terça-feira, 23 de julho de 2019

inSeto




ler atentamente as 
elucubrações dos artigos científicos, viajar
 nas distÂncias que te levam a ricas densidades


hospitaleiras, que inspiram o 

sonho, que estabelecem o
 amor romÂntico, o novo da 
descoberta, o conhecimento ::

sempre um ritmo de, não fugir, mas navegar, 
movimentar-se, não-morrer :: ir-e-voltar ::

domingo, 19 de maio de 2019

deve haver um jeito de educar a elite :: ou por outra: nada como desconstruir linguisticamente alguém que se julga superior

e, por exemplo, mal-trata trabalhadores (explorando, pagando mal etc.) :: a gente bota a polícia em cima deles

produzindo teses e dissertações :: sabemos que nossa camada superior, economicamente falando, não resiste a um bom argumento :: a gente poda a maldade

burguesa e, especialmente, pequeno-burugesa, fluidificando a sociedade com poesia e lamentações artisticamente

elaboradas sobre como o bRasil precisa, e pode, se tornar um país mais justo ::

segunda-feira, 13 de maio de 2019

as comidas, os recantos, os sábios retiros, alforria para os retirantes :: serão esses os pequenos poderes?

"pedrinha pequenina, pedrinha de aruanda"

quinta-feira, 25 de abril de 2019

como realmente educar? :: qual trabalhador que, dentro de sua realidade oprimida (para utilizar o termo freireano),

terá a disposição necessária para dedicar-se com certo afinco ao estudo? :: no mínimo, não sobra tempo ::

quando eu era professor, cheguei a acreditar ingenuamente que os alunos absorveriam plenamente meus intentos,

o conteúdo que eu havia selecionado, as propostas que elaborava... :: hoje sei mais claramente que o cotidiano

de certo modo nos massacra, tornando irreais uma série de noções sobre pedagogia :: não é por acaso que segue

a massa de manobra como sendo o principal nome do povo :: claro, falo sem cetismo :: é precisa ser crédulo :: por vezes,

até ingênuo :: mas não é tarefa simples reduzir o nível de alienação :: supremo gargalo da democracia


a extrema direita e a idade média ::

deleuze e os rizomas


cego oliveira



domingo, 21 de abril de 2019

eu leio a
música
do tempo,
seus mistérios
de composição ::

((a partir da sensação de que, se leio um livro, fica uma franca impressão desse livro se o leio com superficialidade; e tudo o mais que se faz, como agora, quando tive esse insight, ao elaborar uma lasanha; a sensação de que meu tempo dedicado a tal preparo, se fosse mais intenso, melhoraria o resultado dessa vivência, adensaria a vivência, na lentidão encontra-se a profundidade


religião e sincretismo em jorge amado

lão-dalalão

a explosão de alguma equação de juventude no inconsciente produz a literatura de guimarães rosa, a visão

de algo, uma luz, um clarão :: no caso de "lão-dalalão", o vetor é o mundo interno de um vaqueiro casado

com uma ex-prostituta :: a língua própria construída por rosa absolutiza esse mundo interno, de modo a que uma

simples angústia ocupe muitas páginas :: nossa leitura começa com o ritmo da cavalgadura :: mas o que vejo

é o brejo dentro do vaqueiro :: a formação fauno-florística de uma densidade negra, piscando luzes :: não é

a trama que vale, é a estética :: a simplificação da vida, reduzida à máxima beleza :: nada, além disso, seria

mais importante... :: como apoio, o emblema da lenta metamorfose do homem em humano, pela civilização

do patriarcado, já que a figura bruta do peão rompe com os instintos viris para entregar-se a beleza dúbia

e matreira da mulher ::


@@@@@


para analisar guimarães rosa, a ideia de uma feição "noturna", como mistério-feminino-inconsciência:


história de Buriti, um relato quase “noturno”, como o mesmo título da obra em que está incluído deixa prever (Noites de sertão), representa outra fase da leitura e análise da sensualidade que sustenta o interesse da investigação rosiana, sendo o “Buriti”, um “bom lugar”, “uma necessidade”, o descobrimento e a confirmação que “o sertão é da noite” ((p. 292



toda mulher te uma pomba gira
alguns homens femininos também as tem
nada ativa mais a luta contra o falo do que essa força do feminino
o fim da submissão do feminino dentro de mim vem por essa força

terça-feira, 16 de abril de 2019

um caNTo

há sangue quente e líquido amniótico
no meu andar xamânico,
e essas substâncias são santas,
por secretamente aliviarem
meu pânico,
ou o pânico de muitos,
em sociedades como as nossas ::
são amores amplos, por legarem
o fim de impurezas ::
seja nos trópicos, seja nos andes,
seja no ártico ::
nesse lugares, onde tudo arde,
em ritos, sob um sol infinito
ou escaldante,
raios de estrelas, o senso apurado
de sermos constelação,
ou reflexo das poeiras complexas ::
um tambor, um sacrifício,
uma poeira, um vento, um arbusto,
um pensamento sob a forma de grão
ou de milho :: baleias,
coiotes, emblemas,
superposição de sensações
míticas, terrestres, úmidas,
senhoras de todas as tribos,
deusas, união ::
as coisas vivas, união ::
um pé, uma mão, vísceras
unidas, o mel secreto da colmeia,
respiração, males do espírito,
coletivos, uma busca,
um respiro pela cura conjunta,
o estado de serenar positivo,
com base em conjunções
mediúnicas,
o impositivo inconsciente
divino :: as repartições,
os fracionamentos,
as dolorosas retículas,
a participação,
um sonho com
a montanha e seu
sermão, mil anos
de apontamentos
bíblicos,
um nada,
um ser único ::

quarta-feira, 10 de abril de 2019

escravizar torna o subjugado em alguém que mais facilmente desvaloriza o estudo, sendo essa medida um dos principais

atos de dominação da elite :: ao mesmo tempo, impor um tempo escravo, sob os mais diferentes sentidos,

aproxima da região inconsciente do mito aquele que se desespera com sua condição de subjugado :: para um povo que sofre,

receber o mito é mais provável, sendo seu ritual de sacrifício a própria base de um sistema cultural complexo

e ordenador da realidade ::

segunda-feira, 8 de abril de 2019

luLa livRE





a liberdade de lula é a luta pela democracia que se atualizou, nessa seara estranha e eterna do embate brasileiro entre o bem e o mal ::

parece que sim, não tenho bem certeza, mas talvez a gente fique anos gritando lula livre, até que um dia aconteça

alguma coisa, algum desfecho talvez trágico, talvez redentor, talvez as duas coisas ao mesmo tempo, para

permitir, até que enfim, um novo avanço em nosso processo civilizatório, desse país que é a morada de uma revolução humanitária

chamada mistura de raças ::

o caso de luLa, o trancafiamento de seu tempo de liberdade, que é a mesma coisa que o trancafiamento

da liberdade de um povo inteiro, é na verdade uma gentil pacificação proposta pela providência divina,

ao nos proporcionar a visão clara, nítida, da pintura do diAbo em seu dilema, para o qual não existe
equação, a não ser a vitória do bem,

advindo daí o alegado efeito pacificador ::

ou o mal prossegue aprontando das suas, para regojizar-se e satisfazer

seus instintos, ou se cansa e vai embora, para recriar-se historicamente logo ali adiante :: o x do problema reside

justamente no fato de que a continuação do plano maligno, sem que o diabo queira ou se dê conta disso, pois

está cego pelo desejo de transtornar o mundo,

reforça ainda mais o bem, por intermédio da geração dos mitos salvadores, seres humanos transformados em herois

por assumirem papéis de supremo sacrifício, caso evidente de luLa::


luLa, hoje completando um ano de cárcere cruel e hipócrita, não vai "pedir para sair", porque, com sua sabedoria mansa e por isso mesmo imensa,

sabe exatamente que é esse o ato que se encena na dramatização da epopeia nacional ((igualando-se dessa forma à getúlio

no rol dos grandes mártires do período republicano da pátria)) :: a bolsonaro e camarilha resta apenas

consumir-se nas labaredas de suas próprias emanações infernais ::


hoje, nesse dia infame, que simboliza a crucificação de nossa esperança, e daqui por diante, quero pensar como um luLa,

quero agir um luLa :: quero pensar e agir como um menino em prol da liberdade, aquele dignificante menino que segura a mão imaginária

de sua sanTa mãe e caminha sem medo para o sacrifício :: estou com quase 50 anos de idade e não entendia,

antes de o bRAsil e o mundo reingressarem no âmbitos das trevas, tem quatro ou cinco anos, que meu destino

(e o de todos, na verdade) está atado a uma necessidade de bem-estar coletivo que se manifesta negativamente nas carências

vivas e encarniçadas desse país, seus becos e favelas manchados de sangue, seu número crescente de feminicídios,

seus bordéis e garimpos selvagens, sua expropriação maldita do trabalho, seus infanticídios, fratricídios e genocídios,

a espoliação de sua floresta amazônica :: eu não sabia, ou tinha medo de entender, que precisamos estar corajosamente

engajados no combate ao descalabro sem fim vivenciado por nosso povo :: sobre o esse descalabro precisamos nos debruçar

com alegria e imaginação também infinitas, a exemplo do que propuseram nossos melhores artistas, de gonzaguinha

e elis regina :: a retomada do mal em seu curso, a volta dos militares, a nazificação de nossas ímpetos masculinos, tudo isso, é, no nível

último do inconsciente coletivo, um chamado para que nos concentremos na podridão que radica no âmago

do ser humano, afim de amenizá-la mediante a descoberta de novos conhecimentos, para que possamos entre outras coisas redimir

antepassados que também por nós sofreram ou morreram :: nada disso é exatamente novo, vindo a constituir o próprio cerne da saga

de o ser humano tornar-se cada vez mais humano :: tudo isso é o eixo do processo ele mesmo de evolução mediante a construção da linguagem

no lugar de vícios, mediante o estabelecimento do novos patamares de civilização :: não é a toa, por exemplo,




que bolsonaro e sua turma não param de dar demonstrações acerca do quanto a ignorância é o seu mote ::

nesse átrio intrigante onde atuam verdadeiros santos guerreiros contra seus mais perfeitos antagonistas, ecoa uma verdadeiríssima

reverberação da pátria profunda, que sempre se faz e se fará a ferro e sangue :: cabe precisamente às esquerdas

tomar a dianteira desse aventura perigosa; e não fugir à luta :: cabe ao martírio, mais uma vez, o tempo de edificação

da liberdade a ser legada às futuras gerações :: cabe ao mito, o mito do bRasil cordial e inteligente, sempre tão combatido,

dar provas de que não estamos sozinhos diante da oferta dessa cálice de bebida amarga :: cabe ao menino legítima e integralmente brasileiro,

mais uma vez, ampliar seu poder de masculinidade, para fazer jus a todo o esplendor do feminino que nesse

país abre gloriosas perspectivas de elevação ética e espiritual ::







segunda-feira, 1 de abril de 2019

Um pouco por opção, tenho a velocidade das tartarugas, para uma série de dinâmicas sociais, e somente agora, tem alguns dias, cheguei ao Netflix.

Após me empanturrar, acho que posso falar assim, com alguns filmes, terminei por reviver uma velha impressão que tenho do mundo no que diz respeito à cultura.

Essa impressão é a de um certo cansaço quanto a consumir e não produzir. Ou quanto a mais consumir do que produzir.

Sinto-me um panaca quando isso acontece, pois antevejo os sinais de estagnação da alma quando não movo minha capacidade criar.

A gente de fato se empanturra consumindo um certo excesso de informações sem botar nada pra fora, sem botar no mundo uma linha sequer de originalidade.

O Netflix que me perdoe, mas seu cardápio interminável de opções me dá um pouco de enjoo. E o problema é esse: ficar parado do ponto de vista de alguma atividade do espírito, o que sem dúvida é causa de uma certa imbecilização.

Já experimentei dessa imbecilização mesmo depois de francos processos de produção intelectual. Basta ficar parado. É algo similar ao atrofiamento dos músculos do corpo mediante a falta de exercício físico.

Ver que eu posso me torno um idiota mesmo depois de uma vida inteira de escritas e leituras é algo que me assombrou.

Significa que essa idiotização é um fantasma eterno, que aflige uma sociedade inteira.


domingo, 31 de março de 2019

a seriedAde natural

comigo-ninguém-pOde :: planTa







eu trabalho com fantasmas, e s
omente afirmo esses desníveis,
 atuando forte contra toda a razão  ::

 ::
eu viajo,
e tão somente viajo, indo
contra todas as realizações pirotécnicas
da república positivista, que s
ó vê corpos em realizações ind
ividuais de espíritos pensantes masculinos


 :: eu sou a poesia da massa confusa e nebulosa,
e a sensação etérea, o absurdo em verd
e-e-rosa, numa boca de túnel, tropeçando
 em exus e sacis, maldosas
insinuações pela parte de insidiosas
 marinheiras, corporificações que imitam
 amores e ódios, que servem
a descargas neuronais elétricas, imi
tando a natureza impressionante anímic
a do país, suas pororocas, ravinas, salamandras,
estuários, mulas, lindas amaldiçoadas
 vilas e luas cris ::

eu só vivo pela paz
revelada em possessões indígenas, lua cris
a energia benéfica de muitos, vários, e
nquadramentos xamãs, a soma esquiz
ofrênicas de múltiplas esquizofrenias,
 e só assim eu professo a verdade so
bre as belezas de meu país ::


um domingo com dedé ferlauto e barBosa lessa :: jornalismO


ágoRa :: missa dos quiLombos


arTe ::




A Missa dos Quilombos, tal qual uma assembléia convocada para a celebração de um pacto, divide-se também em 10 partes: “A de Ó” (Estamos chegando), espécie de procissão de entrada, onde o negro conta a história de seus sofrimentos e a negação de sua raça; “Em nome do Deus”, onde de dentro do nome de Deus, o negro pede em nome do seu Povo à Santíssima Trindade; “Rito Penitencial (Kyrie)”, onde o negro suplica pela sua dignidade usurpada; “Aleluia”, onde o negro rejubila-se com a sua Ressurreição, anunciada pela palavra de Jesus; “Ofertório”, onde o negro traz seu corpo castigado e o produto do seu trabalho escravo para ser acolhido pelo Senhor; “O Senhor é Santo”, onde o negro dirige os apelos da comunidade a Cristo, o Rei Salvador; “Rito da Paz”, onde o negro faz um paralelo entre a Redenção de seu Povo e a Paz, comunhão de respeito e do trabalho sem escravidão; “Comunhão”, onde o negro comunga com seus irmãos um mesmo ideal de Libertação; “Ladainha”, onde o negro pede a intervenção da mulher humilde que gerou o Rei Salvador, pela causa de seu Povo e a “Marcha Final (de banzo e esperança)”, onde o negro expõe o banzo, a esperança no novo Quilombo que virá. (TEIXEIRA, 1998).
se essas índias andam nuas, assim, ali, aqui, sem que sejam importunadas, a vontade de uma certa religião impera,

e o deus africano abona um sempre anímico desejo de paz :: ninguém entende o bRasil sem compreender

essa vital amizade que impera entre aborígenes, sem apaixonar-se por essa razão precursora-dourada de tudo o que somos,

que se implanta colonialmente como fantasia oxalá sensual de tupã :: a leveza aborígene ama ampliar nosso

horizonte, como perfume e loucura, como profecia não-pronunciável por melhor que seja o bardo lusitano ::

estrofes que são estrondos naturais, poesia-cachoeira, ópio-destilado-com-mandioca, impressão que apressa

os ouvidos mais sagazes do divino panteão :: pó de achados bíblicos, travessas de peixe, comilanças e andanças

do macunaíma santo guerreiro ::  #ditaduranuncamais





há, no clipe de iaRa rennó, a sensação de que sexo torna-se natural, o que ajuda a desfazer entraves que

nos perturbam a libido (como o culto ao corpo perfeito, por exemplo) :: e, sendo destravada a libido, liberam-se

também melhores "transas", melhores relações, no nível mais global da sociabilidade :: #aleluiaamém

sábado, 30 de março de 2019

quem sabe a glória vindoura não demore, ou leve o tempo fatalmente necessário :: bolsonaro é um derrotado, já, não pela esquerda, em sentido

estreito, mas pela cultura brasileira :: poderíamos dizer que a brasilidade vinga nossos anseios, solucionando

ciclos vitais de dominação masculina, ciclos imprescindíveis para setores por sua vez essenciais da sociedade ::

a lentidão dessa processo é que, no lugar de nos impacientar, deveria nos iluminar :: quando a fórmula do rito

da democracia moderna, englobando entretenimento midiático e sufrágio universal, entrou em vigor, o mundo

girava, ardendo em guerra, mas no bRasil rlativamente havia calma e paz :: não somos apenas conhecidos por nossas reservas

naturais, de minério, de água, de fauna e flora :: somos especialmente conhecidos por uma reserva

moral, intelectual e espiritual que aponta para uma espécie de ninho de felicidade humana, nossas horas

passadas junto ao calor de um romantismo carinhoso e agregador, pouco óbvio, mas absolutamente notável :: na verdade,

somos o furor novo da modernidade, com seu jeito hedonista de sonhar o povo :: uma fantasia possivelmente

concreta de dionisismo redentor agrário, mítico, lógico, épico e universalizante :: diante de toda essa carga de informação

espiritual revolucionária, de toda essa antropologia ampla a ser navegada,  o bolsonarismo abrevia um caminho, retrocede,

com sua alma infantil, nas difíceis lições civilizacionais perpetradas desde nosso arraigado antropofagismo :: daí todo

o desespero desse presidente-bunda da república :: abandono e descaso, infelizmente, acentuaram a tragédia da perca da brasilidade ao longo das

duas últimas décadas (talvez um pouco mais), fazendo parecer, aos de menor sagacidade, que nosso país é um atraso,

um erro, quiçá uma atrocidade ::


zicarTola

terça-feira, 26 de março de 2019



Saí da farmácia e fui até o carro buscar umas moedinhas, que eu sabia que estavam por ali, pelo console ou porta-luvas. A senhora do caixa precisava de 35 centavos para não ser obrigada a me trocar uma nota de dez reais.

A vida será sempre assim? Com estranhas janelas, talvez sejam bem mais pequenas frestas, abrindo-se para o lento escoar do tempo mítico?

Pois a minha tem sido. E por isso rolo, de pedra em pedra, cada pedra é uma dificuldade, e vou me rolando, como uma aguinha breve e sinuosa, uma aguinha que já foi, tenho certeza, de algum alvor da juventude, melhor dizendo, da alguma fonte secreta da juventude eterna, quem sabe algum limoeiro sagrado.

Não era nada mais que catar as três ou quatro moedinhas, miúdas, com a ponta mais comprida da unha, atravessar a rua de volta e concluir a compra de esmalte, acetona e cotonetes para meu filho mais jovem, uma caixinha de chá de camomila para minha esposa.

 Mas logo uma água jorrou, da memória mais comprida do mundo, afinal iluminando as quatro moedinhas dispostas sobre a palma de uma das mãos - três moedas de dez centavos, mais uma de cinco.

E a visão perfeita da memória esquisita veio sob a forma de uma pergunta: afinal, ainda existe esse dinheiro miúdo? Certa vez, eu havia lido em algum lugar: "dinheirinho de criança".

Ele ainda existe?

Dinheirinho atemporal, de origem estranhamente vegetal, voador, porque mora longe, na manhã do mundo, quando todas as pretensões são de criança, e não há nenhum sal para comprar ou vender, nenhuma engrenagem, carro, prestação, missa, carro, visita, fofocas, missa, inveja, adultério, dinheiro de verdade.

Nada disso. Nada, nada, nada disso. Apenas a docilidade das manhãs para se acordar e ficar em casa. E, nas relações, irmãos e irmãs que não se desentendem. Adultos que se amam incondicionalmente. Casais que formam outras formas de união, menos arredias ao próprio amor. Lares sem acidentes domésticos entre fortunas do ser ocasionados por micro diferenças de temperamento.

Não. Nada. Nada, nada, nada disso.


Dinheirinho do mundo, pequeno e sensível. E ele ali, na minha mão, simboliza, de um jato, a razão antiga de não se ter nada. A pobreza pessoal em si como arma para o enriquecimento do mundo, pela negação à futilidade e a exaltação aos poderes miraculosos da natureza.

A lógica ela mesma da opção pela propriedade nula, nau conduzida pela correnteza purificadora de Cristo em seu amálgama com outros espíritos missionários do Brasil.

Marcus, o que é isso que reverbera em tua cabeça? O que é isso que diante de teus olhos expande uma roça de milho ou uma chaga negra de escravo aliviada com sabor de temperos e cachaça?

Nessa iluminação, estou de pés descalços, eu e minha esposa, e voamos juntos na direção da liberdade, com a cabeça sonsa, e já bem branca.

Trabalhamos, por sobre fartas ilusões, por sobre o semblante de algum utópica-libertária fantasia feminista. Trabalhamos por sobre espíritos cansados, para que não desanimem.

Trabalho que não cansa, trabalho bom, de mãos amorizantes ultra-românticas, por promoverem o encontro último dos casais, a cozinhação dos maiores devaneios de casal, onde a dor é curado por namoros astrais e literatura de séculos acumulada em chacras invisíveis da natureza.

Ali, o Brasil namora e, a partir dessa açucarada união, erguem-se casas, que serenamente simbolizam a simplicidade, a beleza e a bondade.

Nunca se sabe porque o Brasil é benigno desse jeito, o Brasil na sua oca original, erguida com com o sangue e o suor de uma casa de pau a pique.

Ali, tudo que é bom se espalha e vai alimentar os rios que irrigam nossa vida, em todos os seus aspectos míticos.




XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXxxxxxxxxx

A criança voa com densidade nessas horas, e vem ao meu encontro. A ajeito em um ninho, para não ferir sua plumagem, altamente sensível e portanto suscetível a variações no ambiente, e a mãe dessa criança, uma ave onírica onisciente, que tem na face límpida o mapa das revoluções do mundo, aproxima-se para alimentá-la.

"Ave branca de asas limpas", como escreveu Sílvia em um poema certa vez. Ave abonadora. "Sereno pássaro de Deus". Os rituais de passagem

acrescentar imagem do preto velho, o menos valorizado dos escritores do bRasil, a expoliação do bRasil

de uma chaga eterna voa o dinheirinho, na compulsão pela simplicidade
<>>><>>><>>>>>

hoje, 16 de abril, estive no mercado, e, no caixa, ao jogar uma espécie de "conversa fora" para o caixa, sobre sua coleção de moedas temáticas das olimpíadas, minha memória recorreu novamente à imagem das moedinhas de nenhum valor.

a relação está no momento feliz colhido com o plantio da relação, seu cultivo, um depósito, o dinheirinho representando a sutileza e ao mesmo tempo o contrário da riqueza e da opulência (o valor encontrado nas pequenas coisas), uma noção de que tudo o que é fiapo, ninharia, faz aumentar a riqueza do tempo vivido



que missão poderia nos interessar mais do que ensinar conceitos humanistas (mais à esquerda, mais à direita, não

importa) a essa gente que está atrasada na escola e não compreende os princípio básicos da civilização?
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

ágoRa :: brasil, mito fundador

arte ::



indecentes palavras: quem é a negra ama jesus?

segunda-feira, 25 de março de 2019

reaçõEs fortes


nise da sIlveira :: áGora


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tormEntos pedem reações fortes :: a misoginia bRasileira pensa sem saber no segredo de uma legião de mulheres ::

estão serenas essas mulheres :: estão amantes da sabedoria e da comiseração :: estão amigas da análise antiga

e absurdamente  profunda dos sentimentos :: análises míticas :: análises profundas como são profundos seus angelicais anseios

de amor :: sérias pitonisas :: fortes e histriônicas :: regem desde uma tranquila mas equina sensação as tradições ::

amores régios, amores órficos pela doçura :: amor de acácia ou de inseto :: amor farsesco, amor de novela

das sete :: amores novos a cada nova doença obscura na face de seus perdidos filhos ::




xx<>xx<>xx<>



aniMal :: loBo






xx<>xx<>xx<>   


xx<>xx<>xx<>
"O 'homem-somente-consciência' (...) é apenas um fragmento da totalidade, pois dá a impressão de existir sem ligação com o inconsciente. Entretanto, quanto mais dividido estiver o inconsciente, mais vigorosas serão as formas com que ele se contraporá à consciência; se não for sob a forma de figuras divinas, será sob a forma desfavorável das possessões (obsessões) e dos afetos mórbidos." (Carl G. Jung, "A interpretação psicológica do dogma da trindade", Petrópolis : Vozes, 1983, p. 51) 




sábado, 23 de março de 2019

é provável que cada época formule sua própria religião, a partir da sua pretensão de paz :: como a paz
tem origem na vontade que temos de encerrar a guerra, nossas religiões são formuladas por nossos
desesperos coletivos

artE: volpi



jornaLIsmo :: música poPular gaúchA

sexta-feira, 22 de março de 2019

irerÊ

++ inferno é o outro nome que se dá à falta de alteridade ><

"pode (...) se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar 
no lugar do outro na relação interpessoal" 

<><><><><>++++++<><><><><>

ARte ::




><><>< ><<>> >< <>>

ágoRa :: a política do mito >< barboSa lessa


><><>< ><<>> >< <>>
ave:: irerÊ (dendrocygna viduata)


quinta-feira, 21 de março de 2019

pisaDA bruTA de cabocla

O ninho
Te

Acompanha
E

Tens
Ele

Nos
Pés.


Cocar
Adormecido.

A massa
Estelar

Do
Augúrio.

Nauta
Guerreira.

Olhos
Com

Malícia
Andina.

Máxima
Luz.

O
Negro

Homero
A ninguém

Mais
Canta.


Terás
Enegrescido

O
Cocar,
A coca
Arbórea

Espalhada
Por

Teus
Montes?
Escuto
Revoluções,

Ó
Dona

Negra
Embelezadora

Dos
Cadáveres

Ressurectos.


O
Ninho
Não

Abandonas,
Apesar

De
Devorares

Com
Força

Teus
Filhos.

O samba
Te

Recoloca
Em

Ovos,
Pisada

Bruta
De

Cabocla.
E

Eu
Estremeço.



@/@/-@//-@/@/


religiÃo :: vesTais e áuGures

domingo, 17 de março de 2019

a "cagada" tíPIca dos homEns

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plaNTa ::
heterodermia obscurata
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Composição da comunidade liquênica em floresta ribeirinha na APA do Ibirapuitã, RS, Brasil




>>+++<<<<<<<<<<<   >>+++<<<<<<<<<<<  >>+++<<<<<<<<<<<
>>+++<<<<<<<<<<<

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a lição do golpe em dilMa, da prisão de luLa e da eleição de bolsONaro é - não confiar no masculino :: por quê? :: porque são instintos traiçoeiros, que facilmente

nos enganam :: a sensação que esses instintos nos passam é a de um certa falta de seriedade ::<> :: a masculinidade articula uma busca sem fim por prazer, muito mais que o feminino,

e por isso desespera-se quando pressente que seu ímpeto de gozo, ou virilidade, será barrado ::
a feminilidade sabe esperar, e isso é visível na figura da gestação humana :: o bRasil, enquanto

famosa e eterna nação do futuro, é uma gestação, pois espera pacientemente seus homens pararem
de derrapar na própria falta de autocontrole :: que cachorros! - é precisa gritar e falar sem medo :: que

cachorros são    >>+++<<<<<<<<<<<

esses comandantes do crime, milicianos, políticos disfarçados de cordeiros :: comandam a ópera
dos absurdos! :: deixam toda a nação desprotegida, toda a favela a consumir-sem guerrilhas,

toda a força de nossa exuberante natureza ser torrada e exaurida em troca de luxo e pobrezas de espírito ((grifes e restaurantes

franceses, carrões e iates, montanhas de cocaína e batalhões de garotas de programa)) :: fazem
a "cagada" típica dos homens que, pelas mais diferentes maneiras, perpetuam a sina de lares abandonados

e das crianças sem pai :: fundamentalmente, o problema do bRAsil é uma forte questão de gênero,
a ser amplamente debatida, por toda a sociedadE ::

eis o nova paradigma de luta e civilização, bem mais
que a disputa de classes ::


2@2@ x
/x/x 2@2@

2@2@ x/
x/x 2@2@

2@2@ x/x/x 2@2@


A maldição goethiana: a maior onda de suicídios em massa da história da literatura :: (leiTuraS) ::


 x/x/x 2@ x/
x/x 2@ x/x/x 2@
 x/x/x 2  @ x/x/   x 2@ x/x/     x 2@

arTe ::


segunda-feira, 11 de março de 2019

local :: rio ibirapuitã


arTE ::





poesia se come soletrando, com vagar :: nunca percebi o sentido da poesia sem demorar-me algo mais
sobre a leitura :: sobre duas palavras, uma rua infinita de conhecimentos vem abrir-se, quando
pegamos na letra a partir de um querer dentro de nós, interno, de fuga, de deslocamento a "outro planeta" ::
a leitura poética nos torna mágicos e voadores, como na voracidade de um contato indígena
com seus deusEs :: ><

Resultado de imagem para Elaenia spectabilis


avifauna da árEa de proteção ambiental do ibirapuitã


áGora ::
sebasTianismo e quintO impÉrio

quinta-feira, 7 de março de 2019


planTa :: manjeRona


Resultado de imagem para manjerona


nós profetas da fantasia brasileira
construímos
casas, como jesuítas,
formamos um gado lento, mítico,
sólido e solidário,
amanhecido da beleza plácida
da luz leitosa do beco,
na favela,
na comida básica, no basiquinho,
no armistício da
água farinha básica,
um poquinho de sal,
enrolada em pedacinho de matéria plástica,
em saquinhos ::
vamos mexendo ::
lentamente,
nessa espacialidade concreta
para o olho faminto
do poeta,
nossas penas
transformam-se em lírios
e, na poeira,
também básica,
combinada a sol,
sombra
e brincadeira, o sossegado
rito de voragem
visionária
desaprisiona,
não havendo mais soldados,
ou feitores ::


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"Por mais poderosos que sejam os ritos de purificação, é normal que eles se dirijam a uma matéria capaz de simbolizá-los. A água clara é uma tentação constante para o simbolismo fácil da pureza. Cada homem encontra sem guia, sem convenção social, essa imagem natural." (bAchelard, a água e os sonhos, p. 140)

"Enquanto as formas e os conceitos se esclerosam tão depressa, a imaginação material permanece como uma força atualmente atuante. Só ela pode revitalizar incessantemente a imagens tradicionais, é ela que constantemente reaviva certas velhas formas mitológicas. Reaviva as formas transformando-as por si mesma. É contrário ao seu ser que uma forma se transforme.Quando se encontra uma transformação, pode-se estar certo que uma imaginação material está em ação sob o jogo das formas." (bAchelard, a água e os sonhos, p. 141)


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o mito da democracia moderna, que inclui o amor ao feminino, é o que deve mudar, novamente, exigindo 

a força da imaginação material :: toda a nova especialidade cultural, por meio do respeito às diversas formas

de manifestação, à alteridade (vide os ritos de valorização da cultura popular na internet)


ágoRa :: demoCracia corintiAna

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Era intenso o mundo de amar aquelas forças femininas, um semblante de mulher nua, como se uma multidão de mulheres lhe acompanhasse. Haveria diferença entre o céu angelical das musas e a cidade?



planTa :: aiPo





o projeto literário de erico veríssimo

domingo, 17 de fevereiro de 2019



São pegadas isso que deixo, as boas recordações das horas (o texto a que leva o link diz de pegadas). Pegadas, marcas de mão, aqui estive. Naquelas teorias incríveis, esquisitas (Foucault era esquisito), da linguagem, por elas se pode dizer que houve aqui um investimento de sentido. E a teoria abre-se. Não a teoria, o investimento. Melhor: o vestido de moça da linguagem, para mostrar fantasmas, brumas, eu caminhando pelos corredores-teorias da faculdade de jornalismo, espíritos vorazes me espreitam. Esse tem a carne foda, dizem eles, este é bom para porrada, este é o grande perscrutador das vozes inverossímeis e máximas, maravilhosas, as vozes-abrigo, uma taxa incrível de não truculência, esperando o táxi dos orixás, fazendo caminha na tarde horrorosa com folhas de louro, tentando abrigo nos jacarandás.

A vela pra Santo Antônio, todos os padroeiros máximos dessas caminhas, Machado de Assis, Quintana, o poeta. Velas por meus parentes próximos. Sou santo e padroeiro.De t-o-d-o-s. És foda, Marcus. De todos. Como vais, meu filho (esse meu filho aí)? Como vai sua amizade com automóveis, meu filho? Como vão seus automóveis. E você, meu afilhado, como vai seu fliperama, seu senso protetivo em relação aos jogos? Todas as destinações da cidade, como naquela orientação indígena, de uma grande matriz para as sentenças de vida na cidade pequena ou urbana, quando da vibração mor infinita brotam fios que são almas, e todos esses fios esticam-se como fios de ovos, ou o ponto em fio do açúcar queimado. Todos são almas viventes da grande bacia das almas, paraíso, picumã, brumadinho, cidadezinhas com seus compadres e comadrinhas, delícias ao sol de serem vidas com seus destinos de produzirem postagens tolas ou de pagarem simples boletos bancários. E eu sou o sol. Eu sou o grande Sol, um novo Caio.

Nas nuvens território dessas cidades, eu sou, nelas formosas pegadas penso, o território abrigo de um éter físico-químico, nuvens de bytes e bits.










música ao longe


avE ::

coruja-das-torres (tyto albA)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

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ocorrem, aqui, ali, em determinados buraquinhos generazalidos, nos requisitando, as necessidades de proteção ao lar, ao ambiente estético de cada um, ao bioma mítico

de um totalmente mágico menina ou menino :: a bem dizer, são zilhões de verdades cultiváveis, com base em

potenciais asperezas, aspiradas pelo mito em direção ao maior amor humano :: nessas peripécias, são massas aporéticas biossolúveis,

a serem possuídas pelo amor natural da tremenDa noite  ::


A problemática identitária na Estética do frio,
de Vitor Ramil*
Luciana Wrege Rassier**


arteMísia :: planTA








domingo, 3 de fevereiro de 2019

melhores contos de caio f.


local :: andradas


o poeta é casado com a dor :: são eternas núpcias, que lhe põem em contato com as beiradas do fim deste mundo,
lá onde começa o infinito, o imponderável, a origem de tudo ::




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nelson rOdrigues :: o complexo de viRa-latas

domingo, 20 de janeiro de 2019

artE :: jards macalÉ



ÁGOra :: tamboreirAs de pelotas


não adianta :: a revolução vem pela arte :: estou com quase 50 anos e essa constatação se torna a cada dia mais

e densa e misteriosa :: eu poderia me tornar um nazifascista da arte, impondo às pessoas "mortas", em seus

cotidianos monótonos, a minha constatação de toda uma vida :: mas não é assim que se mexe com as estruturas ::

toda a minha a vida, e a maior parte das pessoas que conheço, de toda uma vida, são mortas para a arte ::

não fazem nada, são monótonas :: vão para o trabalho "sem saber se é ou é ruim", como diria raul :: as monotonias

viram xingamentos, que viram neuroses, que transformam-se em câncer :: e eu, pedante até demais, por me dizer

até demais, que sou artista, e escrever na minha camisa, que sou artista, vou caracterizando uma consciência

altiva, toda pré-escrita pela inconsciente :: por que as pessoas não se abalam daqui para melhor? :: por que

essa "sonseira", essa negligência bovina? :: abre-se o meu desespero :: vou me adaptar artisticamente às tardes

mornas, enquanto pinto meu meio ambiente, para me aliviar de um desespero dos sentidos :: bem acho, ou

melhor, tenho certeza, que a loucura da arte é uma visão privilegiada, para quem tem a coragem de compreender

os meandros da doce e torturante aventura humana :: a arte requer perder o medo pela conquista de novos

sentidos :: estou para daqui até a puta que os pariu :: estou parindo fúrias :: estou todo pintado e pondo

novas coisas, por tudo, parado, quieto, sem que me entenda, apropriando-me das poesias do mundo :: e é como

se eu pisasse em uma nova lua, cheio do mistério, apavorado com o mito do boi em território neonazista,

querendo entender o que, coletivamente, nos transformamos em meio século de história, por medo de uma

nova hiroshima ::


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

domingo, 6 de janeiro de 2019

ágoRa :: gaBriel, guerra do conTEstado


somos um ritual inteiro de m
acumba, a cidade que não se
 vê, nos espelhos,
o ir e vir pela cidade, nos algorítimos cifrados 
dos orixás, telas secretas, programas de 
computador ::




local :: curitibanoS





levo o filho na escola, a blusa manchada de pão :: sinto o gosto da chimia :: está no meu posto pisado
de chão ::

lambo os lábios, é sutil essa diferença, mas, quando somos menininhos, os sonhos renovam-se
com mais facilidade :: havia um fato encerado nas casas postas e limpas :: as vozes e os correrios :: os
anseios, expectativas :: expectativa de vê-los, meus pais, acima de tudo meus ímãs, sua corrente
imantada, meu precipício :: agora lembro que havia um expectativa :: porque estou em triunfo, agora
lembro que estou no rio grande do sul :: a bola lembra, a tarde com mate, e o futebol :: tragam as estolas
da alma farrapa :: os gloriosos dias de festejo, a guerra que travamos longe de nossas mulheres, o espírito
de santo, com suor, cerveja e palavrões, o espicho da vara comprida dos moleques, aprendam a ser homens! ::
o esporte aproxima o livro aberto :: sobre nossas cabeças, uma ilusão :: e como é linda a cultura, mais
ainda o fato de serem os maloqueiros seus grandes mestres :: os maloqueiros são santos, aproximam
seus ouvidos da folia que ninguém ouve :: ninguém soube dos sapatos puídos de garrincha, dos ardores
da cavalhada, dos patriotinhas de ronaldinho, um mestre, a imensidão de neymar,  a placa incrivelmente
sólida da ilusão santista que se eleva pro mar :: eu tinha medo dos maloqueiros, adilson, o grande
maloqueiro da  minha escola, jogava sorrindo, depois morreu porque levou um tiro :: escuta as cordas
de música, vitor ramil, mil dicções para um galanteio :: quando eu pegava a mão de uma menina, apenas em sonhos,
eu era uma mestre :: e a energia "eólica" gerada era suficiente para me elevar por milhões de horas,
suportar o cheiro insuficiente das horas gastas na escola :: porque tudo era tão doce? :: no caso dos adultos,
há uma proteção de cimitarra, e a revolução está em não perceber que somos gatos, felinos que se
esgueiram, sinuosos, por vezes brejeiros, não suportando suportar  os cintos e as fivelas, que nos prendem
às calças, as bordas sinuosas dos sutiãs :: tudo é felino contato, feérico e muito minucioso, escondido ::
estamos civilizados porque a voracidade, do clima de esquenta do desejo, não foi embora, mas mora
escondido :: e como isso me marca, fero açoite :: e como pão com chimia :: muitas
vezes as fivelas se abrem, e o cinto bateu, e a criança apanhou porque o pai apenas foi levado pelo
impulso de ter distribuído o seu líquido inteiro, para a rua do bRAsil inteiro, tamanha a volúpia :: nada disso
a criança chora, pois sua mão e doce, e pertencer ao mundo dos adultos, com seu gosto de cerveja,
e outras vozes amargas, empesta seu ritualzinho de casamento com a maciez de uma forcinha, uma somente
alva e doce amiga :: na solidão da vulva, ele vai se perder, e depois buscar os doces da cidade, contrito
e de ressaca, a cabeça cheia :: somos um ritual inteiro de macumba, a cidade que não se vê, nos espelhos,
o ir e vir pela cidade, nos algorítimos cifrados dos orixás, telas secretas, programas de computador ::
cada palma que se bate é um pandeiro, tamanha mágica do coelho,  na toca de alice, com voz de gal
gosta e a fúria de elis que bate :: eu sou o sonho de rock dessas meninas, e somos esse rito inteiro, da matrix, com bastante pipoca, como frangos, e o ônibus que nos leva,  da zona sul
à zona norte, faz o movimento da ceifa sobre nossas cabeças :: meu tio antônio, um agricultor, figura
do meio, caminho do meio, sigo o coelho, zona norte :: minha mãe não foi uma puta  :: zona sul e zona norte,
e eu leio figurinhas de rock :: terras do mito acampado, eu não ouço a rbs, e as mulheres, com seus rituais
de seriedade invejosa, as unhas, os salões,  nos derrubam do cavalo, com sua inveja calada, trocam
sensações sobre mamilos e esgares em torno da vida doméstica :: eu sou um poço de desilusões ::
eu vou matar o meu marido, secretamente, como secretamente fui ardorosamente só sua :: a força
calada e muda de iemanjá me abateu na subida da serra, e agora eu sou seu criolo malandrão, rapper
do  som :: a estola farrapa me lembra a alma republicana, haverão de sair pequenos milhões de seres,
todos da minha alma mais pura e republicana, o tempo limpo de um novo tempo :: esqueço o embrulhar
do estômago que me proporcionou a jocosidade feminina, seu tempo limpo de estoques de raiva,
trovões, sobremesas cifradas, uma coisa esquisita misturando choques elétricos, tesão e ferros de passar
roupa ::
com xangô fizeram o mesmo :: iemanjá se uniu a iansã e o rei ficou ainda mais forte :: mãe janaina,
saia da janela, toca o sinal que aqui a fome é de negro, é a cor de um olho cego, é grêmio e é inter :: chamo
as crianças pro jantar :: elas vem :: e eu ateio fogo à cidade com a minha fome de bola ((texto de 2016