segunda-feira, 5 de outubro de 2015

eleGia

entendemos o alimento como retorno ao sonho de viver, quando nenhum pensamento ainda
era vício, e todos os contatos com o mundo eram fluidos, sensações organizadas do paraíso localizado

da mãe :: organizamos o tudo, para o contato do teu olho, que deflora o mundo :: e ela ali, tão específica,

a mansarda do mundo que há de te acolher, te requisitando o pensamento especial, nunca comum ::
há na leitura lenta desse logos específico e amoroso a tua perfeita galáxia, e somos todo expectativa

para o reencontro :: por que essa expectativa te dói tanto e te reencanta? :: porque vamos morrendo de sede

e de fome na medida em que nos distanciamos, em que o olho não mais se informa sobre os códigos
secretos do prazer ao infinito :: o molho esp

ecial, para tuas fornalhas
menino usado e a cada dia mais saudoso :: cada tempero é sal, que nos religa, e é sagrada eucaristia o

que comes, quando comes com antiquidades e requintes que somente
os altruístas conseguem oferecer :: é preciso dar à mesa, é preciso oferecer-se :: ato contínuo, é

preciso se
perder de si :: nós somos especialistas em massas e pães :: nós estamos torrados e com pruridos
de flor quanto espessuras, crocâncias, divindad


es da forma e da cor :: e comer... comer é esquecer

das agruras que tanto nos persuadem e, com calma romântica, ter o gesto amplo de deixar-se e
deixar o outro :: comer forma uma ciranda, onde todos arde, e por isso a calma que se restabelece ::
o materno enlace que providencia comida aos fi

lhos sabe que essa é a única hora do sossego,
por isso nosso útero imaginário, bem localizado em nossas cabeças, se perde ao finalizar o preparo
de uma refeição, esquenta todos os canais de contato com artes de ilusão pictórica ao infinito :: e o

mundo, hoje globalizado, é uma busca infinita pelo que se faz à mesa, com a calma equestre da ilusão
de pradarias íntimas, aconchegos absurdos entre rochas es
pecíficas e provações, desafios, rotas

de extrema unção :: e há uma ordem cavalariça, em que nos inscrevemos, persuadidos pela cozinha
eterna de uniões desconhecidas, novas possibilidades de união e de contato íntimo entre formas

puras que se procuram e se esvaem em auroras e benzeções que renovam tudo ::

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