domingo, 9 de dezembro de 2018

a forma sexual resume o processo de produção e reprodução da vida :: e o planeta terra, antes de qualquer

coisa, é um organismo vivo, um processo intenso de produção e reprodução de vida, e, portanto, sobretudo,

um espaço de sentido sexual intrínseco :: a vontade de fazer sexo

não é outra coisa que não a vontade de reproduzir-se e de, portanto, continuar vivo :: o episódio do médium

joão de dEus, contra o qual pesam várias acusações de abuso sexual em um ambienTe religioso até então absolutamente

insuspeito, recorda-nos de uma situação problemática e fixa, constante, dizendo respeito ao controle dessa

vontade de vida ::  se o prazer que nos proporciona a vida é buscado sem limites, nega-se o sentido de cultura

ou civilização, pelo qual devemos aprender a serenar nossos desejos :: o caso de joão de dEus é típico,

pois produz a constatação, também constante, de que o masculino ama reproduzir-se e espalhar sua semente ::

do ponto de vista das pulsões inconscientes, o masculino é essa força que não merece ser extinta, pois isso comprometeria

a continuidade da vida, mas sim "domesticada" ::

sempre neguei o comportamento masculino de colecionar conquistas sexuais de um ponto vista quantitativo ::

com o tempo, compreendi que o desejo sexual tanto é melhor controlado quanto aprendemos a "trabalhá-lo"

sem simplesmente negá-lo ((como se ele fosse a fonte de um prazer apenas espúrio ou pecaminoso)) :: na verdade,

ele é, mais do que tudo, a fonte de toda a vida que nos cerca :: nietzsche condenava veementemente a cultura católica por sua

prática de "jogar lama" exatamente naquilo que é a fonte da própria vida :: em outras palavras, por transformar a sexualidade humana

em simples pecado, por demonizar o desejo :: a verdade sobre o caso joão de dEus ainda é obscura, mas a se confirmarem

todas as denúncias, creio que se estabelece, antes de tudo, o sentido do medo que nós seres humanos devemos

ter de nós mesmos, e o modo como devemos tratar esse sentimento :: o medo é, antes, proteção diante do que não

se conhece ou se controla :: é como o fogo :: ser imprudente na relação com esse elemento da natureza pode ser fatal :: é como no caso da tecnologia, onde descobertas ou invenções pode representar tanto paz

como violência :: o caso atual da internet é notório :: e a violência, o desastre, o indesejado, surgem quando não aprendemos

a lidar de maneira adequada com fenômenos que muitas vezes, evidentemente, extrapolam nossa compreensão ::

a postura obscurantista, tão em voga atualmente, surge justamente dessa ignorância e da incapacidade ou resistência

em se superar essa ignorância  ::

tratar a sexualidade humana como um tabu, coisa que a extrema direita, no bRasil e no mundo vem
fazendo de maneira

bastante assustadora, impede o desenvolvimento espiritual do ser humano enquanto coletividade :: os tempos

são obscuros justamente pela prevalência de um medo desmedido, que se sobrepõe à coragem de exploração de novos territórios

de ciência e sabedoria :: nossa imaginação geralmente é quem dá conta dessa ambiguidade inevitável :: constatar que mesmo um

homem supostamente santo sucumbiu à força do desejo, que, a propósito, anda colada ao receio do desamparo e da solidão,

nos coloca em pleno estado de cultivo de soluções para o convívio, que se desenvolve sobretudo de modo inconsciente ::

há um zelo permanente por parte de nossas forças imaginativas mais divinas que responde por tais vigílias :: e uma humanidade

cada vez mais conectada, de certo modo, corresponde a um sentido desse "sonhar juntos" cada vez mais intenso ::

cada vez que esquecemos dessas terríveis dificuldades compreendidas pela vida em sociedade, cada vez mais

interconectada, entramos em "trabalho de parto" para dar origem a formas culturais redentoras :: o valor dos

arquétipos inconscientes, como nos informa a teoria junguiana, evidencia-se em situações como o atual momento

histórico :: aliás, o rito de sentir medo e sonhar, em conjunto, primeiramente em uma performance conduzida

pela comunicação de massas (cinema, televisão, rádio, imprensa, livros), e agora por meio da internet,

intensificou ao longo das últimas décadas :: somos agora a sociedade sonhadora por excelência, para que nossos

arquétipos inconscientes formulem poderosos mitos que dêem conta de um processo constante de humanização,

onde o amor e a beleza acabam por vencer o ódio, a insegurança, as atrocidades :: sempre tenso, esse processo,

antes de tudo, inspira esperança, revelando uma fonte salvífica inesgotável, que nos faz no mínimo desconfiar

da existência de um sentido superior e protetor, daquilo que temos por hábito chamar de dEus ::


psicoloGia esquerda direita ::



 

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