largo, uma avenida ::
e minha rua é um pensamento :: eu sou a avenida, por onde tudo corre, no desassossego :: eu sei
da lata de tinta que pintou as faixas de trânsito :: eu sei da rosquinha da lata de guaraná, que tilinta ::
seu frouxo armistício :: eu tenho medo com um capeta, por saber dos poderes :: eu simplesmente
não existo, sexo frágil e materno, recuperando o fôlego para recompor-me um dia em melhores
pensamentos, tamanho a "largueza" (desassossego, p. 50) de minha ternura :: eu tenho o livro
aberto e por ele enxergo tudo :: tabaco de fetiche amarrado :: cânhamo :: explosão noturna
"tudo o que dorme é criança de novo" ((d'o livRo do desassossego, fernando pessoA
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