sábado, 11 de outubro de 2014

visãO




"Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol. Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante. E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais. E assim - dizem - recontam a vida. Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos e aí estou pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo. Um rascunho, uma forma nebulosa feita de luz e sombra como uma estrela. Agora eu sou uma estrela."  ((poema de fernandO faro, recitado por eLIs regina em seu último show, "Trem Azul" ::


na praça tiradentes, ouro preto, minas geraes, renovam-se os votos de um
armistício :: ouço o cortejo

que leva o sonho dourado do bRasil, bem representado pelo amarelo ouro
da bandeira, bem guardado,

só podendo ser tocado por luvas imperiais, ouvidos que a natureza apurou,
como um concerto

sinfônico :: se fossemos ouvi-la, a musa, costurando nossa bandeira, veríamos
os inúmeros soldados,

levando para a confissão, o mito amarrado, o alferes, em sonho, crucificado ::
fica em paz com a tua

bandeira, ó mulato, que o sonho nos leva :: agora, já vejo bem, há um novo
cortejo de crucificação ::

que nos leva, como cortejo, de novo amarrado, em sonho :: esse é um bRasil que
se tece em torno de si mesmo,

consegue completar a volta :: o bandeirante transtornado pela doçura do
paraíso :: nossos vastos

medos :: a mulher que  cavalga são nossos medos :: nossos mitos :: tancredo
neves :: ayrton senna :: mãe janaina :: conseguimos

revelar o espírito humano em toda sua beatitude, como quase conseguiu são
francisco :: irmão pai,

irmã lua :: novas armas imperiais sossegam o espírito humano, já conseguimos ver
o futuro :: a linda

inconfidência, confluência do deus imaginado, o brasil tão longe, apenas imaginado,
como futuros múltiplos

e bem amarrados, costurados, numa refazenda latina, vistos com bons olhos de pássaro,
aos quais se ofertam

flores, e muito sangue, beberagem madura de xamã e telas de antônio poteiro ::
múltiplos meninos saem como olhos em telas de denso

ardor :: caem, quebram a cabeça nas pedras da avenida central, praça tiradentes,
ouro velho,


manhas de escravo, magia que cose a postura altiva do marinheiro, malandro,
cantador, escravo ::

deveríamos pensar nos algozes e sua função, nossa vilania geral, a vila boa do
remédio oriental :: a mais cristã de todas as pátrias será

aquela que sofrer e se oferece no maior de todos os sacrifícios :: na cruz, o medo
foi vencido :: o medo se transforma,

em bandeiras e harmonias de jazz, esmolas no sinaleiro, improviso mambembe
de repórter fuleiro ::

guitarras e mímicas :: mijadas alegres e festivas, animando o pasto alegre :: o menino
correndo

com a paz entre os braços :: a paz prometida, a paz do espírito trágico, a paz do
úNico, a paz do primeiro

passo :: o braço alegre, a poesia, o jeitão de mago, capaz de converter diabo em
cristo, e o cristo em

diabo, sem que ninguém perceba :: alegria curumim :: o deus da mata virgem, e
gilberto gil :: já vejo o mito de novo chegando,

e arrebanhando seus vozerios :: algo precisa morrer!, gritam os soldados, imponentes ::
solos de guitarra,

ouvem-se, são gemidos, violinos arrebantando as cordas, são os tinos cordiais da
cordura insustentável

de menino :: a cada vez que o bRasil morre, como agora, no picadeiro, com uma
bala na cabeça, ou no peito, há um tanto de gente inumana

que fica bem contente, o cérebro restabelecido, no contato com sua imaginação primitiva sanguinolenta ::

amarra-se o menino :: que seja enforcado com os cadarços do tÊnis da morte, a
R$ 500 reais o calço,



na batida do funk :: o começo de tudo na latrina da favela :: bata-se, bata-se,
bata-se :: o bRasil morre ::

bata-se, bata-se, bata-se :: o bRasil morre, mais uma vez :: o bRasil morre :: mais
uma vez :: desse ruído de morte,

entre feras absurdas e noturas, desponta a aurora, fantasia do nordeste :: agora se fizeram
ruir todas

os atabaques e chocalhos da naÇão :: por sermos a classe média, pensam os algozes,
nossos carros

originais intuem uma beleza menos candente :: nossas suítes querem o sexo à
vontade da corrupção ::

querem o mar de soldados vendendo veneno, agrotóxico, sujeira, imundície,
xuxa :: querem o tempo único da vida,

peitos de silicone, vícios de cocaína, pensamentos nada bons, que sempre
intuem um puteiro

grande, enorme :: estão todas elas ali, as enforcadinhas, meninas africanas, bem
negrinhas, índias com a raspada

vagina, um colar de contas na virília, o ventre liso, um casamento rápido e
servil :: bRasil, a pátRia corroída :: em 500 anos

de nossa aventura, um canto de asa quebRada, uma inumana violação :: a dor se
ergue encapsulada, capsulas de beleza e imaginação

concentradas :: nosso suor :: eácio se ergue com as palomas da morte :: junto com
ele estão os mantras

da concentração explosiva, o genocídio cultural e guarani :: como as escravas que
se despiam e ficavam nuas para o

41. senhor :: senhor, seu falo é sua metralhadora, meu senhor,  é o fim último de
seu regulamento:: pronto,

novamente a pátria está fodida e os címbalos da vida cingem de ouro os ouvidos
da noiva da morte ::

acabe-se, asfalte-se :: da pátria escorre sangue, que fertiliza o solo :: na dor da
praça tiradentes,

úmidas plantinhas se intumescem :: são os olhos de nossos mestres, são a
poeira estelar agreste

do infinito :: concentram tesão e gelo :: cortam e ritualizam :: logo, a marcha fará
recomeçar a brotação

leve de uma fina camada artista, continuando o sonho breve e fugaz sob a lona do
circo que sonhou elis regina ::





domingo, 5 de outubro de 2014

o títulO




a colheita complexa das intenções, em uma eleição, é ao mesmo
tempo simples, como no trabalho

das abelhas na colmeia :: a razão única, maior, muitas vezes incompreendida,
ou muda, (porque

inconsciente), é o medo da desunião :: nisso, a complexa simplicidade :: é o medo
que temos, sempre forte e latejante, embora sutil, de que a sociedade

se transforme em brutalidades atrozes advindas da natureza conflitiva do ser
humano :: é por conta de um sossegamento

desse medo que todas as abelhas/pessoas trabalham, independentemente das
posições sociais que assumem, de classe, cor, gênero, religião ::

nossa forma artística regional brasilEira é o resulTado dessa união prática e
unicamente pictórica, que vive

apenas como mito :: ela prevalece, sempre, alegre e matreiRa, mesmo que a superfície
da realidade se cubra dos mais severos episódios de violência,

das mais derradeiras e difíceis bandeiras de superação da diferença :: ela é o menino
alegre que joga

bola na favela :: ela é o assaltante de banco que posta sua foto na internet ::  na desunião
radica o medO óbvio

e fundante de não possuirmos amoR :: e é a esse complexo de amor/medo/desunião
que se deve atribuir a origem

da fabricação do mais puro mel da colmeia, nosso artefato mítico usado para a
costura permanente

e a deflagração da alma brasileira, vista por outros países como suficientemente
ameaçadora a ponto

de mantermos nossa sabedoria soberana, enquanto brasileiros :: o bRasil foi um país,
basicamente, conflagrado, em seus 500 e poucos anos de história,

seguindo um destino de luta encarniçada por independência :: na morte de
tanCredo se teria

encerrado um ciclo heroico de sucessões e assassinatos :: mas ainda
houve collOr, para

não deixar dúvidas quanto À existência dos severos deusEs e demônios que,
assustadores, mas

ao mesmo tempo inofensivos, tomam contA da alma nacionaL :: depois disso, a
democracia assentou, e a velha direiTa passou a mais ou

menos respeitar as regras do jogo :: mas sempre comandada por um ímpeto
do tornar nosso povo um gemido

lancinante de dor, como no caos que impera por meio dos comandos da
corrupção, do crime organizado

e do genocídio organizado nas periferias :: somos uma forma de nave que
navega longínqua  no tempo, navio negreiro

mar adentro, comandado, como não poderia deixar de ser, pelo medo :: mas
esse medo, como se

falou acima, é salutar, porque gera ao mesmo tempo alegria :: há uma graça
no combate :: há uma alegria que é parte

integrante da diferença :: fico daqui apenas admirando esse movimento
ancestral, que se torna

cada vez mais limpo de sangue :: cada vez mais dando oportunidade - devido à
superação da guerra





como violência física - ao mito da mulher também combatente :: e eis que se chega
ao ponto máximo do rito de

nossa organização social, que prenuncia o valor de uma pátria conduzida pelos
valores sagrados do

feminino :: sagrados porque tidos como universais, sem implicar,
necessariamente, em uma existência

religiosa para esses valores :: mesmo que mariNa silva não passe ao
segundo turnO, essas eleições já se apresentaram como as

em que um maior número de mulheres efetivamente assumiram posições
de destaque :: e isso é tão virtuoso para a

democracia brasileira quanto já termos entronado um líder trabalhador
do povo, em uma nação desde

a medula comandada por ferozes oligarcas escravagistas, verdadeiros
coronelões imperiais ::

a vida, de certo modo, imita não apenas a arte, como também a natureza ::
e será que

não já estaremos chegando, também, à sabedoria das abelhaS, tornando
mais visível

o esforço coletivo em prol do sentido de proteção máxima que apenas
a rainha mãe,

ou seja, a abelha rainha, consegue transmitir a todos, sem distinções? ::
ela, que nos transmite um

esforço apenas demonstrativo, baseado no simples exemplo da maternidade,
sem qualquer

tipo de imposição pela força física violenta? :: peço desculpa aos machões
de sempre, mas,

sem dúvidas, esse é o significado evidente do grande momento histórico
pelo qual estamos passando ::

uma ascensão do feminino, provavelmente sem chance alguma de recuo ::
pois, desta ascensão

será proveniente um mel, cujo sabor, inigualável, será impossível
esquecer :: e é em

torno desse resultado de satisfação humana primordial que nos organizamos,
desde

sempre, mesmo sem saber :: peço desculpas aos que não conseguem ver
sentido no

que estou falando, e que se julgam apenas guerreiros
nessa

batalha, orienTados por interesses mais imediatos, pessoais, ideológicos,
econômicos, acadêmicos :: preocupados

apenas em saber o que vai fazer dilma, ou o que vai representar o
governo aécio ::

mas estou ficando já farto dessa falta de habilidade de interpretar
o bRasil ::

o bRasil é muito mais do que simplesmente isso, é muito mais do que
um simples resultado

econômico ou a simples luta de classes :: o bRasil é um poema aberto ::
para ser interpretado,

o bRasil requer muita calma e paciência, como no caso explícito dos
dengos baianos que nos fundaram como

cultura moderna, fincada na malemolência ((hoje tão combatida :: como
no caso do arquétipo

da mãe original lavadeira nordestina, que, mesmo calma e contrita, espalha
nervosamente seu medo,

qual geração de energia elétrica, enquanto bate com as roupas lavadas da
família inteira nas pedras de um lajedo,

em um córrego de água limpa, atemorizando calmamente a tudo e a todos ::
aquilo que

não se vê a poesia se encarrega de mostrar :: estamos
grávidos

de humanidade, e o bRasil gerador de um humano simples prevalece
em seu mito, como no

dia de hoje, quando milhões irão às urnAs, ostentando bandeiras de até
mesmo ódio, mas unidos

pela complexa cera que mantém unidas as partes da colmeia :: estamos
em guerra pelo amoR ::

 estamos em guerra pelo menino e o nascimento da esperanÇa ::



terça-feira, 30 de setembro de 2014

a árvoRe




a vida se encontra completamente contida no trabalho que faz
uma árvore, nos levando a buscar

o exemplo vegetal como modelo de educação, especialmente em
seu sentido como objeto ou elemento

purificador :: que trabalho há na árvore, na apologia que faz ao permanecer,
ao movimento, que lhe

é próprio, de simplesmente ficar, imóvel, estática, plantada, atravessando o
tempo, enquanto cresce

e atinge plenitude e  crescimento? :: uma circulação permanente de
conceitos vivos, constantemente

reavivados pela troca que a árvore faz com os elementos da natureza ao
seu redor :: na árvore, pousam pássaros,

acima de tudo, e ela se deixa tocar, sentida e generosa :: a árvore é branca e
iluminada, recebe as bandas

do sol, lentamente, se deixa tocar, de novo, grossa em suas cascas, cega no sentido
oracular da percepção

da luz divina, lembrando uma água :: faz o movimento da mulher grávida,
do acúmulo de ingredientes

em solução aquosa, e funciona como estoque, protegendo-se dos ataques da luz
impiedosa :: por isso

que funciona como sombra, aquilo que produz sombra, fábrica de frescor ::
meus ninhos colocados

em seus galhos, meus olhos furados em busca de perdão :: por ser tão antiga,
a árvore representa

um antigo rupestre, uma atividade plena de pintura feita com tinta e pena dos
animais atingidos pelo abate

que o instinto direciona :: somente vejo a escola dessa forma, uma escola da
natureza :: a antiga árvore mãe,

mariológica, reproduzindo em seu ventre o ninho, o calor colocado e aconchegante,
como o de uma concha,

uma mão, produzindo carinho, amor :: passa a circular então, por meio da seiva
da árvore, atingindo

todos os seus extremos, que são mitos, uns cantos capazes de proezas vivas
de meninos, na capacidade

de amar, desses meninos que deixam saudades, porque foram homens sãos,
líquidos e tenazes :: fazem

amor como meninos, impregnados da bênção da menina, a auréola delas
feminina, sua sorte longínqua

de estrela algoz e irrestrita no mantra da paz universal :: são meninos de suas
mães, banhados e xamÂnicos, revelados em crua diversidade,

com a função unívoca de plantar línguas e espalhar o tímido reflexo da
bondade original da placenta,

do aconchego, do frescor da grande árvore :: somente na espinha dorsal que
faz enxergar o olho

é que se planta uma árvore, tirada como bolinha ou semente, produzindo meninos
alegres, de distante

alegria genital, obscuros em suas barbas de profetas, velhos como meninos
que jamais crescem :: ela,

a árvore astral, com suas obscuras e fogosas bandas da morte, a nos comandar
em revoluções e aconchegos

de arte, em côncavos de ventre onde estão sensualidades que são umbigos e
cabelos genitais doces, uterinos ::

a árvore em seu tempo de maturação, de apodrecimento doce e sentido,
em envelhecimento, fezes

e urina :: a árvore como um defecar do mal, nas tramas obscuras com os gérmens
que são devoluções

do benfazejo :: a árvore por isso purifica os pensamentos, é sempre, toda ela, uma
alegria imensa

e viva, como sua corola ardente, completa, mas tímida, única,
resplandecente :: que na

vida toda se direciona o símbolo da arte, e as faces dos artistas, com seus
alaridos e musicalidade ::

a árvore, em definitivo, é o que planta cultura, faz a guerra pop da atualidade ::
a árvore quíntupla

do mito alucinado, toda rechaçada por seus mitos, e atingida pelos raios das
explosões, de hitler,

dos assassinos de gandhi e lennon, da explosão atômicA, com a função de,
enquanto fossa genital,

com raízes plantadas no karma do lodo do universo, procurar vivacidades
nítidas feitas nos laboratórios

dos gênios do universo, em busca de cura :: eu amo a árvore pelo seu perigo
e sua crueza farrapa de herói

farroupilha, quando penso na regionalidade de sua arborização só minha ::
levo a árvore a escola ::

a escola que é só minha, para aprender a cultuar pós-modernidades :: a árvore
que pensa e coordena

os movimentos de bote da serpente :: a árvore do ancestral capoeirista que
ensinou a lírica aos gaúchos ::

a árvore rock, com uns galhos falhados de percussão jazzística e pensamento
freireano :: a árvore

de o tempo e o vento e sonoridades absurdas, sempre vindas da banda da
morte, onde, dependurado

em um de seus galhos, como um velho iogue sobrevivendo de vermes e
mosquitos, eu sobrevivo ::

e permaneço, e cultuo o espírito, ora mais com os pés, ora mais com a cabeça,
respirando e rindo,

sempre respirando e rindo :: a árvore da seiva torpe de dioniso, na regulação
de herA :: a árvore do sangue

de cristo e suas miríades de dicionários artísticos :: a árvore boniTa dos mil
meninos e milhares de afetos ::



terça-feira, 23 de setembro de 2014

deuSes





quando a desunião prevalece, somos a vitória do medo, formando
ilhas de erro e atrocidades ::

em meio a tal oceano, o instinto do amor fica soando, ave que pia
permanentemente :: soa o ruído

de um pássaro verde, com asas de metal, libertador :: seu espírito é o
mistério, e ele consegue

doces entropias, profusões de pensamentos, até a liberdade arder em
chamas :: a prevalência

da desunião é a vontade escondida, que temos, de ver tal pássaro
des-esconder-se, aparecer,

na franja do abismo :: apontar, no limite do desespero :: a ignorância,
a fome, o racismo, o preconceito

((exatamente o espírito prevalecente de agora, é o trampolim inconsciente
que usamos para

lançá-lo voando no espaço, como triunfo da espécie :: há, efetivamente,
que se ter nervos de ferro

e aço para suportar tamanhos ritos de evolução e crescimento, que nos
perseguem desde a aurora do mundo que conhecemos,

que governam, impiedosos, nossos milhares de anos de história :: quando tal
rito permanente de sacrifício se aprofunda,

tornando aquilo que é crônico em algo agudo, e difícil, portanto, de ser
suportado,

como nos períodos das grandes guerras, logramos voar em saltos
acrobáticos, vencendo

o tempo, coletivamente, o que nos torna profundamente dignos dos
mais profundos

e elogiosos aplausos e gritos de reconhecimento :: somos então
deuses,

como os que nos regulam desde a generosidade de seu mistério absoluto ::




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ser amoroSo



ser amoroso reflete a cordura de um ponto de encontro, o resultado
de uma cura :: homenageia

a brandura do sentir-se selvagem, mas humano :: às portas do paraíso,
onde não existe nem opressão,

ou loucura, por ninguém sentir-se reprimido por lei alguma, regra ou
atraso social, as dobras  do corpo se

enternecem :: ser amoroso é um efeito de sentido, como diriam os
semiologistas, um contraste

entre o julgamento e a opinião, a que estamos condenados, pelo convívio social,
e a capacidade

obtida de, mesmo crucificado pelo jugo, recordar-se plenamente dos anos de escola,
do jardim

da infância, da amável e insubstituível professora :: ser amoroso é encontrar-se
apaixonadamente

perdido pelo abismo, no qual nos jogamos, na ânsia de amar alguém, sem saber que
o outro é sepultura,

e erguer-se daí redivivo, amando, provável e recomposto :: é subir no ônibus,
depois disso,

e prosseguir a vida normal na cidade obscura em que nos encontramos,
iguais a todos,

e juntos, ao mesmo tempo, sem holofotes, famas ou vaidades :: mas fiéis a nós
mesmos, e uns aos

outros, como o fazem os lobos, na inteligência da matilha - ou as abelhas, no
sinal bíblico, da permanência da colmeia



,

como espetacular signo :: nessa composição, amar possui a textura delicada de uma
massa folheada,

amassada com carinho mais o sal de algumas lágrimas :: massa confortável, quente,
aromática, saborosa,

delícia de suavidade, finamente representando o supremo contato afetivo
imemorial recalcado, o mítico sertão esperançoso ::

derrete na boca, sobe aos olhos, fornece ao coração da ternura mais misteriosa
que possa haver,

precisa na expressão estética, que não causa vergonha
ou constrangimento :: na

posição fetal amanhecida em que me encontro, estou apenas amando
e permanecendo, como

um leito de um rio arenoso, que fala e encanta ::




amaR, e, na distância, tão somente amAr...




que distÂncia nos separa de um bRasil senda luminosa do futuro? ::
precisam soar atabaques e

maracás :: e  que se manifeste um lirismo lusitano, pé de carne fortalecido
pela expansão, pelo pensamento

angélico do dioniso ancestral longínquo e grego, seus longos cabelos,
robustecidos ao

longo dos séculos vestidos que formaram a europa :: e quando esses elementos
estiverem, em si,

reunidos, acavalando-se em formosura delicada e quente, na liga gentil doce
e generosa,

a moça gloriosa, segurando um seio ((como nas vidências de uma tela de
friDa kahLo, fará escorrer a força

de sua ruminação noturna, seu néctar acumulado, um leite como que fruto
de sua genialidadE, alimenTando a criançA

((no caso, nosso povo :: ah, que fruto de genialidade :: o emblema de fRida
ajuda a promover uma poderosa onda imagétiCa,

himen a ser rompido pelo pensamento que quiser oferecer, pela
compreensão, a beleza poética, pictórica e quente

de todo o mito da sociedade indusTrial e pós-industriAl que se tornará
toda a

américa latina e, dentro dela, idolatradamente, o bRasil :: há que se
empreender a

leitura simpleS doS pés da bailarinA, a sapatilha trançAda, forçandO o cavalgAr
sob o seu luar






do serTão, o sagrado mênstruO, sua desforRa, sua metralhadoRa, sua imensa
brinCadeira de rua, em dançAs repletas

de jazz e sofreguidão, no crescimento orienTal da cabeÇa da criançA latina,
astuta, chilena

ou evangéLIca :: há que se permanecer na contemplação do corpo esbelto da
moçA, sua satisfação

no voo, a vocação paRa uma cerTa virilidaDe, para que lhE surjam mesmo
alguns pelos no rosto e no peiTo,

sa leituRa forçAda pelos ócuLos de lampião, o chapéu cangaceiro, a foice cega
para o cortE da canA :: a inteligênciA

intrépidA da amériCa, da moçA em criSto :: essa moça, como a qual, com
que a arte de

friDa brinca, e dela é uma brincadeiRa, represenTa todo um maio transcendente
 e espírita,

enquanto encarnação de um espírito oco e iluminado, com flechas apontado
para o céu ::

tudo é iluminado e inominável :: tudo é internet, erÊ, nova york e rosa
pink, nos

signos compoStos da evolução de marioneTes, na guerra fria espanholA,
na cóleRa, no

pesado carregamento de fardas do capitalismo norte-americano, sua
apropriação sobre






o solo e sob o sol da califórniA, sua cultuRa piamentE hippie :: que cura
mais afastaDa

romanticamente :: que loa mais complexa :: nossos signos, os signos da
velha europA,

tornaram-se pobres para expressar onde quer chegar a moça :: na tela, a
expressão caraíBa!,

oswald de andrade!, tarsila! :: mais da bela, por séculos e séculos, a bordo
de um treinzin caipiRa ::

os seios da moçA, sua direção redentoRa como amazonA, entoando o céu
da cidade de são paulo,

o ferro e o petróleo mexicanos, seus automóVeis, a revelação carnavalesca
e industrial, o chocolate

e o ayuasca, a bondade inca, maia e azteca e, por fim, do mangue À favela,
a rocinha, vila

cruzeiro e restinGa :: essa moça, segura um canhão, é gente homériCa,
abate reses ::

sua divisão generosa das atribuições de gÊnero desenha um másculo
gentil, um

chico buarque, e uma fêmea viril :: na partilha do chão, no parcelamento
da vida, há que

se ter generosidade com sua presença de rua, maracatunizando
o planeTa  ::

"essa moça tá diferente", ensaindo passos de chico science,
gaúcha e macha :: macha e gaúcha,

a la teixerinha e gildo de freitas  :: mais que isso :: vaginA distribuíDa
por condõEs

do imponderÁvel, que a escondeM, sempRe revoltosa,
iluminaDa,

belA, intocáVel :: seus seios sãO bastantE selvaGens, intoxicaram
trOtsky, emanam ilusões xamÂnicas intangíveiS,

como naS equaçõEs de frEud sobrE o inconsciEnte, atraem a fúria
do islã,

fermentam a guerrilha  perdulária, na conta do traficante
da selVa

e na favela, na mediDa do corte de naValha que leva a montAnha a
pariR uma

overdose, ninhaDas de inseTos e multidões urbanaS
faminTas, oculTas

em uma glória voejante de krishna :: há que se compreender a redenção
gloriosa do feminino em seu emblema

sagrado, de puta virgem :: o sal que lhe escorre como lágrima estrelada,
como fátima, aparecida, maria, de guadalupe,

maria bonita, a fátima da televisão, telenovela, enjoo dominical, água
com açúcar ::

abacate :: uma religiosa mal compreendida :: joana darc de
saias, escondida ::

há uma tal vontadE mítica e univerSal em tal imagem, que, se
jazer interrompiDa




em sua emanção de cruelDAde e cordurA, gera ou toTAl opressão,
ou total anarquia,

bem ao gosto das invenções sociológicas do século XX ::
é um monsTro

de 27 cabeçAs e caviDAdes absuRdas :: giratóRio e ruminante :: quando
se fala em busca

da cura, há uma reinvenção necessária, a partir de um chão domesticAdo ::
na posição

mexicana de entrAda à porta dos esTados unidos, pai da opressão, está
o lema brando dessa juvenil

fagueira, a moça gloriosa, em seus primeiros ensaios de libertação dos
seios e

quiçá, por último, da vaginA, gloriosa, mentE supremA e absurDA,
como suprema

comunhão com a natureza mais humana, a carne última, espírito
encarnado da

floresta, inteligência rápiDa, velocíssimA, controle absoluto sobre o
funcionamento da máquina

e da cultura :: coube às sociedades latino-americanas, na constituição
da américA, em ritos de violência,

delírio e sensualidade, por conta da social e racial mistuRa, em umA
boCa comenDo

e mistuRando pedaços de fruTas, óleos, cerEais, narcóticos, tabAcos
e bebidAs, entoAndo

ainDa manTras em posiçõEs sexuAis imiTando umA foRma de lótUs
gentil, agrária e indíGena,

compor a tela para o hino dionisíaco, que não se chamA simplesmente
"alegria", mas também

"cordurA" :: nossas cores vivas e quentes, da floresta, revelAm
o vai e

vem do peito da mãe, extasiante :: nossa pedra a ser quebRada, sob
traBalho escravo e tortuRa ((como nas

ditaduras militares dos anos 60 e 70, produzeM a secuRa do padrão
operÁrio, forte emblEma do rebanho

sacrificado de criSto :: a abrasividade ibéRica, sua ternuRa que deu a
volTa ao mundo, incandesCente,

fortaleceu-Se na loucuRa da colonização do conTinente :: misturaram-sE
as índias, rebentaRam com suas fainAs

douRadas, de araçazinhos, javalis, preguiças, pequenos bichos incendiados
do mato :: no

louvor banto dos rios que haviam ficado n'áfrica, o potenciAl de amor ::
tudo isso é muito

obscuro, mas se tivéssemos acessO À câmara alva mas escura em
que nossa

constituição étnica é pensAda, como novo tipo de gente e, acima
de tudo, como

redenção gloriosa da moça, resolveríAmos grandEs incertezas
quanto a


nosso futuro :: ((falou aqui o pai máximO de ianjá-carajá-
bantô-ribeiro,

vulgo cara pretA de homerO - saravá, na glóriA de crisTo
nosso seNHor,

salve tupac-amaro-cordura, el poderoso!




++++++++
               <<<<<<<    ......................


áGora :: a iDAde da terRA

" (...) o filme pode construir e constituir em si mesmo um projeto de reescrita da história latino-americana a partir do Brasil, demarcando momentos-chave da formação do continente através de seus diversos atores histórico-sociais alegorizados nas figuras dos quatro Cristos da trama: o Índio, o Negro, o Militar e o Guerreiro. ((p. 04

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

um labirinto chamado bRasil






forçamos a barra, exageramos, quando se trata de não amar o que somos ::
que o povo brasileiro

nega a si próprio, não é novidade :: que, de tempos em tempos,
acordamos brevemente para nossa

realidade miscigenada, deixando de nos comportar como os judeus
que levaram cristo à cruz,

aceitando com isso nossas raízes caboclas, também sabemos, ou deveríamos
saber :: agora vamos retomando aos poucos

nossa inteligência tropicalista, ao timidamente, como massa, conceder uma
discreta preferência

a Carlinhos Brown em relação aos demais tipos  "sanguíneos" (Lulu Santos,
Claudia Leitte, Daniel)

existentes no espectro do atual panteão brasileiro de mitos musicais,
representados

no reality show "The Voice Brazil" :: ou será que me equivoco? ::
figura carismática,

Brown, com sua pujante liberdade e valentia negras, creio que reencarna
valores que acabam afirmando-se sozinhos, sem esforço

:: pode ser que haja uma apropriação ingênua de sua maneira
divertida e "maluca"

de ser, baseada no exotismo, ao modo da apreciação que o "civilizado",
o "normal",

faz do gênero "folclórico" :: mas isso é o de menos :: somente o indício
de uma superação

da verve a cada dia mais racista que nos assola já me é capaz de
causar

algum otimismo :: ele próprio, Brown, vinha sendo vítima de imenso
preconceito, mas, na senda

de sua popularidade construída pelo reality show, reposicionou seu carisma,
ao que parece, para o bem da alma tropicalista

brasileira :: superou o preconceito que outra representante dessa mesma alma,
Regina Casé,

com seu "Esquenta", igualmente vem enfrentando, de maneira impiedosa, e sem
conseguir reagir à

altura :: parece que a fórmula de REgina, de protagonizar a favela, o morro, na
televisão, com todos os seus modos

de diversão e produção de carinho e agregação familiar, pela junção sincera
e alegre da gente pobre

e negra, só tem conseguido atrair mais raiva em direção a essa formulação
antiga do brasil bem brasileiro ::

contra esta disposição vem avançando uma outra vontade, bruta e perversa,
de barrar a reafirmação

do nosso processo geral de mestiçamento :: santa potência tropicalista, somente
mesmo a variação inconsciente

de um bRasil inédito e surpreendente para produzir uma nova junção familiar
brasileira, onde todos sintam-se gratos,

uns na presença dos outros :: na violência desse processo, devemos nos esforçar
para ver a própria ritualidade lancinante de mistura

antropofágica das massas, no governo geral de distribuição da pobreza e da
riqueza, da saúde e da

doença, da glória e da esperança :: como disseram os tropicalistas,
na canção

"Ora pro Nobis", há um sentar à mesa para a ceia, uma distribuição e
um compartilhamento ::

nesta relação carnal e conjugal, se dá a construção complexa e intrincada de
um mesmo rosto nacional,

em que todos se reconheçam (("Derramemos vinho no linho da mesa/Molhada
de vinho e manchada

de sangue", diz a letra) :: nisso, a importância da mídia, em especial, até agora,
da Rede Globo,

como Caetano Veloso nunca deixou de afirmar :: mas que novo rosto
será esse, para além

da mulata desenhada na adoração que se fazia da favela e do carnaval,
e que quase já não funciona

como mito de unidade? ::  onde andará a nova aliança integradora da alma
brasileira? ::

será uma síntese como a conformação esquisita que vem se plasmando até agora,
ao redor de marina silva,

ela mesma capaz de reunir em torno de si pessoas das mais diferentes
origens e situações sociais? ::

seria possível afirmar que a potência antropofágica de Marina
estaria na sua relação ambivalente

tanto com a esquerda como com a direita? :: independente disso, na variação
do mundo a ser transformado, desde a última

onda tropicalista, nas décadas de 60 e 70, o que realmente precisa ser
levado em conta nesse momento é o enorme crescimento

da religião evangélica neopentecostal, ela mesma tendendo a um recuo na
miscigenação, desde que possui

como uma de suas pedras fundamentais a pregação do bispo eDir maceDo
contra as religiões afro-brasileiras ::

eis que surge então a revelação de nosso próprio método antropofágico
inconsciente, que ama buscar complicações

para desafiar a si mesmo, como um atleta  ou artista - nossa própria
alma - que não deseja jamais cessar em seus voos e

evoluções, verdadeiras acrobacias a exigirem conhecimento cada vez
mais profundo da própria alma

do mundo :: no mundo inteiro, o aumento da diferença, e do perigo da falta
de tolerância para

com a diversidade, vem sendo tão grande (impulsionado pela internet, que se
não reforçamos nesse momento uma leitura

das capacidades generosas e agregadoras da alma inteira da humanidade, a
violência se torna incontida :: para uma violência-mundo,

precisamos de uma abertura espacial, renovadora, em direção ao infinito,
novamente buscando soluções

que desconhecemos ::  é uma grandeza muito "grande" de pensamento que
se exige hoje em dia, para enfrentarmos todos os dias

os inimigos eternos encarnados no preconceito :: reunir à mesma mesa,
para o compartilhamento

da vida em alegria, os defensores das minorias étnicas brasileiras, de
um modo geral,

situados À esquerda no espectro ideologico , e a imensa massa neopentecostal,
de um modo geral,

À direita, requer muito senso de humanidade e imensa capacidade de abstração ::
GAndhi fez algo que

merece ser visto como exemplo, na ÍNdia, no início de século XX, ao simplesmente
levar adiante a

proposta cristã do amor ao próximo, insuflando a revolta de seu país contra o império
britânico por meio

da não-violência :: conseguiu, e o registro de sua atuação faz penetrar na realidade
sócio-histórica

a sensação de que cristo ou buda caminharam novamente sobre a face da terra,
operando o milagre

do amor universal, aquele que não conhece diferenças :: no bRasil, Gandhi certamente
insuflaria esse amor

até que todos se sentissem bem em seu próprio credo, sem importar-se com
as diferenças de estilo :: a "invasão"

neopentecostal sobre nosso país de raízes latinas e católicas configura talvez a
maior de todas as obrigações

de amor ao próximo que, enquanto civilização, o bRAsil precisa enfrentar, depois de ter pacientemente

costurado o mito da cordialidade entre as três raças - mito que agora se encontra
colocado em cheque

pela própria onda neopentecostal :: uma alteração assim, em termos de
mudança de rota no curso de nossa cultura,

pode ser estranhamente colocada, como metáfora, em paralelo com a própria queda
do avião que alterou o rumo da eleição presidencial

desse ano :: é abrupta e inesperada, apontando um rumo incerto :: que marina silva é
uma síntese do bRasil, deveríamos saber - desse brAsil novo,

reafirmando-se, mais uma vez, em seu caráter labiríntico  e quase
desesperador :: de que modo se desenrolará

um possível governo seu, ainda é cedo para dizer qualquer coisa :: mas é certo que
anda uma potência

antropofágica, sempre, por detrás dessas configurações :: como diz
a filósofa

Marilena Chauí, o mito fundador brasileiro não cessa de repor a si
mesmo, podendo ser

visto em todos os principais momentos políticos da história do país (estado
novo, suicídio de getúlio,

golpe de 64, morte de tancredo etc.) :: nele, sempre vem se expressar uma corrente
autoritária,

impondo a visão do país como paraíso na terra, identificado ao limite máximo
com a natureza gloriosa

do dEus, a despeito da democracia e suas instituições :: fica nosso estarrecimento,
ou daquele que é capaz de se estarrecer, perante formas

tão complexas de realização do destino :: ou, como dizia Tom JObim, o bRasil, para ser compreendido,

requer bem mais do que um certo amadorismo de alma e espírito :: requer talento,
estratégia

e originalidade, como fizeram os tropicalistas de 67 :: bem mais que uma força
política, e esta é uma conclusão

importante, o que está faltando ao país é um belo de um renascimento artístico,
algo bem mais de acordo

com a lógica poética do inconsciente e, portanto, mais potencialmente capaz de
construir a tão necessária paz :: quem sabe a aparente vitória

de carlinhos bRown não sinalize nessa direção :: quem sabe... :: de qualquer modo,
fica evidente, por todas

essas considerações, que nossas formas de integração social precisam mudar ::
e, o que é preocupante  - nossa

forma de pensar a sociedade desconhece uma fórmula concreta para enfrentar
tal desafio :: o modo de ser,

herdado do século XX, e partilhado pelo conjunto da humanidade ocidental,
permanece centrado no

racionalismo científico, e seus pilares para a construção da cidadania (política, mídia
e educação) ::

estrutura amplamente esclerosada e que se abre, mesmo sem permitir ou perceber,
a novas formas

de relacionamento, graças à força e ao ímpeto de uma nova razão configuradora
da realidade,

contida na internet :: precisamos buscar a fórmula de um novo partilhamento,
a começar pela poeticidade

da vida - um retorno mesmo ao mito, ao mistério, ao inconsciente, para que a
partir de sua benfazeja

desordem, voltemos a uma nova ordem :: precisamos deixar de ser machistas e
aceitar o pensamento

leve e sutil da arte :: não há mais uma vitória da seriedade ou da sisudez, mas
sim uma

consideração leve do problema social a ser enfrentado :: dentro disso, torna-se
possível afirmar

que, mais importante para a definição dos rumos da nação, que uma eleição
majoritária

para presidente, em uma jovem democracia como a nossa, será um reality show
musical, assim como foram os festivais

de música dos anos 60, na época da ditadura e da cultura de rebeldia
juvenil :: e se, naquela época, havia

uma mão de ferro da ditadura, uma expressão do poder na máquina de
Estado, hoje esse poder encontra-se

cada vez mais no âmbito da cultura e suas pululações pela rede mundial de
computadores:: que se riam os fracos

em esperança dessa afirmação :: novamente, como nunca me cansei de afirmar -
o fio de ariadne

para sair do labirinto chamado brasil, como bem sabia Glauber Rocha, é pela
renovação da arte :: que

se revelem, portanto, novas forças estéticas de nossa cultura, por que isso
sim é o que

faz a diferença, e produz real avanço, em uma sociedade como a brasileira,
complexa

e destinada a concentrar em si todos os atributos da pós-modernidade ::



sábado, 6 de setembro de 2014

++ aos novos e velhOs casais ((ou, o desafio da cAsa




quantas vezes, nós, homens, não consideramos a mulher um "bicho esquisito"? ::
falam, masculino

e feminino, efetivamente, códigos universais diferentes, no sentido de
habitarem diferentes esferas

de sonho :: pensam diferente, agem diferente, e por isso consomem seu tempo
de convívio tensamente costurando a paz,

via de regra sob  a forma de bandeiras que são enxovais de casal e roupinhas
de bebê, para diminuírem

o impacto de uma guerra eterna causada pelo infinito de sua diferença ::  posso, na
continuidade

do processo de costura dessa bandeira de guerra e paz, aprender coisas íntimas
do universo feminino? ::

posso, por exemplo, como homem, aprender a cuidar bem de uma casa? ::
vejo nesse pergunta

o sentido próprio do destino da civilização :: casa da vida cotidiana, que vai do macro
ao micro, e vice-versa,

da residÊncia em nossa rua e bairro  à esfera planetária :: a persistência
neste "desafio da casa"

poderia agora também virar hit na internet, penso, pois não me canso de constatar
o quanto

o elemento macho da espécie humana precisa estar sendo constantemente colocado
em contato

com a forma feminina para apurar seus modos de teoria e conhecimento prático da
vida::

uma nuvem de fumaça tóxica toma conta da inteligência
masculina -

e aposto que isso pode ser cientificamente comprovado - quando se trata
de desempenhar

determinadas tarefas mais próximas do feminino :: vejo os novos rapazes de
certo modo um pouco perdidos nessa

confusão, estreitando os laços com o mundo da imaginação tipicamente do homem
(as viagens, as buscas, as lutas,

as correrias, as bebedeiras), sem se darem por conta que se vai armando, no seio dos
aconchegos românticos recém formados pelo fogo

sensual e misterioso do namoro/casamento, uma bomba relógio, ou seja, um artefato
destruidor até

já com hora marcada para explodir - atualizando-se o ciclo eterno da criação mediante
a destruição ::

por tal ciclo, a família vai se recriando mediante o transtorno inevitável causado
pelo choque entre homem

e mulher dividindo o árduo da vida e suas múltiplas responsabilidades do
cotidiano doméstico ::

em determinado momento, nossos filhos, amargurados pela pouca felicidade do
casal gerador, também inevitavelmente buscarão

um lar mais amoroso do aqueles em que cresceram :: as mães devem ficar atentas
a seus filhos homem ::

a elegância desses meninos no futuro, os modos que precisarão ter no trato doméstico
e diário com as

demandas inocentes e puras do feminino, as exigências para com as formas naturais
da princesa-menina,

que nunca abandonam a mulher (mesmo uma senhora de 90 anos precisa
sentir-se uma princesa)

dependem de um padrão materno de exigência ::  quantas vezes você, mãe, vai -
no limite - reclamar que seu filho

não serve para nada? :: vai gritar, esganiçar-se, efetivamente perder a razão? ::
provavelmente para

o resto da vida, ainda, pois a espécie humana evolui mediante essa espécie de
histeria coletiva,

uma dor de útero que veio plasmando, ao longo de nossa história, a rendição
da fera frente ao

belo, da monstruosidade a que o mito masculino pode conduzir frente a beleza eterna
e impossível do

feminino :: a mulher, no limite, é louca, lógica e lírica, e faz tudo por seu
amado :: render-se (ou matar o dragão que

impede a chegada à torre em que dorme a princesa) representa  amar o
próprio amor, confirmar a

lenda de sua existência :: hoje em dia, o dragão, depois de milênios de sua eterna
domesticação, encontra-se na infinita

dificuldade de se estabelecer uma relação gentil no seio da vida conjugal
amadurecida, em nosso modelo de

família e sociedade, onde o valor da liberdade individual evolui lentamente ::
somos a mais libertária





de todas as sociedades já construídas, mesmo com a persistência de tantas
desigualdades por aí :: na senda

dessa libertação, encontram-se várias conquistas obtidas em processos dolorosos,
como as emancipações

de raça, gênero e orientação sexual :: aos poucos -e é isso o que sociedade em que
vivemos propõe -

a figura patriarcal do homem "machão" e branco vai cedendo espaço para novas formas do masculino,

em uma configuração mais complexa e entremeada, menos bruta e mais dócil ::
sinal nítido desse movimento

é o próprio poder que vem sendo mais frontalmente assumido pelas mulheres
na sociedade :: o bom senso feminino,

frágil na aparÊncia, é um mecanismo tão perfeito da natureza que soube esperar a
hora certa para insinuar-se

em direção ao comando da nave espacial humana rumo ao futuro, como o vem
fazendo, mais nitidamente

desde meados do século passado :: se formos enxergar o quanto as mulheres,
há menos de 100 anos, eram

tão ou mais estigmatizadas quanto a escravaria negra, no caso do bRasil,
deve-se realmente ficar espantado ::

ao mesmo tempo, não posso deixar de observar o quanto, ao defender o
instinto de sobrevivência feminino,

acabo traindo a meus próprios instintos masculinos, em uma espécie de auto-mutilação :: precisamente

nesse ponto é que a vida bruta da natureza se transforma em arte, em criação
humana, que pode se chamar

divina, pois representa uma superação do "bicho homem", animal indefeso, frente ao
próprio mecanismo

básico do universo :: grandes somos, gigantescos, colossais, como demonstra todo
o aparato técnico

e cultural que nos consola e que sempre se torna insuficiente, exigindo novas
superações, o que significa

novas batalhas redentoras entre masculino e feminino, exatamente como é mostrado no filme "Matrix" ::

a minúcia espontânea do feminino é que permite o lento avanço da paz e da
civilização (como na foto

dessa postagem, onde Gandhi, rei pacifista, manifesta grande paciÊncia por meio
da metáfora da mão que fia, ao infinito),

pois ela representa o próprio sonho da alma, como diz o filósofo Gaston Bachelard ::
aos poucos estamos acordando

para o fato de que o "poder da saia" vai mais longe e entrega nosso destino, enquanto
espécie, a vós, mulheres ::

esse destino sempre esteve em vossas mãos, na verdade, como indica a revelação
da pietá, a imagem de cristo

consolado por maria, ou a entrega de zeus aos desígnio de hera :: mais do que qualquer
outra arma,

como a política, a ciência ou religião, comandadas por homens e usadas para
espantar males coletivos, o que realmente tem poder

é o amor de mãe :: ou melhor - esse amor, na verdade, é ele mesmo a
própria ciência, a política e a religião, que, com requinte,

mas sem pedir nada em troca, vem construindo a cada dia uma civilização
mais amorosa :: aqui, novamente,

é possível perceber a glória suprema do feminino, aquilo que constitui sua essÊncia
e o torna capaz de assumir o poder maior

de perpetuar a vida :: sequer faz questão de aparecer, apesar de assumir toda a
dor da existência ::

nisso, precisamente, reside sua glória, a que devemos todos tentar nos igualar :: o
mito de saias esconde-se,

nada deixa exposto, não faz demonstrações de poder, retirando daí uma espécie de
malícia que permite mandar, controlar, sem

contudo usar, abusar da rigidez ou da violência :: e nada, efetivamente,
parece-se mais com isso do que

a atual sociedade de consumo - sim, isso mesmo! - toda inter-relacionada
por meio da

internet :: a rede mundial de computadores, criada pelo capitalismo, nada
mais

é que um mecanismo de controle vocacionado para a dispensa do macho
de 20 anos atrás ::

os hábitos desse  homem precisam mudar :: e a minuciosa impregnação abstrata
de valores existente

no mais pleno funcionamento da internet, o que ainda não logramos alcançar, constrói
uma espécie de arco que nos lança em direção ao futuro ::

o casal contemporâneo constrói-se na rede, sem aflição :: precisamente aqui se
estabelece uma compreensão

necessária, que é a de uma certa pedagogia :: enquanto patrimônio sem par da
civilização, de conhecimento

imensamente acumulado, a internet em seu uso deve ser direcionada ao fim do mútuo embelezamento, nos conectando

mais francamente a seu rumo poético, já prescrito no inconsciente ::  em razão de sua
força motriz,

que é o anseio civilizacional humano por felicidade, a internet pensa-nos belos,
prestando-se à troca carinhosa de elogios e exaltações,

e tornando-se uma espécie de novo altar para o casamento, por todos observado ::
é o novo rito do casamento, e de sua festa,

que não se acaba, pois não se cansa de ser celebrado :: nada exalta mais a união a
dois do que justamente

essa gravação da glória do primeiro dia :: nesse dia, todos somos poetas, somos
a própria poesia,





a música, o canto, o filme :: a internet grava e regrava, conta e reconta tal poema,
permite a consciência

mais plena de como as coisas podem e devem ser - uma eterna alegria,
proporcionada pelo encontro ::

um casal que se ama promove um a beleza do outro, e nessa ajuda
tecnológica que o feminino nos

dá, de eternização do belo, da beleza que doamos ao outro, e que buscamos
no outro, é que está

a nova possibilidade do encontro cada vez mais harmonioso entre homem e
mulher :: como se vê,

ninguém consegue nada sozinho, e minha busca individual de felicidade, dentro
da fórmula eterna

e consagrada socialmente da vida a dois, base da família e de reprodução da
vida, depende do conjunto

da sociedade :: viramos um grande bolo recheado de casamento, navegando pelo
universo :: e cada

suspiro exalado nas redes sociais, de postagens alimentando as delícias do
cotidiano (nossos filhos,

nossas músicas, nossas comidas, nossas bichinhos de estimação) são suspiros de
estrelas longínquas,

reino perfeito de felicidade, que fatalmente nos atrai para sua órbita :: é para lá
que navegamos,

mesmo sem saber, sob o olhar bondoso de uma mãe e um pai eternos, na eterna
bondade de uma união amorosa

porque sonhadora; e sonhadora porque amorosa ::

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

:: @ ouroboros



a forma suprema de conhecimento é essencialmente coletiva e, por isso,
hoje, seu amor, o rio caudaloso

de sua paixão e loucura, sua violência, é essa miríade de imagens e vozes
em rede, a internet,

ela mesma, como a arte adquirida pela serpente, depois de milênios, na execução
do auto controle da língua,

auto resgate, auto ensinagem, auto aprendizagem :: forma suprema de equilíbrio,
malabarismo,

consciência, frieza de raciocínio, para que se torne possível a realidade
inverossímil do amor universal ::




domingo, 10 de agosto de 2014

a amazonA



onde não há pressa, o amor é uma visão longa, mineralizada, indestrutível  ::
há um oriente escondido

no bRasil, que aponta em uma direção meditativa, a direção de uma ioga faceira
autóctone, em que brincam

todos os casais permitidos por nossa miscigenação, enquanto filhos iguais da terra,
novos, fresquinhos

da colheita :: no ápice dessa meditação, seu nirvana, atingido a partir das pedras do
mercado, nas cidades, em seus pelourinhos,

colhemos a cordura de revelação mais que humana :: e nos tornamos
uma verdadeira índia, com a bênção

de krishna, dando voltas no planeta, permitindo visões amáveis sobre
o fim cruel da guerra :: onde não há

pressa, aguardamos até que todos ingressem no vagão da mágica visão do amor
bastante natural, porque

agregador de muitas vontades humanas, muitos pés, muitos vozes, muitas voltagens ::
onde não há pressa,

o super homem voa, sendo seu poder a velocidade que conquistou na cordura do ato
da espera :: sobre esse

pai eterno, há uma mulher feliz em formidável cavalgada, aprumando sua inteligência
e lhe apontando

a direção com os seios :: e dizendo-lhe, em balbucios, "somos a pintura da terra",

e sopram-lhe estrelas,
e voam-lhe os cabelos ::

((para sílvia esse retraTo, com amor ::

sábado, 9 de agosto de 2014

por um bRasil guerreirO



demora um tempo até nos tornarmos gentis, pois é difícil entender que a rivalidade,
a disputa, algo que

sempre nega a nossa individualidade, é algo natural e intimamente desejado
por nós mesmos,

uma forma mítica de juntar-se ao segredo, ao sagrado :: por isso bons meninos
antes precisam aprender

a serem bons guerreiros :: há milhões de desenhos japoneses, e alguns ingleses,
ensinando isso ::

o requisito principal é: força e coragem, em nome do bem :: acho que falta desse
elemento para o bRasil,

para que o mito da cordialidade se desenlace em toda a sua plenitude, e
assumamos nossa fronte

agressiva sem perdermos, efetivamente, a cordialidade :: alguém precisa erguer essa
espada, e o segredo está em

nosso suave processo de escravidão, naquilo que ele tem de poético, e que um dia
forneceu os meninos

gingadores do futebol ao mundo :: ensaiando bem, vamos conseguir jogar o
jogo da economia

global por vias tortas, e renovar o modo como se joga :: esse capacidade de
surpreender, acredito,

está destinada ao bRasil, e o mundo inteiro sonha para que ela se expresse,
fazendo a torcida contrária,


afim de que nos esforcemos cada vez mais nela :: eis o significado de sermos um país
que nunca acontece,

eternamente país de um futuro que não cheGa  ((na senda desse raciocínio, os 7 x 1
tomados da alemanha

tornam-se plenamente lógicos, explicáveis - conseguimos de fato organizar a copa,
com nossa alegria

e desorganização, mas não sem o trágico destino da seleção, e mais uma vez nosso
grito de gol,

apesar de toda nossa potÊncia, ficou entalado na garganta :: isso tudo porque é
extremamente difícil

ser o que somos, na esseÊncia ::  talvez demore 700 anos, mas é só porque
"nossos

planos" para o futuro "são muito bons", como cantavam os doces bárbaros ::
são a própria face oculta

da mitologia espacial norte-americana :: porém, no lugar de se chegar a uma
sociedade artificalizada

pela técnica, repleta de robôs e espaçonaves, chegaremos a um condado de
pura alegria, não importa

o espaço :: mas possivelmente será em um lugar bem juntinho à mata virgem e
a um regato de água limpa,

como quis vinícius de moraes, em seu encanto pelos orixás caboclos da natureza ::
nesse caso,

há que se compreender também justamente a diferença que deve
ser mantida entre

bRasil e esTados unidoS, que encontra analogia perfeita na diferença que há
entre mulher e homem ::

o bRasil é esse paraíso feminino, "complicado e perfeitinho", como diz uma
canção popular :: menos

direto e objetivo que os foguetes norte-ameriCanos (civilização estadunidense,
plenitude total

do espírito da gueRra... :: no coração da amériCa, no enlace amoroso e
discreto entre uma e outra

potência é que se encontrA nosso rumo para o oRiente, pelo ocidenTe,
e que pretende ser um rumo

para  a humanidade inteirA ::

sexta-feira, 11 de julho de 2014

++ há na parede uma pinTura



há um mundo de vida espiritual anônima e encantadora, que zela pela habitação discreta das casas

e das cozinhas :: são manchas maternas e poderosas, de ar que purifica, que
dá sombra, produz frutos,

e anima grandes brincadeiras :: está na canela de um menino que joga bola :: é
uma atividade pictórica ::

de uma bica eterna, escorre uma água :: há o tempo de uma branquidão, de uma
láctea pintura ::

esse tempo é sério e faceiro :: usa óculos, aprumado pela leitura natural das ribeiras, dos
lençóis brancos

em varais infinitos, das gamelas de doce e da carne temperada :: um brasil agrário ::
nesse brAsil que nos aguarDa,

não há pressa :: ele permanece, desde o início da formação de nossa poesia
melhor e doce, cristalizada com as

primeiras plantações de açúcar :: aonde não há pressa, o amor é uma visão longa,
mineralizada, indestrutível ::

há um trem de ferro, que nos corrói, pelas torturas do comércio de escravos,
destilando a pureza, apurando as glÂndulas mamárias de nossa

inteligência :: os escravos aprimoram suas piruetas :: os selvagens indígenas aprimoram
seus cocares,

em que brandamente abrigam o espírito da floresta :: as leis corretas, as palmas, as
saias impuras

das moças brejeiras e beatas :: esse bRasil requer silênCio para ser escuTado ::
não é possível acessá-lo

se nossa paz perturba-se com inveja ou vaidade desmedida :: anda no mistério
das pisadas agrestes da

sociedade inteira, em bibocas ou furnas, e nas nas hortas das escolas, onde nos
amou pauLo freiRe ::

a cada dia, o vejo mais completo, e no que ele se deixa placidamente transfigurar
pelo comércio,

pela prostituição, pela mídia, beijando a todos, sem pedir nada de volTa :: é lírico
e amoroso ::

é maior expansão de um pensamento, um andor, uma andorinha ::








terça-feira, 24 de junho de 2014

(( visão poética d+e mariA ~:>





a maioR violência, e a maior benesse, é a das flores, que o tempo todo
nos força ao martírio do arte,

ao canto ajeitadinho do menino com sua namorada, à persistência no
bem :: cola-se a cidade ao meu ouvido,

como forma de ouvir nossos filhos :: porque sou grande, tenho a
persistÊncia :: porque cuido, sou do bem :: o amor é nossa

violência carnal, sua e minha :: é nossa voz e um violão, um pandeiro, as luzes
da esquina, uma lâmpada acesa :: sinto

saudade infinita de teus pistilos, de tua corola ardente :: e segue o boêmio altivo,
ébrio da altura com que se enfeita, do par de asas

que é um vulcão :: ele se enfeita para ti, ó adoradinha, enfeitado de cor e
visão febril, como o anjo pop

homérico dessa violência nacional :: cuido de tua graça amiga, da cor de tua
amizade, dos teus seios,

do batom, da tua experiênciA revolucionáriA :: a pintura espanta o elemento
mal e humano ::

teu lápis de olho é sagrado, tuas sapatilhas :: teu namoradO é senhor de muitas
colmeias, o deus

da recolha de um mel escondido :: transforma essÊncias em pensamentos e loas, em
coisas boas e viris ::

atrapalha o trânsito acendendo o sábado :: é pura juvenil perturbação incendiária ::
é pura domesticação

da natureza mais agreste e gentil :: conversa com lobos, golfinhos e baleias ::  te faz
carinho, acarinha, colore e aquece

a televisão :: usa pólvora doce, reclama os atrasados, defende os
oprimidos :: teu namorado é poesia e nascimento ::

anda sem revólver, a par de todo o sentimento anímico e perturbador da
cidade, por ti :: tu és

a bíbliA, a sensação, o motivamento :: tu és o que todo homem quer,
africanizando sentidos pueris ::

tua és a manada de javalis, a reencarnação em segredo da poéticA visão de
mariA :: tu és o meu

mais prometido e pacificado, difícil e abençoado império :: e nelE, aprendo a
dormir e sonhar

contigo, sem segredos, por toda a eternidadE ::

terça-feira, 17 de junho de 2014

luLa, chico, esquerDa, dirEita, e o heXa




amamos a diversão e, por isso, fazemos com maestria e doutoralidade aquilo que 
o mundo mais 

ama - o futebol:: tornar-se potência mundial e, portanto, conquistar a admiração e o 
reconhecimento da 

população inteira de um planeta, por intermédio de uma brincadeira, é um carinho 
que se dá à vida 

((como se fosse um beijo na bola, que metaforicamente, então, é o beijo que se dá na 
barriga de uma 

mulher grávida :: somos a pátria dos grandes mistérios encravados, das forças 
e folias surpreendentes :: do mesmo

modo que nos tornamos campeões naquilo que é aparentemente inútil - um jogo, 
uma molecagem,
e isso "não tem preço", em um mundo tensionado pelas competições reais da indústria e do 
comércio -
elegemos luLa e o pT, a primeira força real trabalhadora a assumir o controle de um país de 
modo
democrático :: a vitória do líder operário atualizou para a humanidade a utopiA 
da revolução franceSa, do povo no poder,
sem que em nenhum outro lugar do mundo se tivesse tal fato :: nem mesmo a 
fRança, mater da ideia
de revolução, logrou tal conquista, nem mesmo quando tentou reeditar-se em 
termos revolucionários, com o maio de 68 :: 






cabe ao Novo Mundo, nas améRicas, forçar o vencimento de barreiras que a Velha 
EuroPa sequer percebe
que existem :: o mesmo, evidentemente, se deu com o futebol, inventado na inglAterra, 
país ao qual nunca
cedeu maiores glórias :: coube ao bRasil retirá-lo de um certo europeísmo limitador da 
graça e da alegria:: quando luLa
vencEu, o país inteiro curvou-se e, pelo menos por um diA, foi exaltadA a chegadA real da 
plebe ao trono ::
nada disso, no entanto, é estável :: antes, é suscetível a intermináveis ataqueS da legiÃo de 
maus humoREs
humanos - sobretudo machistas e violentos - que não admitEm a conquista dA felicidade 
como algo
físico, real ((o sonhado paraíso na teRRa, mito fundaDor da cristandade ocidental e, 
por essÊncia, da própria brasilidade :: o miTo reforça-se
pela repetição, e a expulsão do paraíso é um processo interminável :: crisTo e suas 
quimerAs precisarAm
sofrer do mesmo tipo de ataquE, para ressuscitAr "três dias depois", e quatrocentos anos 
mais tarDE,
deiXando o oCidente mais complExo, ao tornar-Se a religião ofiCial de romA e fundir-se 
definitivamente
aos mitos helênicos da grÉcia antiga :: no bRasil moderno, nossa legião de meninos de ruA 
reforça







o mesmo enredo :: como filhos de uma gente mestiça, recebem o abandono da favelA, a tristeza estatística 

de sua condenação a um futuro inexistente :: mas revivem na glória de uma ressurreição improvável, são 

craques dribladores, fornecem o substratO de nossA imperial força futebolística, são a 
reconquista do sonho
por vias mais do que tortas, tortas como as própRias perNas de garRincha, ou 
os espinhos na coroa de cristo :: não há relação nítiDa entre futebol
e políTica, mas a interpretaçãO poéTica profuNDa conseguE ver que, por interméDio da seleÇão e daquilo que foi luLa 

((outro menino abandonado, diga-se de passagem)), o mundo espEra de nós esse avanço do inominável, de 

uma certA magia que nenhumA outra nação conseguE colocAr em práTica :: somos o país do impossíVel - é isso; 

somos uma permissão maior parA que as funduras do oceano mítico se exprEssem, venhAm à tona, 

e reveLem o miTo encarNado, mostrem a imaginação infinita dos ser humano fundida a 
seus deuses e demônios, o bem e o mal;
o que se conseGue por meiO da cRuz (a sacrificação do próprio povo) e do 
carnaval ((sua doce 

redenção no mistério da brincadeira mentirosa, que mente sobre a realidade da vida, 
mas que é a única coisa capaz de proporcionar a verdadeiRa felicidade
de meninos-homens, desviando-os do tráfico, da corrupção, da morte :: a fundura mítiCa 
de uma sociedade
miscigenada como o bRasil, diferenTe de qualquer outro grande 
país (japão, alemanhA e até mesmo
o também caboclizado esTados uniDos), verte rios de sangue perfuMado, menstruaÇão 
docE somente mostRada e compreensível
se for de modo artístiCo, como nas obrAs de chICo buarQue :: pela comemoração do aniversário de chIco (70 anos, completados 






dia 19, depois de amanhã), que aprecia como ninguém um futebol, um carnaval, uma cerveja, e uma 

mulher bonita (do modo mais respeitoso que possa haver, porque através da poesia), 

e que ajudou a construir, a seu jeito, a vitória de luLa, devemos a ele dedicar a vitóriA 
no jogo de hoje :: 

seus samBas são populaRes, já estiveRam na boca da massa, e somenTe não estão 
mais porque tudo aquilo que 

é de uma beleza indescritível - como a popularização de um requintE rítmico-filosófico, 
caso de toda a Música Popular Brasileira, a MPB -
é por natureza uma evanescência, algo que logo desaparece :: será que nosso bRasil bonito, 
o mais lindo que
houve, aquele da década de 70, vai voltar, vai ressuscitAr como cRisto, para com o apoio dos eStados uNidos, cumprir o destino do 

nOvo Mundo, a aMérica, e ajudar a refundar a veLha euRopa, ou seja, o oCidente e 

toda a cristandade helêniCa? :: as condições estão dadas, pois se não existem hoje torturadores físicos, nem sensores 

ideológicos, temos esse imenso lixo acumulado desde a década de 80, com a transformação da favela 

em zona cruel de guerra e, sobretudo, com o achincalhamentO pela mídia de nossos valores estéticos, antes tão duramente 

conquistados, pois resulTado da fusão sangrenta dos gostos e paladares de 
todas as nosSas etniAs ::
a ditadura, a defendEr o conservadoriSmo frente à essência dionísica do bRasil, hoje não 
é militar, mas terrivelmente civil ::
e elA fornece o antagonismo necessário, sempre necessário, ao resplendor e à vitória da beleza :: e o cálice da bebida 

amarga, que chiCo e milton nascimento pediram para recusar nos anos 70, é serviDo 
hoje com a ajuda implacável da internet, por meio de uma
recusa da nação, em discursos extremistas, que muito mais facilmente conquistam o gosto do poVo :: extremismo, espírito de 

porco e chauvinista, servido e sorvido a largos goles pelo grosso da população, em todas as suas camadas :: nossas 

redes sociais, apesar de representarem uma conquista democrática, paradoxalmente 
vêm funcionando
como um criatório de ratos, monstros, terríveis moscas varejeiras, que zombam daquilo 
que representa, acima de 

tudo, uma conquista para a humanidade, ou seja, a brasilidade :: sendo que tal força negativa 
atinge de maneira preocupante 

até mesmo a qualidade de nosso futebol :: alemanhA e holanda já se apresentaram como 
adversárioS mais do que forTes, 

requerendo que, mais do que nunca, o bRasil seja o que ele é :: a disputa nas ruas, com 
o extremismo de esquerDa, acirra 

os ódios, e antecipa a disputa eleitoral de outubro, irracionalizando ainda mais esse particular 
momento da nação :: todas as condições estão 

dadas para que nosso inconsciente coletivo, que sempre deseja o bem, passe a formular 
uma solução mágica para nossos problemas
aparentemente irresolvíveis, e que surgirá com a beleza de um chute a gol :: sonhemos, 
e com razão



e legitimidade, para que nossa incrível capacidade de amar a brincadeiRa volTe a conquisTar a bolA e o munDo :: e que 

nos tornemos grávidos de ilusão, e que os herois do hexa, ilustrando comerciais de bancos, 

mineradoras, grandes companhias do capitalismo mundial, invadam, com a bondade que representam, o coração do 

sistema opressor - necessariamente opressor, deve-se dizer :: toda a opressão que sofremos da sociedade organizada em regras 

e leis rígidas que objetivam produzir dor, lucro, trabalho, é tragicamente vital para o equilíbrio da existÊncia :: isso 

porque os instintos de prazer e amorosidade do ser humano não podem ser deixados a sós (algo que nossos socialistas 

libertários, com todo respeito, ainda não conseguiram entender)):: antes, nossos instintos precisam de uma 

educação, de uma guerra entre a natureza e a cultura :: e essa é a grande lição do mito, da luta entre o bem e o mal, onde ambos se fundem, 

amam-se e odeiam-se, um buscando e gerando o outro :: desse confronto no mundo dos instintos 

é que vêm as carrancas que se degladiam nesse momento, sobre a superfície da realidade :: a

opressão é inevitável, para que o amor sempre renasça, como uma flor brotando do asfalto, na clássica imagem de 

carlos drummond de andrade :: falta a nossa esquerda compreender melhor essa noção, transcender seu marxismo 

corroído, gerando nova quimera ideológico-existencial, de cunho cada vez mais luso-tropical-brasileiro :: 

falta uma nova inteligência brasileiRa, como aquela que cercava lula e chiCo buarque, 30 anos atrás, capaz de 

nos redimir de toda essa dor :: nesse jogo, esquerda e direita são fundamentais, orquestrando o orgulho da nação :: não deve-se esperar a 








revolução capaz de, abruptamente, trazer o paraíso na terra, como nas velhas utopias libertadoras - burguesa ou socialista - da 

euroPa, :: o pensamento mudou :: deve-se investir em nova apreensão do modo como nos tornamos a cada dia mais humanos, em meio a 

lutas intermináveis, porém de modo cada vez mais cordial, conforme reza o mito da brasilidade:: e que o império do mundo 

do dinheiro, da machismo, do preconceito, da falsidade - que existe tanto de um lado como de outro, tanto 

à esquerda como à direita - deixe-se aos poucos contaminar pelas difíceis lições do tornar-se homem e 

menino ao mesmo tempo, em uma só palavra, heroicamente brasileiro, para que um
dia, até mesmo 

essa designação, que identifica um credo, uma raça, uma ideologia, um país, deixe 
de existir e, portanto, oprimir ::
mas esse já será outro capítulo dessa nossa venturosa históRia :><



"Voltadas antes de tudo para si mesmas, esporte e arte são esferas da vida que negam o utilitarismo dominante, e, por isso mesmo, promovem um efeito de pausa, feriado, ou descontinuidade com a sofreguidão exigida pela lógica do lucro, do trabalho e do êxito a todo custo. Se o objetivo do trabalho é enriquecer a sociedade, transformando-a em corpo poderoso, o alvo do esporte é muito mais difícil de estabelecer. Tudo indica que o esporte tem um lado instrumental ou prático que permite "fazer" coisas e promover riqueza; mas ele também tem um enorme eixo expressivo e/ou simbólico que apenas diz e, como os rituais, revela quem somos." roberTo damAtta, notas em torno do significado do futeBol brasileiro ::



repenSar o mito bRasileiro, que engloBa o poder do futeBol como mística coleTiva unifcadora, envolve considerar essa colocação de roberto daMatta :: se o futebol é a nossa cara e diz sobre nós, então somos na essÊncia brincadores dionisíAcos, em contraste bastante acentuado em relação aos esTados uniDos :: nessa américa de diferentes mistuRas, a alma norte-americana certamentE se revela na oposição ao eixo dionisíAco bRAsileiro através do poderoso direcionamento coletivo rumo à produção econômiCA :: novas loucuRas, certamente, despertarão nosso lado dionisíAco atualMEnte talvez algo inativo, para avançArmos em direção a uma maioriDAde do bRAsil enquanto pátriA espirituAl ::