segunda-feira, 27 de abril de 2015

raçA


cartola é o nosso espírito mais sutil, e por isso nossa melhor escola, como foi mahatma gandhi
para a íNdia :: sentidos pascoais se invertem, nossa camisa invertida, estação primeira de mangueira,
uma nação inteira a nos explorar, os estados unidos da américa do norte, tomando a alma de nossas
filhos, por ter tomado o território inteiro da favela :: na
 relação cordial de um índio sutil, que sopra
como passarinho, está cartola :: não há alegria, nem revelação maior que essa, tão grande e espiritualmente
farta, fecunda, como a de krishna em gandhi para seus súditos :: cartola lembra os sentidos ocultos
mais resplandescentes do imaginário brasileiro :: o modo como batucar sem fazer barulho,  a respiração
que se alinha a um murmúrio longínquo de águas, onde se apascenta o cordeiro :: nele, está a gentileza,
fruto de um futuro agreste, pelo abate que se deu :: cartola caído no esquecimento :: cartola
o mais sensível de todos os generosos pensadores filhos de iemamjá, feito da pedra tumular da favela, dela saído, feito
revelação, chamuscado pelas cinzas que se lhe proporcionaram pelo seu enterro, feito morto-vivo ::
se hoje a favela revela figuras realmente impressionantes para o universo onírico brasileiro, como os
assassinatos em massa de crianças, ou a tortura da "chapa quente" que é viver em seus becos - sob a forma 
manifestações artisticas como o funk -, o tempo que revelou cartola era o do próprio surgimento samba, no início do século passado,
quando mã
es de santo, vindas da bahia, abençoaram as subidas e descidas do morro :: no rito da escravidão
inacabada que há em ser do morro, surgiram figuras doces como resistência, qual as balas de coco ou
quindins nas oferendas de santo :: a comparação com o divino do agreste está aí :: um homem
precisa ser capaz de amar mesmo em meio a in
tensos tiroteios :: é certo que lampião amou maria
bonita, e reza a lenda que tornou-se o compositor de pelo menos uma música (("mulher rendeira"(( ::
no bRasil vago, distante, esses são nossos vingadores da paz :: a comparação com a índiA acontece
por meio da permanente opressão por parte do imperialismo dos generais brancos :: se não nos deitamos
em gretas profundas e que cravam espinhos, formulando o pensamento alimentador do tempo escravo vivido com glória,
as reses forjam uma resistência não humana, mas animal ((como acontece agora, com os tiros e bombas
do narcotráfico :: cortaDo pela violência do império britâNIco, a semelhança de cristo à época dos romanoS,
gandhi gerou uma consciência de paz e harmonia, ao não pregar o confronto armado como forma
de recuperar a dignidade roubada de seu povo :: agora que o bRasil se assemelha caDa vez mais
a uma forma conflagrada pelo rito da eterna escraviDão, o exemplo tumular de cartoLa se ergue como profeciA ::
da civilidade desarmada do morrO, manifesTa no carnaVal carioCa, seus desfiles e escolas de 
samBa, desceu par
a o asfalTo um civilidadE amoroSa e integRadora, umA língua univeRsal amplA,
tão alegre como o futebol, a serviÇo do recato mais amplo da naçÃo, e o fim da violênCia :: são formas
que representaram e ainda representam um verdadEiro traTado linguístico, com seu conjunTo de
lenDas e ilusões que permitiram a integraÇão do país :: dessa ordem generosa e carnavalesca,
carTola é o príncipe sutil, o grão mEstre o
rienTador :: hoje, o abrandamenTo de sua exemplaridade
revela uma nação perdiDa e um pensamento vaGo
 sobre o futuRo que temos como bRasileiRos ::
vai chegAr a hora, por certo, de uma outra manifestação populaR, que seja assim tão simples
e poderoSa, capaz de nos fazer divagAr sobre a natureza dos costados da alma brAsileira, aquela
que nos ajudA a solucionar, inventiva e amorosamente, nosso tão sofrido cotidiano ::

3 comentários:

  1. Até nos mais pacificados emblemas, o cientista social procura as tensões internas, as trocas simbólicas, os conflitos que devem justificar tal e qual hegemonia cultural. Isso segue uma perspectiva crítica da Cultura, com a nostalgia de Frankfurt e de toda a sociologia europeia.

    Enxergar, por outro lado, a pacividade como resposta sobre o modo de resistência no caso do negro no Brasil é uma revolução teórica à brasileira que pode perder as decomposicoes analíticas de uma estudo social, mas ganha em profundidade e complexidade antropológica. Grande professor, na contramão de muito do que se tem estabelecido epistemologicamente.

    Um conhecimento metaforizante, alucinante, caminhante... estudo do simbólico com a linguagem do simbólico. A linguagem viva do mito vivo.

    Acolho bem a explicação. Obrigado!

    ResponderExcluir
  2. Até nos mais pacificados emblemas, o cientista social procura as tensões internas, as trocas simbólicas, os conflitos que devem justificar tal e qual hegemonia cultural. Isso segue uma perspectiva crítica da Cultura, com a nostalgia de Frankfurt e de toda a sociologia europeia.

    Enxergar, por outro lado, a pacividade como resposta sobre o modo de resistência no caso do negro no Brasil é uma revolução teórica à brasileira que pode perder as decomposicoes analíticas de uma estudo social, mas ganha em profundidade e complexidade antropológica. Grande professor, na contramão de muito do que se tem estabelecido epistemologicamente.

    Um conhecimento metaforizante, alucinante, caminhante... estudo do simbólico com a linguagem do simbólico. A linguagem viva do mito vivo.

    Acolho bem a explicação. Obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. eu saberia menos se fosse mais ativo que passivo, menos pobre e mais rico :: obrigado pelo comentário!!!! ::

      Excluir