sábado, 17 de setembro de 2016

o anti-bolsonaro que existe em mim

a metáfora do abismo é a que melhor define, talvez,a ocasião social do encontro entre alguém como
eu e pessoas 
que avaliam a possibilidade, por exemplo, de votar em Jair bolsonaro :: as relações ficam marcadas por um 
mal-estar profundo, como se se abrisse o chão sob os nossos pés e caíssemos,
eu e essas pessoas, em um vazio de sentido :: e tudo, à volta, tudo o que faz parte da vida a ser vivida no seio de uma
situação justa e equilibrada, saudável, bondosa, perde o gosto, o ânimo, o prazer :: e, de imediato, começamos a tatear, eu e essas pessoas, em um labirinto 
de perguntas angustiantes, envolvendo nossas definições sobre estilo de vida :: sobre o modo como organizamos o ser e o existir,
o modo como trabalhamos e educamos nossos filhos :: e, a partir dessa queda e dessa confusão se estabelece 
uma imensa de dificuldade de convívio, uma impossibilidade de dar as mãos e caminharmos juntos :: imagino
que seja tal situação a mesma que faça com que assistamos, no congresso nacional, verdadeiras
disputadas marcadas pelo ódio entre o próprio bolsonaro e Jean willys, por exemplo, ou entre bolsonaro e a deputada Maria
Do rosário :: ou ainda que faça Eduardo cunha virar as costas quando alguém da esquerda o fustiga com acusações 
e julgamentos :: a in-comunicação é completa ::

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a bolsonarização do Brasil, nesse momento, por todas essas razões, é uma das questões que mais
me intriga ::  
não sou herói, semi-deus, ou qualquer coisa parecida :: e por isso me concedo o direito de atravessar a vida sem 
ser vitalmente perturbado pela coexistência social de alguém que adoraria me ver mal, doente, na miséria, ou até mesmo morto :: 
eu, que amo falar do feminino, e defendê-lo :: eu, que combato o machismo e a misoginia de frente :: eu, que ajudo a defender a igualdade
entre os gêneros e a liberdade de escolha para a orientação sexual :: quero abrandar o sentimento de beligerância 
ocasionado pelo tal abismo, mas não consigo :: sinto que se faz necessária a altivez de minha autonomoia :: 
e  acho que foi isso que lula quis dizer quando se emocionou ao falar que havia conquistado o “direito de andar de cabeça erguida nesse país” :: as esquerdas
são justamente aqueles setores sócio-culturais que afinam sua percepção sobre os sentidos mais profundos
 da existência, o que imediatamente barra o recurso a qualquer tipo de violência como método de solução 
para o convívio entre diferenças :: por isso, meu plano não é eliminar bolsonaros, como certamente é o plano dos bolsonaros em relação ao tipo sócio-cultural que represento ::
no lugar disso, meu plano é justamente reivindicar o direito de existir sem ser perturbado :: estou de certo modo assombrado,
pois chego afinal à conclusão de que meu modo de ser, vestir, pensar, escrever, tudo, absolutamente tudo o que sou, atrai 
contra mim inúmeros bloqueios e cerceamentos :: por vezes, esses ventos contrários são imperceptíveis,
o que exige imensa habilidade, justamente, de altivez e autonomia :: politicamente, sou proibido e considerado
um mistério que sugere a eliminação, o extermínio :: mas persisto em ser o que sou, um convicto anti-bolsonaro 
a perturbar as explicações ideológicas que permitem a exploração do Brasil por forças impiedosas de destruição e escravização da vida ::




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