domingo, 28 de agosto de 2016

minhA artE

as crianças pedem tanto nosso colo como nosso brinquedo :: a arte pede estudo :: o estudo pede tempo ::

e desses fatos, extraio meu denso amor poético, toda minha alegria por conseguir descrever e desenhar
a cidade :: seus minúsculos detalhes :: seus fatos perdidos no tempo :: a distÂncia permanece, mas quando

penso em, ou visito, porto alegre, os mil olhos sagazes sustentados por colunas da mãe loba me põem
a perdurar em violenta audição :: a mãe que me cria, e  que me dá os cheiros da cidade :: um milhão de
lugares ::

o pensamento doce do semblante pensador de iemanjá :: domingo no parque, pipoca em docilidade
diurna ou noturna :: o bom fim :: uma mulher que me acompanha e me enche de ricos detalhes em

porcelana ::
comida :: terra sanTa ::

o sal da teRra em ipanema :: mil vezes
lágrimas, uma miríade de jeitos, colares e cocares :: toda essa cidade é uma densa astronave :: uns murais

com arte :: uns novos planetas :: todo mundo é malabarista, bam-bam-bam ou brigador :: todo mundo
tem uma identidade secreta, com seus orixás, seus auxiliares :: uma lição de vida ::

:: o lugar que recebe
a todos, com seu jeito :: um estranho arrancar de dentro do ninho :: uma barba de profeta :: meu perdurar por sobre porto alegre é tão profundo que é como se mil agulhas

me furassem, para que tudo se veja :: dissolução do tempo, a força de mil édipos :: com os caboclos antecedendo entidades coletivas ::

a força na forma limpa

ruas com mil passantes, por mil lugares :: e eu viajo no jeito, na artimanha :: toda a nossa fala, com a língua,



ou o idioma :: toda a nossa pose romântica, toda a nossa vantagem, em que pese a nossa perca :: toda

a nossa dissimulação bem baiana porque gaúcha :: tudo isso em mim dorme :: dorme em mim uma violência,

pronta para cortar a cidade em rios de favela, fantasia e mescla, em rios de miscigenação urbana progressista
ou republicana ::

a força na política e na casa bem iluminista de espetáculos :: a proliferação de atos vanguardistas :: e eu sou um gato bem espantado,

da vila, um gato maloqueiro, um gato que vira ou churrasco ou pandeiro ::

e tudo me enfeitiça :: eu sou um cavalo de pouca

sorte, bem brasileiro :: sou uma bateria e um tropel de sobrecarga humana :: tudo em mim dorme, pois
eu sou a energia

luso sonora :: e somente eu escuto essas

trombetas que revelam o horizonte nobre da cidade ::

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