segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ser amoroSo



ser amoroso reflete a cordura de um ponto de encontro, o resultado
de uma cura :: homenageia

a brandura do sentir-se selvagem, mas humano :: às portas do paraíso,
onde não existe nem opressão,

ou loucura, por ninguém sentir-se reprimido por lei alguma, regra ou
atraso social, as dobras  do corpo se

enternecem :: ser amoroso é um efeito de sentido, como diriam os
semiologistas, um contraste

entre o julgamento e a opinião, a que estamos condenados, pelo convívio social,
e a capacidade

obtida de, mesmo crucificado pelo jugo, recordar-se plenamente dos anos de escola,
do jardim

da infância, da amável e insubstituível professora :: ser amoroso é encontrar-se
apaixonadamente

perdido pelo abismo, no qual nos jogamos, na ânsia de amar alguém, sem saber que
o outro é sepultura,

e erguer-se daí redivivo, amando, provável e recomposto :: é subir no ônibus,
depois disso,

e prosseguir a vida normal na cidade obscura em que nos encontramos,
iguais a todos,

e juntos, ao mesmo tempo, sem holofotes, famas ou vaidades :: mas fiéis a nós
mesmos, e uns aos

outros, como o fazem os lobos, na inteligência da matilha - ou as abelhas, no
sinal bíblico, da permanência da colmeia



,

como espetacular signo :: nessa composição, amar possui a textura delicada de uma
massa folheada,

amassada com carinho mais o sal de algumas lágrimas :: massa confortável, quente,
aromática, saborosa,

delícia de suavidade, finamente representando o supremo contato afetivo
imemorial recalcado, o mítico sertão esperançoso ::

derrete na boca, sobe aos olhos, fornece ao coração da ternura mais misteriosa
que possa haver,

precisa na expressão estética, que não causa vergonha
ou constrangimento :: na

posição fetal amanhecida em que me encontro, estou apenas amando
e permanecendo, como

um leito de um rio arenoso, que fala e encanta ::




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