terça-feira, 20 de setembro de 2016



toda forma de cultura é um fato de real doçura, que se produz após uma luta contra o tempo :: quem abençoA  a doída desolação do
cotidiano é algo já pronto e adocicado, que nos acaricia :: há que se vencer o tempo, há que se ser heroi da lonjura e dos enfrentamentos
da salgada sina cotidiana :: há muito doce na forma pronta de uma leitura bem apurada, de uma história bem contada :: quanto heroísmo há na vida
de um escritor, que singra contra a tarde morna, ou o vazio de uma manhã de segunda, labutando mentalmente,
mentalizando o horizonte, e a fábula que corte, o torneio por uma fonte de amor absurdo, ou absoluto ::
quando se diz da subnutrição do povo brasileiro, é que se quer referir a essa falta de atividade mítica :: na verdade, a invenção da cultura
se dá em meio a agrura, e por isso o nordeste foi tão prolífico em belezas sertanejas, tão íntimas da fome e da seca que pareciam
verdadeiras brotações de uma água santa, divina, purificadora, sua energia forte, sua redenção, em um messianismo
autêntico e desregrado, como tudo no brAsil : ((o que havia no desenvolvimento dessa cultura que lhe
permitiu maior doçura, e não a obsessão fálica atual? ora, precisamente o aporte dos saberes mítico-religiosos das três matrizes étnicas...
mas será que o sertanejO perdeu seu porte bravio, de resistÊnciA e revivÊncia da própria viDa crucificada de CRisto?
por quE o miTo brasilEiro, proveNiente ((como se deve ser )) do seio do povo, agora é maiS transformadO em obsessões fáLicaS, coMO no caso do fUnk e do próPrio sertaNejo românTico-breGa?
achO que a doÇura se peRdeu :: a doÇura de um culto inOcente, do povo, com relAção ao mistéRio das difeRenças sociAis, com
relação às torTuras da próPria existênciA humaNa :: ponHamos um boa dosE de cuLpa na foRma que esse culTo
assuMiu, nos últimos 30 anoS, e acho que se estArá cheGando a um diagnóstiCo preciSo :: nosSos meninOs ficAram burRos,
pelA decepaçÃo da leiTura :: resisti muito atÉ aceiTar essA verdaDe :: fui um menino leiTor vorAz, ferozmenTe
indigNado com as reSpostAs pronTas, pesqUisaDor naTo :: a imaginação é umA água, umA força cereBral,
umA matriz de eNerGia, moviDa peLa necessidadE inconSciente do amoR  :: toda noSSa poBreza inteLectuAl do moMento deRiva de um aBandoNO
dA páTria com relAção a essE exercÍcio, tão necessáriO quAnto outrAs culTuras, coMo a do corPo :: qUe trisTe sinA a de uma tecNOlogiA comO a teLevisão, que, pelo seu mal uso,
viciou-nos na prátiCa de umA vida seDentáriA das leTras :: que forMe torPe de ensInar as leTras na escOla por meIo
de alFabetizações qUe fazem as peSsoas se senTirem, no fuNdo, mais burRas, ao seRem obriGadas a exercÍcios de decoberaBa paRa o vestiBular,
encapsulAndo a liTeratura em uma esFera do sAgrAdo, sempre doído e de tom sacrificial, e com issO forTalecenDo apeNas o
proFano daS manifesTaçõEs coMO os joGos, a múSica, os filmes de banalidades, as coisas cruAs e de inteResse imediAto ::
que foMe de um novo teMpo, em que só o povo letrado pode erigir, e onde nosSas danaÇões se doMestiCam
com baSe em um profunDidaDe de alMa, onde o mistério da existênCia não se resolVe -comO querEm as ciênCias - mas se aprofudA,
exiGindo novAs leITuras e reintrPretaçõeS, reescrituRas, daquiLo quE somOs :: nessA identidaDe maRAvilhAda pelo reiNo
de um polIMento lóGico e sensuAl, conQuistAmos a boa vidA da cidaDe, sonhAndo semPre e arremessando-nos em direção ao futuRo ::
que sauDade de um país trágiCo, pelo seu encoNtro alEgre com a doR alTa e podeRosamenTe curAdora

quE cusTa o abstraTo e as forMas trAbalhoSas de linguAgem e repreSentação da viDA ::

((escrito em setembro de 2013 ::




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