segunda-feira, 17 de dezembro de 2018




Júpiter Maçã, assim como Edu K, sempre foi uma grande promessa. Sucesso de críticas, aclamado pelo público, mas deslocado geograficamente e distante da hegemonia identitária cultural do Brasil. O funk carioca, o miami bass, a psicodelia, o hard rock, o mod, etc – tudo garante com que haja um processo de não não-identificação com a cultura brasileira, e, possivelmente, com a própria cultura gaúcha. ((p. 3

a questão é mais complexa na medida em que esses artistas encarnam um sentido mítico pré-existente,

o que significaria que nunca deixam de ser radicalmente identificados com as culturas regional e nacional ::

sendo essa relação do rock com o rio grande do sul um potencial de ressurgimento/recriação do próprio rock,

o que se observaria também, por exemplo, no caso de vitor ramil ::



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minha cabeça cabocla é colocada a prêmio :: só ela sabe esperar :: só ela se recosta, à noite, no travesseiro,
para atravessar o mar da agrura, e voltar admirada e plena, grande e gentil, plena de galanteio :: minha cabeça
cabocla é uma perna, que boleia o pingo, e se lança sozinha e selvagem, incendiada de credo, na busca desenfreada ::
eu poderia ser um simples funcionário da RBS :: eu sou um professor mal aninhado e cru, perdido e
crucificado :: eu rejeitei todas as formas perfeitas de acomodação e postura o cordata :: o chimarrão
na roda da amizade, que anda de mão em mão, alimenta revoltas, e se saboreia sozinho, se eu me entendo
indiozinho caboclo e suave da mate :: a prestação silvícola, o jejuar da mata :: a recusa do prato simples
matrimonial, que se come com abóbora :: e esses machos que sempre me oprimiram, comendo suas jantas,
pequenos, terão suas cabeças cortadas, de modo gentil, saboroso e agreste :: eu sou um reizinho
fulão, fulador, folião, saboroso e agreste :: as mamas me apertam, me fazem sentir o cheiro gentil
da mata do vizinho, o cheiro do melzinho das abelhas :: eu sou esse bebezinho comendo, amigo das abelhas,
capaz de suportar nos ouvidos todo o furor de meus primos e suas produções, seus passar de veneno,
o mau cheiro das salada de maionese, e de suas mulheres, mal amadas :: e depois, quando vão para a cidade, e entopem o vaso dos sanitários
das cidades, com sua merda toda, e seus parcos salários :: na construção dessa cidade, uma dinamizadora,
alta, verde, de olhos azuis incompreensíveis :: na cidade baixa, depois de me reduzir ao pó :: vejo os trios elétricos,
os trens, as construções incompreensíveis, no modo como tudo provém da água, do ventre da mama,
mesmo nós, bravos pelejadores, e em como somos nuvem que passa, descarregada :: me ajeito no automóvel
que me trazia, todo o fim de ano, ou em ocasião de festa, do interior para a cidade, da água do rio para
a metrópole :: na tarde quente, o balanço da água, e de um vento que corta :: a rebentação, a mó da
cidade, no quarto, dormindo, ouvindo rock, e mesmo agora, a esperança, invejosa, de que eu seja um simples
bailador :: penso nessa bacia das águas, e no jantar bento de iansã, no seu "corre", no modo como me
projetou menininho manso, anelado, grudado aos livros, depois deles retirado e deixado ao relento,
para amanhecer qual a torta de um pasto :: "conheço todo o rio grande, qualquer estrada ou atalho" ::
me transformei em um bento pasto, firme e sossegado, para o pastoreio :: volto a sorrir intenso,
bento prado da revolução farroupilha esquecida que ao som dos beatles se abriu :: caio fernando plácido, sorrindo,
sossegado :: luminar sossegado, estrela sossegada :: atravesso o jacuí todo plácido, novo mantra do
bebezinho, sossegado :: vertente pura, sossegada :: liga-se a TV, não há mais um simples jornaldo almoço ::
há o banho plácido da estrela que me conecta a borges, o centauro :: sinto hoje em satolep, sou o barão
varado do triunfo, amanhecido em balas de plástico, embaladas a plásticos, em saquinhos, amarradas ::
marquinhos, o enforcado, varando ao fundo das águas, deixando-se afogado pelo batismo dos santos
óleos, inesquecido e comendo, orixá menino, guerreiro, caio fernando foi meu pasto, e sou minuzzi,
o carregado, o trilho elétrico para toda a vazão do antigo gado, mugindo galanteios, romântico pasto
alegre :: sinto hoje, longe de porto alegre, que sou um despacho, um bode em sacrifício, coberto
com o milho das bibocas, o vício alegre de perdoar um filho, o galanteio avantajado ::

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