coisa, é um organismo vivo, um processo intenso de produção e reprodução de vida, e, portanto, sobretudo,
um espaço de sentido sexual intrínseco :: a vontade de fazer sexo
não é outra coisa que não a vontade de reproduzir-se e de, portanto, continuar vivo :: o episódio do médium
joão de dEus, contra o qual pesam várias acusações de abuso sexual em um ambienTe religioso até então absolutamente
insuspeito, recorda-nos de uma situação problemática e fixa, constante, dizendo respeito ao controle dessa
vontade de vida :: se o prazer que nos proporciona a vida é buscado sem limites, nega-se o sentido de cultura
ou civilização, pelo qual devemos aprender a serenar nossos desejos :: o caso de joão de dEus é típico,
pois produz a constatação, também constante, de que o masculino ama reproduzir-se e espalhar sua semente ::
do ponto de vista das pulsões inconscientes, o masculino é essa força que não merece ser extinta, pois isso comprometeria
a continuidade da vida, mas sim "domesticada" ::
sempre neguei o comportamento masculino de colecionar conquistas sexuais de um ponto vista quantitativo ::
com o tempo, compreendi que o desejo sexual tanto é melhor controlado quanto aprendemos a "trabalhá-lo"
sem simplesmente negá-lo ((como se ele fosse a fonte de um prazer apenas espúrio ou pecaminoso)) :: na verdade,
ele é, mais do que tudo, a fonte de toda a vida que nos cerca :: nietzsche condenava veementemente a cultura católica por sua
prática de "jogar lama" exatamente naquilo que é a fonte da própria vida :: em outras palavras, por transformar a sexualidade humana
em simples pecado, por demonizar o desejo :: a verdade sobre o caso joão de dEus ainda é obscura, mas a se confirmarem
todas as denúncias, creio que se estabelece, antes de tudo, o sentido do medo que nós seres humanos devemos
ter de nós mesmos, e o modo como devemos tratar esse sentimento :: o medo é, antes, proteção diante do que não
se conhece ou se controla :: é como o fogo :: ser imprudente na relação com esse elemento da natureza pode ser fatal :: é como no caso da tecnologia, onde descobertas ou invenções pode representar tanto paz
como violência :: o caso atual da internet é notório :: e a violência, o desastre, o indesejado, surgem quando não aprendemos
a lidar de maneira adequada com fenômenos que muitas vezes, evidentemente, extrapolam nossa compreensão ::
a postura obscurantista, tão em voga atualmente, surge justamente dessa ignorância e da incapacidade ou resistência
em se superar essa ignorância ::
tratar a sexualidade humana como um tabu, coisa que a extrema direita, no bRasil e no mundo vem
fazendo de maneira
bastante assustadora, impede o desenvolvimento espiritual do ser humano enquanto coletividade :: os tempos
são obscuros justamente pela prevalência de um medo desmedido, que se sobrepõe à coragem de exploração de novos territórios
de ciência e sabedoria :: nossa imaginação geralmente é quem dá conta dessa ambiguidade inevitável :: constatar que mesmo um
homem supostamente santo sucumbiu à força do desejo, que, a propósito, anda colada ao receio do desamparo e da solidão,
nos coloca em pleno estado de cultivo de soluções para o convívio, que se desenvolve sobretudo de modo inconsciente ::
há um zelo permanente por parte de nossas forças imaginativas mais divinas que responde por tais vigílias :: e uma humanidade
cada vez mais conectada, de certo modo, corresponde a um sentido desse "sonhar juntos" cada vez mais intenso ::
cada vez que esquecemos dessas terríveis dificuldades compreendidas pela vida em sociedade, cada vez mais
interconectada, entramos em "trabalho de parto" para dar origem a formas culturais redentoras :: o valor dos
arquétipos inconscientes, como nos informa a teoria junguiana, evidencia-se em situações como o atual momento
histórico :: aliás, o rito de sentir medo e sonhar, em conjunto, primeiramente em uma performance conduzida
pela comunicação de massas (cinema, televisão, rádio, imprensa, livros), e agora por meio da internet,
intensificou ao longo das últimas décadas :: somos agora a sociedade sonhadora por excelência, para que nossos
arquétipos inconscientes formulem poderosos mitos que dêem conta de um processo constante de humanização,
onde o amor e a beleza acabam por vencer o ódio, a insegurança, as atrocidades :: sempre tenso, esse processo,
antes de tudo, inspira esperança, revelando uma fonte salvífica inesgotável, que nos faz no mínimo desconfiar
da existência de um sentido superior e protetor, daquilo que temos por hábito chamar de dEus ::
psicoloGia esquerda direita ::
Nenhum comentário:
Postar um comentário