domingo, 11 de janeiro de 2015

sendo o medo nossa evoluçãO





"Não cometeríamos um erro, todos nós, ao 
fundamentarmos nossos juízos em lapsos de 
tempo demasiado curtos? 
Deveríamos tomar os geólogos como exemplo." 
(Freud, 'O futuro de uma ilusão')


"Paradoxalmente, o medo libera instintos sígnicos poderosos. A necessidade é o grande mote da criação." (Minuzzi)




a questão árabe/judaica me suscita, antes de tudo, muito medo :: mas de um medo telúrico, geológico ::

vejo essas formações culturais intensas, caso do islã, ou do cristianismo, como revelações do fundo da terra respondendo a clamores

profundamente humanos :: não acho que religiões sejam facilidades que o homem criou, para se iludir ::

não :: ao fundo, são lembranças profundas de uma psique adormecida ((evidentemente, sigo aqui
uma

linha de análise mais dada à psicanálise :: não vejo como fugir de tal linha :: a análise hoje em
dia

desses fenômenos, como no caso, agora, do massacre na redação do jornal Charlie Hebdo, deveria englobar uma espécie

de auscultação subterrânea, do inconsciente :: acho que uma tal ciência ainda se encontre em seu início ::

mas, para ela, deveríamos levar em conta, antes de tudo, que o mito surge como revelação suscitada
pelo medo,

e formações míticas como essas, grandiosas, que sustentam meio continente, um continente
inteiro,

ou um hemisfério inteiro, como na divisão clássica entre ocidente e oriente, são acima de
tudo

liberações originais, conteúdos que a psique humana revelou ((no sentido de trazê-los de uma
profundidade

obscura para a luz de um palco, uma cena, uma visão)), e que funcionam até mesmo como espetáculo,

evidentemente grandioso :: tais visões vêm sempre como que cravejadas de diamantes, pedras preciosas :: e parecem ser anunciadas

como tesouros, que propõem riquezas e o fim do sofrimento :: este, o sofrimento, sempre imposto
pela

condição física, de submissão do humano à matéria, à atividade empírica do mundo ::  ao mesmo
tempo,

essas formações que o inconsciente libera representam "cozimentos", no sentido de uma longa
costura,

arquitetada por um período longo de tempo :: nesse período se estabelecem trocas, no plano empírico
da realidade,

que proporcionam acúmulos, estoques de conhecimentos e emoções :: no limite, cada religião é fruto de um vasto período

de sofrimento, na relação do homem com a terra, em seu processo de busca para o alívio da dor
que causa

planTa :: oliveiRA
o existir, em todas as suas exigências de produzir para a sobrevivência, e reproduzir-se,
sexualmente,

considerando-se os apelos da hominização ((quando o ser humano eleva-se em relação
ao instinto

básico, passando a controlá-lo e buscando uma condição mais sublime, próxima daquilo
que universalmente

se conhece por "amor" :: na relação do homem com a mulher, ainda, a revelação
mítica aponta

para uma espécie de "domesticação" :: sempre haverá um torpor masculino a ser sossegado
na busca por

um número infinito de mulheres, como frEud viu, ao análisar o inconsciente, e diagnosticar
o anseio


universal pelo retorno ao útero materno :: daí o furor do mito, em sua necessidade de expansão,
e o medo

que nos pode causar qualquer civilização, como agora, no caso dos atentados em paRis ::
quem pode

parar com o cristianismo, no sentido de conter sua onda de dominação, sua libido, seu entorpecimento

oriundo do prazer de governar? :: essas vastidões conquistadas pelo ocidente, a partir da europa, na reunião exata entre helenismo grego e judaísmo

cristão, representam esse medo de perda do aconchego proporcionado pelo útero ((o que a literatura
sagrada chama

mesmo de "paraíso")), possuindo a textura de erupções vulcânicas :: a terrA emana
seus viscos,

suas orientações, que são fruto de seu próprio pensamento íntimo, orgânico :: a terra como
um organismo

vivo e pensante, inteligência pura, lava ardente ::  por certo, viver sobre a superfície do planeta é algo repleto de riscos, algo muito perigoso, pois suas paixões

são virulentas, e aquilo que aflora, como tesouro mítico, vai ao encontro de um povo (para  redimi-lo), e de encontro

a outros povos (para inevitavelmente pressioná-los, em uma relação de convívio))  :: com isso, há
um

espalhamento de tensões causadas por opulências, por sugestões de contato com a camada
mais viva

e livre da terra, seu prazer, seu estertor, sua intimidade profunda, seu útero, seu feminino sagrado :: depois de 2 mil anos de cristianismo,

a consumir relações e propor degredos, a questão agora é saber se essa espécie de mito comandante
de uma

nave espacial, que é a terra, terá condições para ordernar a concretização de uma convivência
de forças

míticas que não abale estruturalmente o planeta ((como quase aconteceu com a Segunda
Guerra
miTo :: deusA niX (grécia)

Mundial :: ao fundo, somos todos muito amados por essa mãe generosa :: na costura de um outro mito que nos sirva para o futuro, e que nos envolva,

como um manto para uma humanidade recém-nascida, é que se dá o trabalho agora da natureZa,
essa eterna

e laboriosa cozinheira :: o drama de seus filhos é real e existe, abalando nossas convicções, e nos enchendo de medo ::

a convivência pacífica entre os diferentes requer tamanha paciência, que somente o medo ((o medo de morrer, o medo

de que nossa viagem pelo cosmo infinito se acabe)) é capaz de torná-la possível :: as costuras por conjunções

são infinitas, muitas vezes ocorrem em segredo, e o tempo vivido em contato multicultural, nesse momento




único da trajetória humana, obrigatoriamente tenso, nos obrigará a fazer submergir do fundo de nossa psique

((agora integrada pelo inglês e a internet)) uma nova solução para os nossos problemas de convivência ::

simplesmente porque ninguém prefere a morte ((só "saúde e sortE", como afirmou o poeta:: nesse sentido, o islã cumpre papel decisivo, pois avisa a europa,


e o estados unidos, sobre a existência de sua natural arrogância, obrigando-nos a um alargamento
de

fronteiras - fronteiras do pensamento humano - que recomponha saberes fundamentais sobre
como

alimentar famintos e dar-lhes bons sonhos, bons sentimentos, na sua necessária vinculação
como o

território e o amor à pátriA :: não é fácil, mas o significado profundo de ser um filho da
mãe terra

encontra-se nesse pertencimento a um sentido quase mágico de superação e heroísmo,
como no caso

dos ensinamentos legados pelos grandes profetas das grandes religiões ((cristo, buda, maomé, moisés :: não sejamos "burros",

e tenhamos a capacidade de entender o sentido dos mitos, mais especificamente em seu aspecto sagrado,

esforçando-nos por incorporar a sacralidade ao nosso modo secular de ser :: é por aí, creio, o caminho a ser seguido ::



arte :: badi assAd



2 comentários:

  1. A própria possibilidade de entendimentos já é sacra. Sois, assim, deus e profeta. O medo também parece ampliar a consciência coletiva. As coisas são, acontecem e a gente fica aturdido. Seu esclarecimento indica caminho e também consolo de algum modo a nós que só observamos.

    Grande abraço, mestre!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Há um desespero, eterno, provocado pela permanente tensão, a provocar o sonhador, deus e profeta :: e isso, efetivamente, é muito sagrado :: obrigado, João, pela atenção...

      Excluir