brega sertaneja, neopentecostalismo, corrupção política, ideologia neoliberal e a permanência
dos traços arcaicos de nossa eterna casa gRande :: nunca o bRasil esteve tão feio, provavelmente
como resultado da junção desses ingredientes todos e o rumo que não poderia deixar de ser tomado
por uma nação capitalista do mundo "em desenvolvimento", de dimensões continentais, nesse início século ::
a cultura de massas, 30 anos atrás, aproximadamente, começou a acentuar a probabilidade dessa
falta de beleza :: expandiu-se a pobreza espiritual :: o povo carece de referências :: a favela retrocedeu,
na esteira da falência da brasilidade que lhe era própria :: o mesmo aconteceu no que diz respeito
ao horizonte da música sertaneja urbana :: aqueles arcaísmos recolhidos por villa-lobos, no interior
do bRasil do início do século XX, e agregados ao repertório mais refinado de nossa cultura, simplesmente se encontram soterrados ::
seu rumor tornou-se inaudível para as novas gerações, desde que sua última reverbaração, fruto da revolução
tropicalista dos ano 1960, deixou de fazer efeito sobre a alma de nossos artistas criadores :: nossa massa,
criada nesse período, e aumentada pelo aumento do poder de consumo, encontra-se absolutamente
desconectada da raiz :: somos nesse momento simplesmente um país sem cabeça, abrindo a passagem
para fenômenos como o nazi-fascismo de eduardo cunha e jair bolsonaro :: sem beleza, é impossível
viver :: sem beleza, o rito da sociabilidade geral da nação se deteriora :: o bRasil sofre nesse
momento
sua mais grave crise de identidade, e o governo do pT, infelizmente vítima de um golpe de estAdo,
vinha sendo uma importante via de construção de resistência frente às forças perturbadoras de nossa soberania
estética ((forças tanto internas como externas)) :: que fazer agora? :: como superar o imenso abismo
que nos separa de um futuro autônomo? ::
Nesta produção, que é muito mais uma experiência, um ensaio aberto, do que uma narrativa de estrutura fechada com início-meio-fim, tradicionalmente entendida por produção cinematográfica, a dimensão ritualística da obra glauberiana é levada ao extremo. Trata-se de uma pajelança, um rito que mescla práticas religiosas indígenas com elementos católicos, espíritas e de seitas afrobrasileiras, “uma missa bárbara”, como o próprio cineasta definiu, que celebra a ascensão de uma nova divindade, o Cristo do Terceiro Mundo, o Cristo múltiplo e coletivo, constituído pelo povo em seu êxtase místico. Um Cristo que não é o do martírio na cruz, mas o da ressurreição, da libertação, cujo percurso é retratado por Glauber por meio do uso de linguagens diversas como a poesia, o teatro, a entrevista, a farsa, o documentário.
https://abralic.org.br/eventos/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/062/ANNA_FREITAS.pdf
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