há meninos que sentem a doçura de serem meninos :: nessa revelação crística, negra e
indígena
mora a sonhada visão do paraíso brasileiro :: meus pares mantém-se em cordial distância,
recordam
medos originais, casas de onde saímos, as pólvoras e explosivos, os nossos melhores
momentos
enquanto dores insuportáveis que será preciso carregar, ordenhar, tornar brandura :: quanta
ócio a nos divertir :: quanto bom pensamento ::
porque sou andrógino, consigo captar tais essências, mesmo rigorosamente excluído do modo
legítimo de pensar e escrever nossos atuais livros :: porque sinto o sonhar de menino lusitano,
eu consigo :: as damas da morte me consomem, revirando meu cadáver, assando-me,
cozinhando-me ::
sou pequenino então como elas querem, pesquisador de um mito que forme bons revólveres,
formas novas de rock, de tiroteio :: olhar as damas nos resolve, seus amplos olhares sobre nós
mesmos :: quanta cordura na amplidão do vaso líquido de iemanjá, da negra doce e informe
como
um líquido amniótico, pai e mãe da sagrada menstruação que é estrutura do mito :: minha
mãe menininha, meu irmão
com melhores influências, a brincar com poesia ns ouvidos :: como somos espelho! :: como
rimos com natural cordura :: há uma elegia
ao prolongamento da história de nossos deuses :: cada filho consumindo energia e
proporcionando
visões :: ah!, tomada romântica de cada pequeno gesto com que brandimos nossa desilusão ::
o mar
oceânico ((o inconsciente do mito)), inconsciente e pedagógico, protetor involuntário, pode o
pensamento
trágico :: ossos e mais ossos, os ecos de uma guerra dos farrapos, a revolução :: com seu
espelho,
iemanjá nos direciona e cuida de porto alegre, dos bairros, das enseadas, da tristeza :: penso
nas maternidades, que são, antes, aquários de seres marinhos :: podemos todos ser habitantes
dentro da barriga da baleia, filhos dos cuidados da vagina? :: essa velha planta fantasmas, é
pacienciosa
com seus filhos, tece milhões de arabescos, sensual, inumana, ritualística :: ah, voduns e
bruxarias ::
os maus meninos que me tornaram tímido, irriquieto de vergonha,
verão o sonho de sua sensualidade elevar-se :: tornarem-se másculos elevados como
população ::
e o manto de oiá colore o ritmo :: ah, essa mãe, que nos dá a comer arroz com feijão :: pintanos
a ferro, nos faz brasileiros no suor de cada dia :: o que é bonito é sua doçura imensa, como no
colo
da família, no colo eterno, na rodovia do ônibus, no bairro assunção :: a realidade nos fantasia,
amigos, e quer ser cada vez mais
realidade ::
que bom poeta e trovador, que martelo infinito de xangô que aqui não é pixinguinha, mas
tarot
filosófico que recorre a galos de rinha, anímicos, gloriosos como capitão rodrigo :: sou filho
dessa
sensualidade, sempre neto, eterno, de bibiana, e nas carrocerias, nos andores, nas passadas,
pesadelos, iluminações e correrias, acordo pensamento, escrevo novas portas de visão sobre
o infinito :: quero todo o rio grande como quero menstruação, e se já cometo o nirvana do
incesto
que confere glórias ao machucado guerreiro ao infinito, é porque mereço, é porque sou
menino
som, guerreiro e altivo, neto de milton nascimento :: as plagas e as bonitas, os lenços, os
favores,
agulhas e pincéis :: as estocadas de lápis, de olho, de cada pintura exótica pintada pelo olhar
de princesa
das ondas ovarianas a nos carregar e fazer reproduzir incestos fantasiados de televisão :: o
prazer da província,
o som da rbs, a tímida revelação da grandiosidade humana em seu caudal de visões maternas
benignas do curral :: os litros de leite a alimentarem a tropa pronta e destinada ao abate :: a
minha
visão, a minha filha, a minha fala :: nos tornamos narrativa agora evocada à luz elétrica porque
escorre
da coxa morena a menstruação sagrada, vitalícia e plena :: cada bobagem vale a pena, quando
dita, repetida, codificada, porque vem dessa origem grega, de uma gente homérica :: e eu sou
o suor
de minha gente, transformado em gentileza :><