domingo, 14 de agosto de 2016

com certeza sou um pai gentilmente renovado e renovador :: o que gosto mesmo é de “churrasco,
bom chimarrão, fandango, trango  e mulher”, mas tudo isso transformado em menos exclusão, machismo
e preconceito :: no final das contas, a saciedade,  ou a satisfação, de uma pessoa do sexo masculino,
nesse início de século,
que precisa dar conta de importantes, imprescindíveis, funções da vida em sociedade, sempre pode e
deve mudar ::

não vejo o mundo como os machões de antigamente, e que ainda perduram entre nós,
só deus sabe até quando :: estou cansado dos varões com suas visões estreitas, que acabam sempre em falta de carinho,
neuroses, vícios, depressões e dissoluções familiares :: sou provavelmente a pessoa que mais sofre com os
costumes mal acabados de nosso machismo conservador cotidiano, pois meu tempo sempre foi e
sempre será outro :: e como pai e professor, sempre pergunto – há como transmutar o sentido daquilo tudo que fazemos,
permitindo que as difíceis produções do cotidiano se tornem mais “legais”, menos chatas, mais gostosas de se fazer? ::
pois é justamente esse o problema do ambiente doméstico, onde pais e mães dividem tarefas e os  filhos
crescem ouvindo histórias sobre fugas e abandonos paternos :: na íntima realidade cultural estão os
segredos de uma boa solução para esse tipo de problema, em uma época de recriação da própria
humanidade, levada adiante em parte por obra da nova tecnologia digital :: precisamos de um novo tipo de ser humano,
como diz o  ex-presidente uruguaio, Jose Pepe mujica, algo que vai além da simples produção e divisão igualitária
dos bens econômicos, como buscou articular a antiga esquerda :: precisamos de uma vasta mudança cultural :: e, se precisamos nos refazer culturalmente,
urge nos perguntarmos que brasilidade herdamos ou estamos a desenvolver :: até que
ponto somos de fato brasileiros, considerando a quantidade de conhecimentos inexplorados que se encontram
em nossa raiz cultural miscigenada? :: função do pai poeta que sou: descobrir esses novos continentes de linguagem ::
 quando percebi que os modelos mais imediatos de paternidade na minha vida não me eram suficientes, rumei  a uma sensação de horror tão grande
a ponto de descobrir que a identidade cultural está aí para nos acudir, permitindo verdadeiras reconstruções
de sentido :: que me perdoem os meus mais próximos modelos de masculinidade, forjados pela mídia
de massas, mas o que sempre me pareceu funcionar melhor foi copiar os modelos fornecidos pela contracultura
e as rupturas propostas pela sua miríade de soluções artísticas, sempre tão vinculadas tempo tribal aborígene,
como no caso daquilo que o Brasil tem de mais autêntico ::
sempre fui roqueiro e revolucionário, implodindo os significados machistas e patriarcais, presentes
em cada cerimônia doméstica que sem perceber executamos ao longo de nossas existências :: o machismo
presente nos minimíssimos detalhes ::
e fui e venho, e sou incansável no desfiar dessa estrutura praticamente imperceptível,
para que não sobre nada mais daquele “churrasco, bom chimarrão, fandango, trago e mulher” horrível
de nossos velhos pais e avôs :: para que sobre apenas a sabedoria presente nesta famosa canção popular gauchesca,
de que a vida deve ser vivida realmente com alegria, generosidade e paz no coração :: revoluções
são bem vindas, e aquelas que começam de dentro são as mais poderosas :: como estudioso da cultura
contemporânea, o que desejo para o mundo é um pai definitivamente avisado sobre a importância
do estudo,  da arte, da beleza, da poesia, e dos infinitos perigos que acompanham  a vida machista e patriarcal a que estamos tão doentemente  acostumados ::


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