a palavra brota da água, da revolução interna de um mar revolto :: ao fundo do fundo do fundo
dos olhos de nossas senhoras - nossos olhos são miríades de ovários,
nossas águas, nossas senhoras - agitam-se imensos canaviais, que ardem em direção ao propósito
de
uma vida melhor, mais intensa em seu equilíbrio, profundamente mais mansa :: há na erupção dessas fontes agrárias míticas,
uma camponesa regulação, um povo em protesto, a proteger não apenas uma água geral e rica, nutritiva,
mas nossa sede por tal proteção - nossa fé, nossa religiosidade, nossa televisão, nossa internet, nossa
procura paciente por uma habitação fértil para nossos filhos:: essas mães em recato ovulam nossa própria imaginação,
porque sonham ter filhos com a belezA de seus homens marujos guerreiros :: produzem nossas formas
possíveis de ser e agir, pensar, trabalhar, casar, amar, morrer, interagir ::
adoro pensar
que somos isso, enquanto todos pensam que certamente somos outra coisa, menos estas
fantasmagorias, na consideração que fazem
sobre os nós da vida política, nas ruas e cidades de nossa ampla sociedade miscigenada :: quero
cada vez mais prender-me ao devaneio de que somos todos frutos de pensamentos de corporeidades
absurdas, orgânicas, lentamente organizadas no inconsciente mítico do país, peneiradas de modo
a ter se densificado nelas todo um excesso de docilidade e gentileza :: uma força profunda de nosso açúcar
matrimonial - o primeiro rendilhado, nossa primeira costura entre as possibilidades genético-culturais
branCa, indígena, negrA ::
nossaS mães, nossas musAs, com toqUes refinados de princesAs, interferem desse modo todo dia
sobre nossas lidas e pequenos dramas domésticos :: como professoras, pensam o âmbito
geral
da nação, em seu jornalismo recuperado pela internet, nos cultivos diários de forças escritoras
e radialistas, no comércio aberto e estimulado, na variedade da ciência, erudita e popular,
na indústria, nos esportes, nos métodos de temperar
o tempo, o sagrado e o sossego, entrE várias outrAs coisas, em seus mínimos detalhes :: são forças de
lavar,
cozinhar, costurar, acender fogueiras, erigir poderes, formatar modelos, cortar, produzir ::
repres
entar, significar, fingir, mentir, arrastar, destruir :: representam um poder protetor oculto, militar e feminino sobre o brAsil inteiro ::
são forças invisíveis como a eletricidade, são a própria força que sopra o vento onírico de nosso
imaginário, orixás da pobreza, do luxo e da riqueza, das armas líquidas, do cigarro e da capoeira,
dos intensos amores brotados nas grutas, favelas e mitos de cultura popular à varejo ::
são doreS intenSas de fios estiCados por ponTas de estrelas ::
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